Num gesto inusitado, o presidente Barack
Obama anunciou nesta quarta (24/5) mudanças na embaixada ianque no Brasil. A
sinistra Liliane Ayalde, que ocupava o cargo nevrálgico desde 2014, será
substituída pelo diplomata Peter McKinley. Seu nome ainda será submetido ao
Senado dos EUA, mas já recebeu, no mesmo dia, o agrément (anuência formal) do
governo brasileiro – agora sob comando do subserviente “chanceler” José Serra.
Altamiro Borges
O novo embaixador tem 62 anos e conhece
bem a realidade da América Latina. Filho de estadunidenses, ele nasceu na
Venezuela, fala português e espanhol com fluência e já atuou em vários países
da região, sempre defendendo os interesses políticos e econômicos do império.
Segundo notinha publicada na Folha,
jornal colonizado que padece do grave complexo de vira-lata, “McKinley é
considerado no Departamento de Estado um diplomata experiente e talentoso – e,
segundo várias fontes, uma escolha de peso. O fato de ter sido embaixador no
Afeganistão, um país em guerra, é citado como prova de competência... Seu
primeiro posto no exterior foi na Bolívia, onde trabalhou no setor consular. De
volta a Washington, continuou trabalhando com temas latino-americanos, como
pesquisador e analista de inteligência com foco em El Salvador e Cuba. Em
seguida foi chefe do departamento que cuida de Angola e Namíbia e depois
assistente especial para a África”.
Ainda são desconhecidos os motivos que
levaram à inesperada troca na embaixada dos EUA no Brasil. Chama atenção,
porém, que nos últimos meses cresceram as críticas à atuação da “diplomata”
Liliane Ayalde. Ela foi acusada por vários especialistas em relações exteriores
de participar, nos bastidores, do complô que resultou no impeachment da presidenta
Dilma Rousseff. Jornalistas e estudiosos de tema lembraram que Liliane Ayalde
sempre foi destacada para desempenhar as suas funções em países “hostis” à
politica imperialista dos EUA. Agora, concluída a sua missão desestabilizadora,
ela deixa o Brasil sem maior alarde ou questionamentos.
Em artigo publicado neste blog em
setembro de 2013, os temores sobre a atuação da “diplomata” já tinham sido
apontados: "Além de chegar ao país em meio ao escândalo da arapongagem da
Agência de Segurança Nacional (NSA), Liliana Ayalde também traz inúmeras
suspeitas em sua própria biografia. Há quem garanta que a nova embaixadora é,
na verdade, uma “espiã” do império. Durante 24 anos, ela trabalhou na USAID – a
agência ianque de “ajuda internacional”, acusada de ser um dos principais
braços da famigerada CIA e de servir de fachada para operações de espionagem e
corrupção. Este organismo teve ativa presença no Brasil no sombrio período da
ditadura militar, financiando vários projetos de “cooperação”. Em abril passado,
o governo de Evo Morales expulsou os agentes da USAID da Bolívia, acusando-os
de ingerência política".
"Liliana Ayalde substitui o
embaixador Thomas Shannon, que ficou no posto três anos e meio e deixou
Brasília no início de setembro. A substituição já estava prevista há três
meses. Diplomata de carreira, Ayalde serviu aos EUA na Nicarágua (1997-1999),
Bolívia (1999-2005), Colômbia (2005-2008) e Paraguai (2008-2011) – nações com
fortes tensões políticas e que despertam enorme cobiça do império. Antes de desembarcar
no Brasil, ela exercia o cargo de secretária assistente adjunta para a América
Latina do Departamento de Estado dos EUA, chefiado pela sionista Roberta
Jacobson... Diante desta sinistra biografia, o governo brasileiro deve ficar de
olho bem aberto para acompanhar os passos da “nova embaixadora”. Os EUA já
demonstraram do que são capazes para defender os seus interesses
imperiais", concluía o artigo.
Ainda sobre a ação desestabilizadora da
embaixadora agora substituída vale conferir o artigo de Caco Schmitt, postado
no final de abril no blog RS-Urgente:
O
golpe e a embaixadora dos EUA
“O controle político da Suprema Corte é
crucial para garantir impunidade dos crimes cometidos por políticos hábeis. Ter
amigos na Suprema Corte é ouro puro”.
A afirmação não é de agora e nem de quem
critica o STF por não prender o Cunha, por enrolar a posse do Lula etc. Foi
feita há cinco anos pela pessoa que hoje é a embaixadora dos Estados Unidos no
Brasil, Liliana Ayalde. A diplomata exercia o cargo de embaixadora no Paraguai
(de 2008 a 2011) quando se reportou ao governo norte-americano, relatando a
situação do país. Ela deixou o cargo poucos meses antes do golpe que destituiu
o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, mas deixou o caminho azeitado. Aqui no
Brasil, no cargo desde outubro de 2013, esta personagem é cercada de mistérios
e sua vinda pra cá, logo após o golpe parlamentar paraguaio, não foi gratuita.
Liliana Ayalde assumiu seu posto no
Brasil cinco meses antes da Operação Lava-Jato começar a fase quente. Chegou
discretamente, sem entrevistas coletivas, em meio à crise provocada pela
denúncia do Wikleaks de que os norte-americanos espionavam a presidenta Dilma,
o governo brasileiro e a Petrobras. Segundo Edward Snowden, “A comunidade de
espionagem dos USA e a embaixada norte-americana têm espionado o Brasil nos
últimos anos como nenhum outro país na América Latina. Em 2013 o Brasil foi o
país mais espionado do mundo”, afirmou o ex-funcionário da CIA e ex-contratista
da NSA.
A mídia brasileira, por óbvio, já
preparando o golpe, de modo totalmente impatriótico, não divulgou para o povo
brasileiro. E escondeu a grave denúncia de Snowden, que afirmou: “NSA e CIA
mantiveram em Brasília equipe para coleta de dados filtrados de satélite.
Brasília fez parte da rede de 16 bases dedicadas a programa de coleta de
informações desde a presidente Dilma, seus funcionários, a Petrobras até os
mais comuns cidadãos, foram controlados de perto pelos Estados Unidos”.
Liliana Ayalde veio ao Brasil comandar a
embaixada de um país que fortalecia o bloco chamado BRICS (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul), contrário aos interesses do grande capital
norte-americano; e de um país que exerce forte influência sobre os países
sul-americanos com governos populares, todos contrários aos interesses
militares dos Estados Unidos na América do Sul. A vinda da embaixadora pode ser
mera coincidência?
Não. Segundo informações oficiais da
própria Embaixada norte-americana, Ayalde chegou ao Brasil com 30 anos de
experiência no serviço diplomático. Trabalhou na Guatemala, Nicarágua, Bolívia,
Colômbia e, recentemente, como subsecretária de Estado adjunta para Assuntos do
Hemisfério Ocidental, com responsabilidade pela supervisão das relações
bilaterais dos Estados Unidos com Cuba, América Central e Caribe. Anteriormente
serviu como vice-administradora sênior adjunta da USAID no Bureau para América
Latina e Caribe. Entre 2008 e 2011 ela serviu como embaixadora dos Estados
Unidos no Paraguai”. Ou seja: sabe tudo de América Latina…
As
“pegadas” reveladas
Na internet encontramos vários textos e
análises feitas depois do golpe no Paraguai de 2012 que hoje ficam mais claros
e elucidam os fatos. Vejam o que escreveu o jornalista AleryCorrêa , no Brasil
em 5 Minutos: “O golpe de Estado contra Fernando Lugo, presidente
paraguaio, começou a ser orquestrado em 2008, mesmo ano de sua eleição, a qual
colocou fim ao reinado de 60 anos do Partido Colorado, mesmo partido do antigo
ditador Alfredo Stroessner… A mesma Ayalde assumiu em agosto de 2013, sem muito
alarde, a embaixada brasileira. Segundo a Missão Diplomática dos Estados Unidos
no Brasil, ‘a embaixadora Liliana Ayalde vem ao Brasil com 30 anos de
experiência no serviço diplomático’. Em um momento de intenso acirramento
político e disputa de poder. O impeachment entra em pauta. A imprensa mais
agressiva do que nunca. Não se tratasse de política, diríamos que foi mero
acaso. Mas sabemos que não existe falta de pretensão quando se trata dos
interesses norte-americanos. Na verdade, eles veem crescer a oportunidade de
colocar as mãos no pré-sal brasileiro e estão conscientes da chances reais que
possuem com e sem o PT em cena. E certamente, todas as possibilidades já foram
avaliadas pelo imperialismo norte-americano”.
Outro texto é da jornalista Mariana
Serafini, no Portal Vermelho. “Em um despacho ao Departamento de Estado do dia
25 de agosto de 2009 – um ano depois da posse de Lugo – Ayaldeafirmou que ‘a
interferência política é a norma; a administração da Justiça se tornou tão
distorcida, que os cidadãos perderam a confiança na instituição’. Ou seja,
apesar da agilidade do processo de impeachment, a embaixadora já monitorava a
movimentação golpista três anos antes do julgamento político. No mesmo despacho
afirmou que o ‘controle político da Suprema Corte é crucial para garantir
impunidade dos crimes cometidos por políticos hábeis. Ter amigos na Suprema
Corte é ouro puro’. ‘A presidência e vice-presidência da Corte são fundamentais
para garantir o controle político, e os Colorados (partido de oposição ao Lugo
que atualmente ocupa a presidência) controlam esses cargos desde 2004. Nos
últimos cinco anos, também passaram a controlar a Câmara Constitucional da
Corte’, relatou a embaixadora dos USA no Paraguai”.
No Paraguai, a embaixadora não ficou
indiferente ao processo de impeachment, como ela mesma disse no relatório
confidencial: “Atores políticos de todos os espectros nos procuram para ouvir
conselhos. E a nossa influência aqui é muito maior do que as nossas pegadas”.
E deixaram muitas pegadas, segundo
artigo de Edu Montesanti: “No Paraguai, os golpistas agiam em torno da
embaixadora. Em 21 de março de 2011, a embaixadora recebeu em sua residência
blogueiros paraguaios a fim de ‘conversar’ sobre paradigmas e diretrizes para
aqueles setores societários que já estavam desempenhando importante papel na
sociedade local. Em tese, para conhecer melhor o trabalho deles, discutir a
importância dos blogs na sociedade e a importância da aproximação deles com os
governos”.
Laboratório
de golpes
Blogs, movimentos de Internet, Senado,
Suprema Corte… qualquer semelhança entre o golpe em curso no Brasil e o golpe
paraguaio não é mera coincidência. O golpe no Paraguai é considerado um dos
mais rápidos da história, consumado em 48 horas. O presidente Fernando Lugo foi
derrotado no Senado por 39 votos favoráveis ao impeachment e quatro contra.
Caiu em 22 de junho de 2012. Uma queda rápida, mas que teve uma longa
preparação… Assim como no Brasil, cujo golpe começou a ser gestado não no dia
das eleições presidenciais de outubro de 2014, quando a oposição questionou a
seriedade das urnas e queria recontagem de votos, mas bem antes. Quando? Depois
que o modelo paraguaio de golpe deu certo, conseguindo afastar pela via
parlamentar um presidente democraticamente eleito pelo voto.
No seu artigo de junho de 2015, o
jornalista Frederico Larsen afirma: “a destituição de Lugo, em 2012, foi o
melhor ensaio realizado a respeito do que se conhece como golpe brando, o golpe
de luva branca. Trata-se de um método para desbaratar um governo sem a
intervenção direta das Forças Armadas ou o emprego clássico da violência. Para
alcançar isto, basta gerar um clima político instável, apresentar o governo em
exercício como o culpado pela crise e encontrar as formas de dobrar a lei para
derrubá-lo. Foi isto o que, três anos atrás, aconteceu no Paraguai”.
E José de Souza Castro, em artigo no
blog O
Tempo, em 5 de fevereiro de 2015, profetizou: “Dilma pode sentir na
pele o golpe paraguaio”. E destacou o papel da embaixadora Liliana: “No
Paraguai, ela preparou, com grande competência, o golpe que derrubou o
presidente Fernando Lugo”.
É o que acontece agora no Brasil: um
golpe parlamentar, com apoio da mídia golpista. Um golpe paraguaio.
O Paraguai foi um dos países que mais
sofreram com a ditadura militar patrocinada pelos Estados Unidos, nos 35 anos
do general Alfredo Stroessner (1954–1989). Foi a primeira democracia
latino-americana a cair. Depois caíram Brasil, Argentina Chile e Uruguai. No
Paraguai foi testado o modelo do combate à guerrilha a ser usado, os métodos
cruéis de tortura trazidos dos USA pelo sádico Dan Mitrioni e ali nasceu a
famosa Operação Condor, um nefasto acordo operacional entre as ditaduras. A CIA
transformou o Paraguai no laboratório que testou o modelo de golpe militar a
ser seguido e que derrubou governos populares e assassinou milhares de pessoas.
Agora, o Paraguai serviu novamente de laboratório de um novo tipo de golpe está
em curso no Brasil.
O
que nos aguarda
Se o golpe se concretizar, o Brasil
“paraguaizado” terá um destino trágico. São raros os estudos sobre o que mudou
no país vizinho pós-golpe parlamentar e jurídico, mas o artigo de um ano atrás
de Frederico Larsen joga uma luz sobre as verdadeiras intenções do golpe: “Suas
primeiras medidas se basearam em outorgar poderes especiais ao Executivo,
especialmente em matéria de segurança. Deu vida à Lei de Segurança Interna, que
permite ao governo, sem aprovação do Parlamento, a militarização e declaração
de Estado de Sítio em regiões inteiras do país com a desculpa da luta contra a
insurgência do Exército do Povo Paraguaio (EPP). Os movimentos camponeses
denunciam que com esta lei, os militares efetuam despejos e violações aos
direitos humanos, favorecendo ainda mais a concentração da terra. Conseguiu
aprovar a lei de Aliança Público-Privada (APP), que permite a intervenção de
empresas nos serviços que são providos pelo Estado, como infraestrutura, saúde
e educação. Em especial, deu um estrondoso impulso à produção transgênica no
setor agrícola”.
A publicação Diálogo – revista militar
digital – Forum das Américas, de 14 de maio de 2010, manchetou a exigência da
embaixadora Ayalde: ““Devem ser repudiados todos os fatos que atentem contra a
vida das pessoas e contra a propriedade privada”. Portanto, os deputados
golpistas representantes da oligarquia rural, senhores da terra, e da UDR que
pressionam o golpista Temer para que o Exército cuide dos conflitos de terra já
estão adotando o modelo paraguaio contra os movimentos sociais.
Se o golpe paraguaio vingar no Brasil,
retrocederemos em todas as áreas e, mais uma vez, gerações terão seus sonhos
abortados, projetos adiados e a parcela fascista, preconceituosa e enfurecida
da direita virtual sairá dos computadores e ganhará, de fato, poder nas ruas…
Fonte: Blog do Miro
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