quarta-feira, 9 de novembro de 2022

PARA NÃO ESQUECER – 05 DE NOVEMBRO DE 1981 * MORRE MARIO PEDROSA

 

PARA NÃO ESQUECER – 05 DE NOVEMBRO DE 1981
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MORRE MARIO PEDROSA
(Ernesto Germano Parés)
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Pessoa admirada por todos e que tinha o dom de fazer amizades com facilidade, Mário Xavier de Andrade Pedrosa nasceu em Timbaúba (PE), no dia 25 de abril de 1900.
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Em 1913 a família o mandou para o Institut Quinche, em Lausanne, Suíça. Permaneceu até 1916 e voltou ao Brasil. Entre 1920 e 1923, estudou Direito no Rio de Janeiro, onde teve seus primeiros contatos com o marxismo. Viveu também em São Paulo onde trabalhou como redator de política internacional no jornal Diário da Noite e produzia artigos de crítica literária. Em 1923, formou-se na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1926.
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Em 1927 foi para São Paulo assumir a direção local da Organização Internacional para Apoio a Revolucionários (Socorro Vermelho), fundada em 1922 pela Internacional Comunista para e prover auxílio moral e material para comunistas que eram presos e/ou perseguidos pelo mundo afora. Nessa época teve seus primeiros contatos com comunistas que se opunham ao stalinismo como Pierre Naville e Marcel Fourrier.
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Foi enviado à União Soviética, em 1927, para fazer um curso na Escola Leninista Internacional, em Moscou. Mas não chegou lá pois uma doença o acometeu na Alemanha, onde resolveu ficar para lutar contra os nazistas. Faz cursos sobre filosofia, estética e sociologia na Universidade de Berlim.
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Mais ou menos nessa época o Comitê Central do Partido Comunista da URSS faz mudanças na tática e na estratégia internacional, trazendo muita oposição. Várias divisões se formam na cúpula do Partido que começa a “isolar” os opositores. Mario Pedrosa estabelece correspondência com Rodolfo Coutinho e Lívio Xavier, que também se opunham às políticas adotadas pela direção do PCB. Torna-se liderança na “Oposição de Esquerda Internacional” no Brasil, organização liderada por Leon Trótski, nos anos 1930. No mesmo período lidera um grupo de crítica de arte moderna brasileira, nos anos 1940.
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Logo após o retorno ao Brasil, foi expulso do PCB por sua ligação com o movimento trotskista.
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Em 21 de Janeiro de 1931, com Lívio Xavier, Fúlvio Abramo, Aristides Lobo e Benjamin Péret fundou a Liga Comunista ligada à Oposição de Esquerda Internacional. Mário Pedrosa representou vários partidos operários da América-Latina no Congresso de Fundação da Quarta Internacional, com o pseudônimo de Lebrun.
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Durante o Estado Novo ele precisou se exilar. Na volta tornou-se crítico de arte do Correio da Manhã e, mais tarde, de O Estado de S. Paulo, Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil e, novamente, do Correio da Manhã. Mas intercalava escritos sobre política na seção opinativa. Não abandonou a militância e conseguiu conciliar com sua atividade jornalística.
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Depois do Golpe Militar foi novamente levado ao exílio. Em julho de 1970, em decorrência da decretação de sua prisão preventiva, refugia-se na Embaixada do Chile, onde aguardou, durante três meses, a expedição de salvo-conduto para viajar para aquele país. Em 1973, depois do golpe contra Salvador Allende, foi para a França.
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Antes do exílio, havia escrito e publicado dois livros: “A Opção Brasileira” e “A Opção Imperialista” onde faz um estudo e análise daquele regime e de suas determinações. Estes se concentram em explicar a situação brasileira contemporânea a partir do capitalismo internacional imperialista e, principalmente pelo papel da economia estadunidense. Analisa o caráter da burguesia brasileira e do capitalismo nacional em sua articulação com o capitalismo internacional para que se entendesse a vida política nacional durante a ditadura militar.
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Voltou em 1977 e passou a defender a criação de um partido socialista. Foi incansável realizando reuniões e encontros com sindicalistas, tentando unificar a esquerda em torno de um projeto socialista para os trabalhadores e, em 1980 participa da fundação do Partido dos Trabalhadores.
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Mais tarde o pensamento crítico de Mário Pedrosa passa a ser objeto de interesse constante, ao contrário de seu pensamento político. Ele costumava dizer que a arte e a política são as duas formas mais elevadas da expressão humana e defendia que a única postura que se possa ter diante delas é a do engajamento militante e crítico como homem, mas sempre preocupado com a plena liberdade da produção artística.
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Mario Pedrosa faleceu no Rio de Janeiro, no dia 05 de novembro de 1981. Tenho certeza de que o companheiro Paulo Skromov terá muito para contribuir com a memória de Mario Pedrosa, mas vou lembrar aqui meu encontro com ele e um momento único para mim.
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Na véspera de nossa viagem a São Paulo, para o lançamento do Partido no Colégio Sion, fizemos uma reunião daquele Diretório Provisório do PT que se reunia na sede do jornal Em Tempo. Aprovamos levar uma carta dos núcleos de base do Rio de Janeiro e os representantes presentes aprovaram uma comissão para, com o Mario Pedrosa, redigir a “Carta”.
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Mas o adiantado da hora fez que muitos não pudesse ir e delegaram a mim e outro companheiro de Niterói para que fossemos com o Mario redigir a mensagem. Chegamos ao seu apartamento e a companheira dele nos ofereceu chá! Eu “doido” por uma pinga, mais de uma hora da manhã, mas beber um chá no apartamento de Mario Pedrosa era algo para não perder! Depois começamos a carta... Melhor dizendo, ele redigiu tudo porque nem eu e nem o companheiro que foi comigo tínhamos coragem de dar palpite. Concordam?
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A carta ficou pronta, ele leu, fez algumas correções, leu novamente e nós concordamos.
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O documento foi lido no palco, durante a solenidade de lançamento do Nosso Partido. E, por muitos anos, pensei que o original escrito no apartamento, às duas da madrugada, tinha se perdido. Mas, no ano passado, para minha surpresa, o companheiro Skromov me disse que estava com ele, em seu arquivo! Fez uma cópia e me enviou. Estou anexando para vocês. Ali vocês vão ver o Núcleo da Ilha do Governador e era eu em um momento inesquecível!
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VIVA O COMPANHEIRO MARIO PEDROSA!
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VIVA O COMPANHEIRO QUE UNIA ARTE E POLÍTICA, COM MUITO AMOR!
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Nas imagens: 01) Mario Pedrosa; 02) Mario Pedrosa assina sua filiação ao PT no Colégio Sion; 03) a famosa carta escrita na madrugada, com a assinatura do Núcleo do PT da Ilha do Governador
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