Olá, Anteontem, quando a imagem do candidato eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, apareceu na tela da televisão, me lembrei de outro domingo. Um domingo em que caminhei solitária por Nova York. Na sexta-feira, 7 de junho de 2019, fui informada vagamente sobre a publicação das primeiras matérias da Vaza Jato. Até aquele momento, o sigilo era grande dentro da própria redação para evitar vazamentos e a exposição desnecessária de colegas que ainda não estavam diretamente envolvidos com a publicação. Saber pouco sobre algo que pode resultar numa batida policial a mando de um ministro da Justiça poderoso e tirano pode ser útil. Fui informada sobre a publicação porque me disseram que no dia seguinte eu pegaria um voo para Nova York. Minha missão: levar na minha mochila preta e cinza uma sacola com dois HDs e um cartão de memória SD. Ali, naqueles drives, estava todo o material que daria origem às reportagens da Vaza Jato. Resguardar aquilo fora do Brasil era uma maneira de proteger nossa pequena redação e também garantir que mesmo que o ex-juiz Sergio Moro, num ato autoritário, conseguisse interromper nosso trabalho, jornalistas de todo o mundo poderiam continuar publicando porque teriam acesso a tudo. Cheguei a Nova York domingo, dia 9, sem saber que as matérias seriam publicadas naquele dia. Estava comendo um sanduíche, ainda muito cansada, quando recebi a primeira reportagem pelo Zap. Foi um espanto, exatamente como foi para você. Passei o resto da noite pensando: "o que vai acontecer agora?". Pensei nas possíveis punições para juízes, procuradores e investigadores. Pensei que prisões injustas poderiam ser revertidas. Pensei, sobretudo, que era hora de a sociedade brasileira acertar suas contas com a Lava Jato. A operação articulou por quatro anos ações absolutamente questionáveis, sem qualquer cobrança pública por isso. A Lava Jato costurou um consenso entre diversos setores da sociedade que poucas vezes vi na vida. Recebeu passe livre do judiciário, contou com o beneplácito da imprensa, ganhou apoio entre políticos, movimentos, pesquisadores, instituições internacionais e até nas igrejas. Naquele domingo, meu pensamento mais recorrente era: "acabou a maré tranquila, a sociedade poderá passar isso a limpo". Os dias, as semanas, os anos se seguiram e aquela série de reportagens deu centenas de frutos. Já falamos deles inúmeras vezes, então não vou me alongar aqui. Quero chamar atenção para um fato especificamente. O confronto que vimos anteontem no segundo turno das eleições presidenciais deveria ter acontecido em 2018. Não aconteceu porque o ex-juiz Sergio Moro trabalhou com firmeza para tirar da disputa um dos candidatos. E só podemos afirmar isso hoje com absoluta certeza porque os diálogos da Vaza Jato expuseram as entranhas do trabalho de Moro naquele outubro. Lembro, apenas a título de exemplo, dos diálogos no grupo de procuradores quando Moro decidiu divulgar a delação de Palocci às vésperas da eleição. "Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele", afirmou a procuradora Laura Tessler. "O melhor é que [Palocci] fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja", acrescentou Antônio Carlos Welter. Eles sabiam que não havia nada ali, mas era hora de ir para o tudo ou nada e eleger seu candidato. QUERO FAZER PARTE →
Anteontem tive a sensação de que um ciclo se fechou. Ao menos para mim. E tive a sensação também de que outro se abriu.
Quando Jair Bolsonaro foi eleito, o Intercept divulgou em vários canais um comunicado que dizia: vamos investigar esse governo todos os dias. O governo ainda não acabou, mas é hora de assumir outro compromisso: a extrema direita precisa ser responsabilizada por tudo que cometeu em quatro anos. Essa história não acabou anteontem. Ela, na verdade, começa agora.
Lá no início de 2019, fizemos um chamado e nossa comunidade respondeu imediatamente. Os resultados foram aparecendo e juntos fizemos história. O convite que quero te fazer hoje é: vamos revelar tudo que a extrema direita brasileira precisa esconder?
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Um abraço, |
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