Paul Craig Roberts*
No meu último artigo, realcei o facto de
que é importante para os cidadãos norte-americanos exigir saber quais são as
verdadeiras agendas por detrás das guerras que os regimes de Bush e Obama
escolheram. Estas são grandes guerras de longa duração, cada uma com duração
duas ou três vezes superior à 2ª Guerra Mundial.
A revista Forbes reporta que um milhão
de soldados dos EUA tenham sido feridos nas guerras do Iraque e do Afeganistão.
O Russia Today afirma que o custo de
manter cada soldado dos EUA no Afeganistão subiu de 1,3 milhões de dólares por
soldado para 2,1 milhões de dólares.
Matthew J. Nasuti relata, no Kabul
Press, que matar um soldado talibã custa aos contribuintes norte-americanos 50
milhões de dólares. Isso significa que custaria 1 bilhão de dólares matar 20
guerrilheiros talibã. Esta é uma guerra que apenas pode ser ganha a custo da
total falência dos EUA.
Joseph Stiglitz e Linda Bilmes estimaram
que os atuais custos diretos e futuros já incorridos das guerras do Iraque e do
Afeganistão é de pelo menos 6 trilhões de dólares. Em outras palavras, é o
custo destas duas guerras que explica a explosão da dívida pública dos EUA e os
problemas econômicos e políticos associados a esta enorme dívida.
O que ganharam os EUA em troca de 6
trilhões de dólares e um milhão de soldados feridos, muitos com gravidade?
No Iraque existe atualmente um regime
islâmico xiita aliado com o Irã, no lugar de um regime secular sunita que era
inimigo do Irã, tão ditatorial um quanto o outro, a presidir os destroços da
guerra, violência contínua em níveis tão elevados como aquando da tentativa de
ocupação pelos EUA, e malformações congênitas extraordinárias com origem nas
substâncias tóxicas associadas à invasão e ocupação dos EUA.
No Afeganistão estão os Talibãs, que
nunca foram vencidos e se revelam aparentemente invencíveis, e um tráfico de
droga restabelecido que está a inundar o mercado ocidental de drogas.
A cereja no topo do bolo destes
“sucessos” de Bush e Obama são as exigências, vindas de todas as partes do
mundo, de que os norte-americanos e o antigo primeiro-ministro britânico Tony
Blair respondam pelos seus crimes de guerra. Certamente, a reputação de
Washington caiu como resultado destas duas guerras. Nenhum governo em parte
alguma é suficientemente ingênuo para acreditar em seja o que for que
Washington afirme.
Isto representa custos muitíssimo
elevados para guerras para as quais não temos explicação. Os regimes de Bush e
Obama criaram várias reportagens de capa: “Guerra ao terror”, “Temos de acabar
com eles por lá antes que eles cheguem aqui”, “Armas de destruição massiva”, “A
vingança pelo 11 de setembro”, “Osama Bin Laden” (que morreu dos seus problemas
de saúde em dezembro de 2001 como foi amplamente divulgado na época).
Nenhuma destas explicações é plausível.
Nem os Talibãs nem Saddam Hussein se envolveram em atividades terroristas nos
EUA. Tal como os inspetores de armas informaram o regime de Bush, não havia
armas de destruição massiva no Iraque. Ao invadir países muçulmanos e massacrar
inocentes, provavelmente se criam mais terroristas do que se elimina. De acordo
com a versão oficial, os sequestradores dos voos do 11 de Setembro e Osama Bin
Laden eram sauditas, não afegãos ou iraquianos. No entanto, não foi a Arábia
Saudita que foi invadida.
Democracia e governo que respondam pelos
seus atos são coisas que simplesmente não existem quando o poder executivo leva
um país para guerras em nome de agendas secretas, a pretexto de reportagens de
capa que constituem claras mentiras.
É igualmente importante colocar estas
mesmas questões na agenda do estado policial norte-americano. Porque retiraram
Bush e Obama a proteção da lei sobre as pessoas e a tornaram numa arma nas mãos
do poder executivo? Como podem estar os norte-americanos mais seguros mediante a
remoção das suas liberdades civis? A detenção por tempo indeterminado e a
execução, sem o devido julgamento, são as marcas de um estado tirânico. É
terrorismo e não uma proteção contra ele. Por que razão cada comunicação de
cada norte-americano e aparentemente as comunicações da maioria das pessoas no
mundo, incluindo os mais fiáveis aliados europeus de Washington, estão sujeitos
a serem interceptados e guardados numa gigantesca base de dados dum estado
policial? De que modo é que isto protege os norte-americanos dos terroristas?
Por que razão precisa Washington de
atacar a liberdade de imprensa e de expressão, fazer tábua rasa da legislação
que protege os denunciantes como Bradley Manning e Edward Snowden, criminalizar
a dissidência e os protestos e ameaçar jornalistas como Julian Assenge, Glenn
Greenwald, e o repórter da Fox News James Rosen?
De que modo é que manter os cidadãos na
ignorância dos crimes do seu governo deixa os cidadãos a salvo dos terroristas?
Estas perseguições a denunciantes nada
têm a ver com a “segurança nacional” e com “manter os norte-americanos a salvo
de terroristas”. O único propósito destas perseguições é proteger o poder
executivo da revelação dos seus crimes. Alguns dos crimes de Washington são tão
horrendos que o Tribunal Internacional emitiria uma sentença de morte caso os
culpados pudessem ser levados a tribunal. Um governo que destrói as proteções
constitucionais à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa de modo a
evitar que os seus crimes sejam revelados é uma tirania.
Hesitamos em colocar estas questões e
fazer até mesmo as mais óbvias observações por medo não só de sermos colocados
numa lista de vigilância e apanhados numa qualquer acusação, mas também de que
essas questões provoquem um ataque com uma falsa bandeira, ou que estas sejam
usadas para justificar o estado policial que se instalou.
Talvez tenha sido este o caso dos
atentados bombistas da Maratona de Boston. As provas da culpa dos dois irmãos
foram relegadas para segundo plano relativamente às pretensões do governo. Não
há nada de novo no fato do governo arranjar bodes expiatórios. O que é novo e
sem precedentes é o bloqueio de Boston e dos seus subúrbios, o aparecimento de
10 mil tropas fortemente armadas e tanques a patrulharem as ruas e a revistarem
sem mandato casas particulares, tudo em nome da proteção da população de um jovem
de 19 anos ferido. Não apenas isto nunca aconteceu antes nos EUA, como também
não poderia ser organizado em cima do momento. Tinha que ser algo já preparado
para o evento. Foi um teste para o que há por vir.
Os norte-americanos mais incautos, em
especial os mais ingénuos conservadores legalistas e ordeiros, não fazem ideia
da militarização até mesmo da sua polícia local. Eu vi forças da polícia local
treinarem em clubes de armas. A polícia é treinada para disparar primeiro não
uma, mas muitas vezes, para proteger primeiro as suas vidas a todo o custo e
não arriscar a vida fazendo perguntas. É por esta razão que o garoto de 13 anos
com a arma de brincar foi feito em pedaços. Fazer perguntas teria levado a
perceber que se tratava de um brinquedo, mas questionar o “suspeito” poderia
pôr em perigo a valiosa polícia que é treinada para não correr quaisquer
riscos.
A polícia atua de acordo com o poder
assassino da presidência de Obama: mata primeiro e depois acusa a vítima.
Por outras palavras, caro cidadão
americano, a sua vida nada vale, a polícia que você paga não apenas não pode
ser responsabilizada, mas a vida de cada polícia é inestimável. Se você for
assassinado no cumprimento do dever da polícia, isso não é grande problema. Mas
não pense em ferir um agente da polícia num ato de autodefesa. Quem pensa que
é? Uma espécie de americano mítico livre e com direitos?
*Roberts é graduado no Instituto de
Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, pós-graduação na
Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford
University.
http://www.odiario.info/?p=3094
Nenhum comentário:
Postar um comentário