PARA NÃO ESQUECER – 20 DE JANEIRO DE 1923
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NASCE JACOB GORENDER
(Ernesto Germano Parés)
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Filho de um judeu ucraniano chamado Nathan Gorender, socialista e antissionista, Jacob Gorender viveu sua infância nos cortiços de Salvador. Estudou o ginásio e o preparatório no Ginásio da Bahia, entre 1933 e 1940, ingressando na Faculdade de Direito de Salvador em 1941.
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Muito cedo ele entra para o movimento estudantil e, pouco depois, para o Partido Comunista Brasileiro, na Bahia. Logo abandonou o curso de direito e alistou-se na Força Expedicionária Brasileira (FEB), indo lutar na Itália no final da Segunda Guerra. Lutou em batalhas como a de Monte Castelo.
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De volta ao Brasil após a guerra, desloca-se a São Paulo e depois ao Rio de Janeiro e a partir daí passa a atuar organicamente na imprensa do partido, tornando-se um dos seus principais intelectuais, assumindo funções diretivas até a ascensão ao comitê central, em 1960. Entre os anos de 1955 e 1957 frequenta o curso de formação de quadros do PCUS, em Moscou, consolidando sua formação intelectual nos marcos da tradição stalinista. Como fruto deste processo, integra a comissão que elaborou a famosa Declaração de Março de 1958, que fundamenta programaticamente a estratégia reformista de aliança com as forças ditas “progressistas”, inclusive a burguesia nacional, em favor de uma revolução nacional e democrática de perfil anti-imperialista e anti-latifundiário.
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Após o golpe de Estado em 1964, foi expulso pela direção do PCB em 1967. O partido havia adotado a posição de resistir apenas dentro da legalidade e que não houvesse confronto com a repressão ou com o sistema.
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Com Mari Alves e Apolônio de Carvalho ele vai fundar o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Foi preso e barbaramente torturado. Mas, ao sair da prisão, volta à ativa dedicando-se às pesquisas sobre a formação social brasileira. Entre seus trabalhos se destacam “A burguesia brasileira”, de 1981, e “Combates nas trevas”, de 1987.
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Mas a sua obra mais considerada foi a tese "O Escravismo Colonial", de 1978. Uma obra que abre caminhos para um riquíssimo debate sobre o caráter do passado do Brasil - feudalismo versus capitalismo. Ele apresenta teoria para a compreensão da história colonial e imperial brasileira baseado na apresentação de modo de produção historicamente novo, a saber, o escravismo colonial. Mas há um “detalhe” que torna a obra ainda mais importante: a maior parte do trabalho foi escrita quando estava no cárcere, no Presídio Tiradentes!
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Em uma conferência realizada em 19 de maio de 1993, sobre a “Atualidade de O Capital”, diz Jacob Gorender:
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“A minha conferência hoje é o início de um ciclo. Ninguém aqui deve esperar que eu ofereça um painel completo de uma obra como O Capital (…) Hoje pretendo apresentar um quadro geral dessa obra de Karl Marx, referir-me à sua atualidade e chamar a atenção para algumas questões que dizem respeito exatamente ao seu caráter geral. Os aspectos mais particulares, as muitas contribuições especiais dessa obra ficarão a cargo dos conferencistas seguintes”.
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“Falarmos na atualidade de O Capital, porventura, uma arrogância depois dos desmoronamentos dos regimes do Leste Europeu que se diziam baseados na teoria marxista, tanto em Marx, quanto em seus principais seguidores, particularmente em Lenin (daí ter se criado o termo marxismo-leninismo)? Ou depois do sucedido nesses países e do fato de que, em todos eles ou na grande maioria, se faz um esforço enorme para a implantação do capitalismo? Como então afirmar que a obra de Marx tem atualidade? Não será ela uma obra ultrapassada, que os fatos desmentiram e, com isso, merece a atenção apenas dos eruditos como um capítulo encerrado na história das ideias? Será isso? Obviamente, a ofensiva do neoliberalismo, tanto prática como teórica e ideologicamente, desde os fins dos anos 70, quer fazer com que acreditemos na falência do marxismo. E o que sucedeu nesses últimos anos, com o esfacelamento dos regimes dirigidos pelos partidos comunistas do Leste Europeu e a dissolução da própria União Soviética, parece confirmar o prognóstico do neoliberalismo. Quero frisar, aqui, que me refiro precisamente ao neoliberalismo e não ao liberalismo do século XVIII. Embora um provenha do outro, eles pertencem a épocas muito diferentes e têm sinais diferentes”.
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Gorender foi reconhecido com o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e passou a atuar como professor visitante no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
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Três depoimentos sobre Jacob Gorender:
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“Gorender descreveu e questionou práticas problemáticas das organizações da luta armada, como o justiçamento de militantes. Ao abrir esse debate, provocou uma consideração mais complexa sobre as esquerdas.”, James Green, historiador brasilianista da Universidade Brown.
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“Nós nos conhecemos presos no Dops, em São Paulo. Ele estava convalescente de torturas e foi conselheiro importante num momento crucial na minha vida”, Dilma Rousseff.
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“Gorender tem importância tanto pela trajetória, que acompanha o Brasil desde os anos 1940, quanto por morrer falando, sem medo de uma posição crítica.”, Maria Aparecida de Aquino, professora de História da USP.
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Jacob Gorender faleceu em São Paulo, no dia 11 de junho de 2013.
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VIVA JACOB GORENDER!
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NOSSO RESPEITO E ADMIRAÇÃO A TODOS OS COMPANHEIROS QUE LUTARAM!
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