quinta-feira, 27 de outubro de 2022

PARA NÃO ESQUECER – 27 DE OUTUBRO DE 1964 UNE E UBES SÃO POSTAS NA ILEGALIDADE

 PARA NÃO ESQUECER – 27 DE OUTUBRO DE 1964

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UNE E UBES SÃO POSTAS NA ILEGALIDADE
(Ernesto Germano Parés)
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Em 1937, como já foi comentado em outro artigo, o Brasil mergulhava no Estado Novo de Vargas. No mesmo ano aconteceria o I Congresso Nacional dos Estudantes. Na pauta a discussão de temas políticos e sociais. O encontro foi realizado na Casa do Estudante do Brasil no Rio de Janeiro com apoio do Centro acadêmico Cândido de Oliveira (CACO) da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um fato muito importante para o período: a eleição aponta como presidente Anna Amélia Queirós Carneiro de Mendonça, uma mulher na liderança do movimento.
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Uma parte dos historiadores, no entanto, situa a fundação da UNE apenas durante o II Congresso Nacional dos Estudantes, em 22 de dezembro de 1938. Para espanto de alguns, o patrono oficial era Getúlio Vargas e os trabalhos finais coordenados pelo Ministro da Educação Gustavo Capanema. E tudo mudou, como seria de esperar para a época. O presidente oficial da entidade passaria a ser o gaúcho Valdir Ramos Borges. A principal organização da juventude responsável pela criação da UNE foi a União da Juventude Comunista (UJC).
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Em 1939, a primeira diretoria da UNE passa a coordenar as atividades das organizações estudantis em todo país. No mesmo ano a UNE é despejada da sede da Casa do Estudante do Brasil. Reúne-se o III Conselho Nacional de estudantes que, entre outras medidas, cria a carteira única do estudante.
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Um ano mais tarde, em 1940, a UNE inicia a luta pelo fim do Estado Novo, de Getúlio, e assume de vez uma posição contra o nazifascismo. Inicia uma série de atividades defendendo a ruptura do Brasil com os países do Eixo.
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Em agosto de 1942, quando os trabalhadores ocupam o Palácio do Catete para exigir que Getúlio entrasse na Guerra ao lado dos aliados, os estudantes tomam o prédio onde funcionava o Clube Germânia, na Praia do Flamengo - 132, no Rio de Janeiro. Mais tarde esse prédio passa a ser a nova sede da UNE e é criado o primeiro restaurante estudantil.
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Em 1943, sentindo a pressão popular, Getúlio aumenta a repressão aos movimentos e a UNE promove mobilizações estudantis em todo o país. O Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, localizada no Largo de São Francisco, organiza a Passeata do Silêncio contra Vargas, que acaba em repressão policial, com a morte do estudante Jaime da Silva Teles (09 de novembro).
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Com forte apoio logístico do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (CACO), a UNE realiza, entre outros movimentos, a Campanha Universitária Pró-Bônus da Guerra, Campanha Pró-Banco de Sangue, e o Combate à Quinta Coluna. Há reação do governo Vargas, com a tentativa do Ministro da Educação, Gustavo Capanema, de criar a Juventude Brasileira, na sede da UNE, aparelhando a entidade. Entretanto a portaria é revogada. A UNE patrocina também a Campanha Pró-Aviões, doando três aviões de treinamento.
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No dia 6 de março de 1945 a UNE mobiliza estudantes contra Getúlio Vargas, em comício nas escadarias do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e rompe com o Estado Novo, mas não alcança grande adesão popular. Mas é apenas em 1947 que a UNE toma uma face mais socialista. Os estudantes abraçam a luta do “Petróleo é Nosso” e fazem campanha pela criação da Companhia Siderúrgica Nacional.
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No ano seguinte é criada a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), entidade que congrega e representa todos os estudantes de instituições de ensino fundamental e ensino médio, ensino técnico e ensino pré-vestibular do Brasil. Foi fundada em 25 de julho de 1948 na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro.
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No seu Manifesto original a UBES defende a educação pública gratuita, de qualidade e laica. Mas teve um importante papel nos movimentos de resistência à ditadura Militar, a luta pelo passe-estudantil, pela meia-entrada em atividades culturais, esportivas e sociais, pelo voto facultativo aos 16 anos e contra as guerras.
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Em 1968, uma manifestação no Rio de Janeiro contra o fim de um restaurante popular resultou no assassinato do estudante paraense Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, que virou símbolo da resistência contra a ditadura militar.
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Pelo seu lado, entre 1950 e 1956 a UNE caiu nas mãos de direita e elegeu um grupo de estudantes vinculados à União Democrática Nacional (UDN), que tinha como braço acadêmico a Aliança Libertadora Acadêmica. Retomada para a resistência, em 1956, a UNE realiza campanha contra o aumento da passagem de bondes no Rio de Janeiro, que recebe um grande apoio do movimento sindical. E começa também uma campanha contra as empresas multinacionais que já dominam o panorama econômico brasileiro.
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A UNE cresce e os estudantes se organizam e fundam seus diretórios centrais dos estudantes (DCE) e diretórios acadêmicos (DA). Com a esquerda de novo no poder, a UNE apoiou, em 1961, a campanha da legalidade a favor da posse de João Goulart, e reforçou sua ação no campo da cultura com a criação do Centro Popular de Cultura e da UNE Volante. A UNE debate a reforma universitária no país (por ocasião da discussão do projeto da Lei de Diretrizes e Bases) e realiza, em Salvador, o Seminário Nacional de Reforma Universitária, que resulta na Declaração da Bahia, considerada um dos mais importantes textos programáticos do movimento estudantil brasileiro. São criados o Centro Popular de Cultura (CPC) e a UNE Volante, ambos com o objetivo de promover a conscientização popular através da cultura. Em 1961, a UNE participa da Campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola, pela posse de João Goulart. A entidade transfere provisoriamente sua sede para o Rio Grande do Sul e organiza uma greve de repúdio à tentativa golpista.
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No dia 01 de abril de 1964, por volta das dez e meia da manhã, o golpe militar ainda em andamento e a direita invade a sede da UNE na Praia do Flamengo, 132, destrói o teatro e as salas, e incendeia o prédio.
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No dia 27 de outubro de 1964, pouco depois do Golpe, a Lei Suplicy de Lacerda coloca na ilegalidade a UNE, as UEEs (Uniões Estadual dos Estudantes) e a UBES, que passam a atuar na clandestinidade. Todas as instâncias da representação estudantil ficam submetidas ao MEC. Mas a luta continua e em 1965 a UNE convoca uma greve de mais de sete mil alunos, que paralisa a Universidade de São Paulo (USP).
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VIVA A UNE E TODAS AS ORGANIZAÇÕES ESTUDANTIS!
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DITADURA NUNCA MAIS!
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Nas imagens: 01) UNE na luta contra a ditadura e por mais ensino; 02) UNE luta por ensino público e de qualidade; 03) incêndio no prédio da UNE; 04) símbolo da UBES
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