PARA NÃO ESQUECER – 15 DE JANEIRO DE 1919
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ASSASSINATO DE ROSA LUXEMBURGO
(Ernesto Germano Parés)
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Rosa foi tema de uma das minhas aulas no curso de marxismo que realizei, com o companheiro Roberto Ponciano. Nascida em março de 1871, foi, sem dúvidas, a mais importante pensadora marxista da história. Pessoa excepcional, comprometida com a luta de classes e o desenvolvimento do pensamento marxista na Alemanha.
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Seu nome era Rozalia Luksenburg, filha de uma família judaica de Zamość, perto de Lublin. A família migrou para Varsóvia quando ela tinha dois anos de idade, em virtude de problemas financeiros. Aos cinco anos de idade, para tratar uma aparente doença dos ossos do quadril, Rosa teve a perna engessada e ficou acamada por um ano. Como resultado, uma de suas pernas cresceu menos do que a outra, o que a fez mancar pelo resto de sua vida.
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Ingressou no ginásio em 1880 e concluiu os estudos em 1887. Curiosamente, apesar das excelentes notas obtidas, não recebeu a tradicional medalha de ouro destinada às melhores alunas. A justificativa da escola foi que ela tinha “atitude rebelde diante das autoridades escolares”.
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Para complicar ainda mais sua aceitação, ainda no ginásio, Rosa entrou para o Partido do Proletariado, que havia sido fundado em 1882 por Ludwik Waryński, antecipando em vinte anos os primeiros partidos socialistas russos. Ela se iniciou na vida política organizando uma greve geral, que resultou na morte de quatro líderes e na dissolução do partido. Apesar disso, Luxemburgo e outros membros do partido que escaparam da prisão continuaram a se encontrar secretamente.
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Em 1889, aos 18 anos, precisou fugir para a Suíça. Havia uma ordem de prisão expedida contra ela. Lá inicia seus estudos na Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique, ao lado de outras personalidades socialistas como Anatoli Lunacharsky e o lituano Leo Jogiches, com quem manteve um longo relacionamento amoroso.
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Luxemburgo continuou a atuar em atividades revolucionárias, enquanto estudava economia política e direito. Obteve doutorado em 1898 com tese intitulada “O desenvolvimento industrial da Polônia”.
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Em 1915, quando o SPD, partido de que fazia parte, resolve apoiar a participação alemã na Primeira Guerra Mundial, Rosa e Karl Liebknecht abandonam o partido para fundar a Liga Espartaquista. Quatro anos mais tarde a Liga se transformava no KPD (Partido Comunista da Alemanha). Em novembro de 1918, durante a Revolução Espartaquista, ela fundou o jornal Die Rote Fahne (A Bandeira Vermelha) através do qual divulgava suas ideias, suas análises e contribuía para a organização dos trabalhadores.
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Uma característica que marca o trabalho de Rosa é o seu posicionamento em relação ao cristianismo. Ela chegou a escrever uma pequena obra, quase desconhecida, intitulada “O Socialismo e as Igrejas”. Ali, embora mantivesse sua posição de ateísmo, atacou menos a religião enquanto tal e mais a política reacionária da Igreja. Nessa obra afirmou que os socialistas eram mais fiéis aos preceitos originais do cristianismo do que o clero conservador da época, pois os socialistas lutavam por uma ordem social de igualdade, liberdade e fraternidade, e, portanto, os padres deveriam acolher favoravelmente o socialismo, se quisessem honestamente aplicar o preceito cristão de “amar o próximo, como a si mesmo”.
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Além disso, denunciava o clero que apoiava os ricos, que exploram e oprimem os pobres, afirmando que ele estaria em contradição explícita com os ensinamentos cristãos, tal clero não serviria a Cristo, mas ao dinheiro. Segundo Rosa, os primeiros cristãos seriam comunistas apaixonados e denunciavam a injustiça social. Entretanto, essa causa seria, em sua época, do movimento socialista que traria aos pobres o Evangelho da fraternidade e da igualdade, chamando o povo para estabelecer na terra o Reino da liberdade e do amor pelo próximo.
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Na inauguração da II Internacional dos Trabalhadores Engels ainda estava vivo. Duas correntes principais disputam a direção do movimento: a) a corrente de Eduard Bernstein (1850-1932), que defendia a total revisão do marxismo para adaptá-lo à nova realidade e alcançar reformas sociais. Sua palavra de ordem é: o movimento é tudo, o objetivo final, nada. Rejeitava a luta pelo socialismo. A principal publicação dos defensores de Bernstein era a revista Robótcheie Dielo (Causa Operária) que defendia o economicismo; b) a corrente Marxista-Revolucionária, sob a liderança de V.I. Lenin, Rosa Luxemburgo e Plekanov que defendiam a renovação dentro do marxismo, tendo um caráter revolucionário. Este grupo defendia a unidade dos trabalhadores para fazer frente ao fantasma da Guerra que se aproximava. Lenin adverte para os avanços do Imperialismo e para os prejuízos que a Guerra traria ao movimento operário.
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Rosa e Lenin começam a alertar os operários sobre a guerra imperialista que se aproximava e a necessidade de transformá-la, se chegasse, em uma guerra revolucionária. O discurso era de levar os trabalhadores a fazerem todo o possível para que não houvesse a guerra, mas, se acontecesse, deveria levar a classe à revolução.
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Por suas atuações e seus discursos contra a guerra, foi decretada a sua prisão pelo governo alemão. Ainda assim continua denunciando a guerra e escreve, em 1914, um dos mais belos discursos contra a guerra que já vi na vida: o “Folheto Junius”, usando pseudônimo. Está disponível na Internet, é curto e eu recomendo a leitura nos tempos em que vivemos.
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Foi presa pela polícia alemã e ficou na prisão, em Berlim, de julho de 1916 a novembro de 1918. Da prisão, não parou de trabalhar e escreveu várias de suas obras.
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Libertada no dia 09 de novembro de 1918, voltou à ativa e com Karl Liebkneck começou a editar o jornal “Bandeira Vermelha”.
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Os dois foram presos, em 15 de janeiro de 1919. Retirados à força por soldados alemães, foram jogados em uma carruagem e assassinados. Os corpos foram jogados em um rio que congelava durante o inverno e só foram encontrados no verão seguinte.
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Morria Rosa Luxemburgo, a mais Vermelha de todas as Rosas!
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Para as minhas companheiras aqui o Face, deixo um dos seus pensamentos mais bonitos:
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“Quem é feminista e não é de esquerda, carece de estratégia
Quem é de esquerda e não é feminista, carece de profundidade”!
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ROSA LUXEMBURGO VIVE!
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Nas imagens: 01) Rosa Luxemburgo; 02) Rosa Luxemburgo discursando para operários; 03) Rosa e Karl Liebkneck
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