quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Agência Pública

 

5 vezes em que a Pública foi longe demais em 2022
por Letícia Gouveia

Quando eu decidi que queria ser jornalista, há quatro anos, foi em parte porque eu acreditava que o jornalismo poderia transformar a realidade das pessoas. Com o tempo, eu não deixei de acreditar, mas fui entendendo que mudar o mundo não é tão simples assim. Hoje, me alegra ver que algumas reportagens da Pública contribuíram para mudar, pelo menos um pouco, o país em que vivemos.

Se você tem a sensação de que me conhece de algum lugar, é porque provavelmente já deve ter recebido algum e-mail meu no Programa de Aliados. Como estagiária de comunicação da Pública, além de cuidar do relacionamento com apoiadores como você, eu também monitoro e registro as republicações, repercussões e impactos de todas as reportagens que publicamos. 

Deixa eu explicar rapidinho o que isso significa. Como a Pública é uma agência, todos os nossos conteúdos podem ser republicados de graça em outros meios de comunicação, desde que eles sigam algumas regras. Vários veículos costumam republicar nossas reportagens, como UOL, Folha de S. Paulo, Brasil de Fato, Carta Capital, entre outros. E a gente registra cada uma dessas republicações. 

Nossas matérias também costumam ser usadas como referência em outras reportagens, citadas em apurações de outros veículos ou mencionadas por alguma personalidade. Quando isso acontece, classificamos como uma "repercussão". Por fim, chamamos de "impacto" quando a reportagem provoca alguma ação ou mudança por parte de atores da sociedade.

Registrar e analisar todos esses dados é importante para termos dimensão de como nossas reportagens estão fazendo a diferença Brasil afora. Você vê um pouco disso na seção "Rolou na Pública" das newsletters dos Aliados. Já para a equipe, eu preparo toda semana uma lista de destaques chamada “Agora a Pública foi Longe Demais”. Pelo nome já deu para perceber que essa é uma forma mais descontraída que encontramos para atualizar a equipe sobre onde nossas reportagens estão chegando e o que está sendo falado da Pública por aí. E agora chegou o momento de você saber as 5 vezes em que a Pública foi longe demais em 2022. 

No começo de abril, quando publicamos a reportagem sobre a máquina oculta de propaganda do iFood, lembro muito bem de como esse assunto pautou o debate público durante semanas. A investigação que revelou que o aplicativo contratou agências de publicidade para esvaziar e desmotivar o movimento de entregadores foi muito lida no site, bastante comentada nas redes sociais, repercutida por vários veículos e ainda causou uma série de mudanças reais. Ou seja, foram dias de muito trabalho para mim e para toda a equipe de Comunicação da Pública. 

O caso foi citado na imprensa por veículos como Estadão, Nexo, O Globo, Rede Brasil Atual, TVT, e muitos outros. O tweet com o link da matéria teve milhões de impressões e milhares de curtidas e RT’s no Twitter. A reportagem fez a Pública ficar nos assuntos mais comentados da rede e diversas personalidades comentaram sobre a matéria. 

As pessoas começaram a marcar o iFood e comentar nas publicações da empresa em diferentes redes sociais, criticando as ações que a reportagem revelou. Muita gente chegou a desinstalar o app e incentivar que outros fizessem o mesmo. No Instagram, o Galo, um dos líder do movimento de entregadores, fez uma live em seu perfil. O vídeo de divulgação da reportagem foi uma das postagens mais visualizadas do nosso perfil. Artistas também fizeram charges e ilustrações com o tema. O número de Aliados disparou rapidamente, ainda mais depois que o humorista Gregorio Duvivier ressaltou a importância do jornalismo independente para fazer denúncias como essa e divulgou o Programa de Aliados em um episódio do seu programa, o Greg News. 

E não paramos por aí. O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) contra o iFood e as agências de publicidade contratadas pela empresa. O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) também abriu uma apuração sobre o caso. A vereadora de São Paulo Luana Alves (PSOL) também pediu à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Apps da Câmara Municipal de São Paulo explicações sobre a suposta campanha de desmobilização do iFood. A CPI fez diligência na sede do aplicativo e ouviu as agências denunciadas, que se recusaram a responder perguntas. Nesta semana, a reportagem foi citada no relatório final da CPI, que cobra mais controle sobre a atividade das empresas de aplicativo e pede mais segurança para entregadores e motoristas.

Esses não foram os únicos impactos relevantes que tivemos esse ano. Ainda em abril, também revelamos que o secretário de fomento à cultura, o ex-PM André Porciúncula, prometeu R$1 bilhão da Lei Rouanet para financiar eventos e conteúdos audiovisuais pró-armas. Imagine, dinheiro da cultura sendo usado para fazer propaganda de armas! A revelação foi tão chocante que conseguimos pautar a imprensa nacional sobre o caso. A reportagem foi republicada no UOL, na Carta Capital e no Brasil 247, e repercutida no Jornal Nacional, no jornal O Globo, na Folha de S. Paulo, no Metrópoles e na Globo News. 

Após a repercussão nacional, a jornalista Mônica Bergamo publicou em sua coluna da Folha que o ex-secretário da Cultura Mário Frias e o André Porciuncula tornaram-se alvos de representações junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Tribunal de Contas da União (TCU) a partir de denúncias feitas pela deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ). O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) também apresentou uma ação na Procuradoria da República do DF contra o ex-Secretário de Fomento à Cultura. 

Por mais que eu fique de olho nas repercussões da reportagem, é sempre bom quando os próprios repórteres compartilham os destaques com a gente. Lembro do dia em que uma repórter mandou mensagem avisando que o coronel Homero Cerqueira, ex-presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) havia sido exonerado da diretoria da Confederação Nacional de Mineração (CNMI), grupo que defende “os interesses de milhares de mineradoras pelo país”. Isso aconteceu logo após publicarmos uma reportagem que expunha a contradição de um coronel que havia presidido um dos principais órgãos de conservação ambiental do país estar dirigindo um grupo que representa mineradoras junto a um homem investigado por garimpo ilegal.

Outro caso que merece destaque: em meio à polêmica envolvendo a mineração da Serra do Curral, cartão-postal de Belo Horizonte, revelamos, em maio, que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), nomeou para a presidência do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) a prima do diretor executivo e sócio da empresa que quer minerar a serra, a Taquaril Mineração S/A (Tamisa). O Ministério Público abriu uma notícia de fato para apurar a nomeação. Em sessão na Assembleia Legislativa, ocorrida em julho, a nova presidente do Iepha-MG, Marília Palhares Machado, confirmou o parentesco com diretor executivo da Tamisa, como revelado pela reportagem. A gente avisou. 

Além de cobrir violações de direitos humanos relacionadas à precarização do trabalho, ao meio ambiente e à mineração, a Pública também teve destaque na cobertura das eleições deste ano, mostrando como a desinformação foi usada para tentar influenciar o resultado do pleito. Em outubro, uma reportagem analisou mensagens enviadas no grupo de Telegram “Nova Direita 70 milhões”, com 182 mil membros, pelo criador do grupo, Jackson Villar, o organizador da motociata "Acelera para Cristo" em São Paulo em 2021. Em áudios, o bolsonarista ameaçou agredir eleitores de Lula e quebrar urnas eletrônicas. No dia seguinte à publicação da reportagem, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que dois grupos de Villar que somavam mais de 200 mil participantes deveriam ser excluídos da plataforma por espalhar informações falsas sobre as urnas eletrônicas e incentivar discurso de ódio.
 
Dias depois, o TSE baniu outros dois grupos de Jackson, dessa vez por causa da articulação ilegal em apoio aos bloqueios de estradas por bolsonaristas que começaram a se multiplicar após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas. A publicação da primeira reportagem fez com que nosso editor, Thiago Domenici, sofresse ataques de Jackson e seus apoiadores. Entretanto, fomos fortalecidos por uma rede de organizações e jornalistas que prestaram solidariedade e apoio à Pública em defesa da nossa liberdade de imprensa. 

Aqui na Pública, a gente faz jornalismo investigativo que revela injustiças, abusos de poder, conflitos de interesses e violações de direitos humanos. Não tem como o mundo ficar exatamente do mesmo jeito quando essas histórias são contadas. Por isso que, mesmo nos momentos mais difíceis, a gente segue buscando fazer um jornalismo que causa impacto. Afinal, acreditamos que esse é o papel do jornalismo investigativo de interesse público que nos propusermos a fazer. Se preparem para o ano que vem, porque a Pública nunca quer deixar de ir longe demais.
Letícia Gouveia é Estagiária de Comunicação na Agência Pública

Rolou na Pública
 

A Pública não para! Como mencionado no texto desta newsletter, a reportagem que mostrou o funcionamento da máquina oculta de propaganda do iFood foi citada no relatório final da CPI dos Aplicativos. O documento, aprovado no dia 12 de dezembro em São Paulo, menciona dados revelados pela Pública sobre a jornada de trabalho dos entregadores. Em abril, mostramos uma pesquisa interna do iFood que indicava que 89% dos entregadores tinham as entregas como principal fonte de renda. Além de entrar no relatório, as informações também foram debatidas em uma sessão no plenário porque o iFood havia apresentado valores divergentes aos vereadores. 

No apagar das luzes. O governo Bolsonaro lançou o edital do projeto Poço Transparente, que incentiva o fracking no Brasil. A prática consiste na exploração de reservatórios não convencionais de petróleo e gás por meio de técnicas como o fraturamento hidráulico e já foi banida em diversos países por estar associada a riscos à saúde humana e a impactos socioambientais. A reportagem foi republicada no Outras Palavras e repercutida na Revista Fórum

Mulheres no governo Lula. Em entrevista exclusiva à Pública, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), liderança do grupo de trabalho de mulheres do Gabinete de Transição, resume qual deve ser o eixo de atuação do governo Lula (PT) para assuntos relacionados a gênero e defende um olhar plural para estas questões. A entrevista foi republicada na Carta Capital e no Jornal do Brasil

 

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