quinta-feira, 19 de março de 2015

Começa oficialmente a nova guerra fria

COMEÇA OFICIALMENTE A NOVA GUERRA FRIA
Antônio Ribeiro Ferreira
Putin convidou os líderes da China, Irã, Egito, Coreia do Norte, Venezuela, Turquia e Grécia para assistirem ao 70º aniversário do fim da II Guerra Mundial. O Ocidente fica de fora, com a OTAN dividida.
O divórcio oficial entre a Rússia e os seus aliados, por um lado, e o bloco ocidental, por outro, vai acontecer em Moscou, no dia 9 de Maio. As comemorações do 70.º aniversário do fim da II Guerra Mundial marcarão o princípio de uma nova ordem mundial. Ao lado de Putin estarão o presidente da China, Xi Jinping; do Irã, Ali Khamenei; do Egito, marechal Sisi; da Coreia do Norte, Kim Jong-un; da Venezuela, Nicolas Maduro; da Turquia, Erdogan; e da Grécia, Tsipras, entre outros líderes de países, como a Bielorrússia, que sempre estiveram ao lado de Moscou nos bons e maus momentos.
Obama, Merkel, Hollande, Cameron e tantos outros vão ficar de fora, com a OTAN a ver dois dos seus membros ao lado de Putin. A Guerra Fria do século XXI vai, assim, começar oficialmente, muito embora as relações entre o Leste e Oeste nunca tenham sido felizes e muito menos amistosas.
As humilhações russas
Basicamente, a paz durou pouco tempo e só existiu verdadeiramente na última década do século XX, com a Rússia de gatas depois do fim da Guerra Fria e da queda da União Soviética. Com Boris Ieltsin ao leme, Moscou viveu tempos difíceis e teve de sofrer várias humilhações de um Ocidente arrogante com a vitória alcançada. A mais grave aconteceu em 1999, quando a OTAN, leia-se os Estados Unidos, declarou guerra à Sérvia por causa da ocupação do Kosovo. Belgrado era então o único aliado de Moscou nos Balcãs e umas semanas de bombardeamentos chegaram para pôr fim ao regime pró-Rússia de Milosevic. A Rússia engoliu a humilhação e Boris Ieltsin passou o comando do Kremlin ao desconhecido Vladimir Putin.
Iludidos com o novo líder, os vencedores ocidentais voltaram ao ataque e levaram a Geórgia a tentar recuperar a Ossétia do Sul e a Abecásia. O conflito começou em Agosto de 2008, quando tropas da Geórgia avançaram, decididas, para a Abecásia. Tudo acabou em Outubro. Putin, já líder incontestado da Rússia, enviou as suas tropas e obrigou os georgianos a recuar de forma desordenada. Só então o Ocidente percebeu que tudo era diferente e que a velha Rússia estava de volta.
Ofensiva da OTAN
Mas antes da ofensiva da Geórgia, a OTAN e os Estados Unidos avançaram decididos para leste e integraram em 2004, na Aliança Atlântica, os três países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia – e a Polônia. A Rússia ficava com quatro países integrantes do velho inimigo junto à sua fronteira.
Ucrânia, o espaço vital
Em 2014, quatorze anos depois da chegada de Putin ao poder, nova ofensiva ocidental, desta vez na sensível Ucrânia, velha relíquia da Rússia dos czares e da União Soviética, que só conheceu a independência em 1991. Evidentemente que a Ucrânia sempre foi uma região disputada por russos e alemães. Hitler definiu-a como o espaço vital alemão e Stalin pensava exatamente da mesma maneira.
Em 2014 surgiu a oportunidade, há muito esperada pelo Ocidente, de por o pé na Ucrânia. E foi assim que, a reboque da Alemanha de Merkel, a União Europeia tentou o presidente pró-russo Yanukovitch a assinar um acordo de parceria muito aplaudido pelos ucranianos do Oeste. Putin chamou Yanukovitch a Moscou e o sugeriu a assinar uma parceria com a Rússia.
Os protestos na Praça Maidan, em Kiev, subiram de tom, alimentados por forças nacionalistas e fascistas. O massacre de dezenas de manifestantes em Fevereiro, crime que ainda hoje não está esclarecido, fez cair Yanukovitch.
Na madrugada de 23 de Fevereiro, Putin tomou duas decisões: salvar o seu aliado ucraniano e trazer a Crimeia de volta à Rússia. E decidiu também criar uma zona de segurança junto à fronteira com a Ucrânia, que sonha agora integrar a OTAN. Com a Crimeia anexada e as regiões de Donetsk e Lugansk controladas, Putin garante o acesso ao mar Negro e ao oceano Atlântico e protege a sua fronteira dos avanços da OTAN.
A aliança com a China
A posição russa face ao Ocidente é, nesta fase do conflito, defensiva. Moscou quer uma nova ordem na Europa, com novos acordos sobre segurança e armas convencionais, e responde à ofensiva ocidental com alianças estratégicas que podem alterar rapidamente as relações de força no mundo. A mais importante é com Pequim. Não é apenas uma parceria energética; é uma aliança militar e política em que os dois países estão juntos em todos os teatros internacionais. Mas se Moscou se voltou para a Ásia, também não esqueceu o Oriente Médio. Além do Irã e da Síria, a Rússia voltou a ter no Cairo um amigo.
O mundo está mudando. E a Guerra Fria está de volta.
www.revistaforum.com.br 18/03/2015

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