segunda-feira, 27 de junho de 2016

TEMER É CHEFE DA BANDIDAGEM


TEMER É CHEFE DA BANDIDAGEM

 

Para o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes, a ideia de “pegarem o Lula” é improvável. “Não há culpa para isso”, ao se referir ao esforço de setores do Judiciário e do Ministério Público para criminalizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e retirá-lo da cena política. E chegou a ironizar a seletividade a parcialidade do processo contra o ex-presidente. “Num país como o Brasil, presidente corrupto dá apartamento para o filho em Paris, e não um tríplex cafona no Guarujá ou um sítio cafona em Atibaia.” Ciro considera impraticável uma eventual dobradinha com Lula nas eleições presidenciais. Diz que não aceita ser vice, que o tamanho de Lula não permite o contrário e que as forças progressistas tampouco podem se dar ao luxo de se dividir na atual conjuntura. Deu a entender que se Lula estiver na disputa, ele não entra.

 

Nesta entrevista a Marcelo Godoy e Kiko Nogueira Ciro não poupa o presidente da Câmara, Eduardo Cunha – “vai ser preso em breve” – nem o vice-presidente Michel Temer. “Eu conheço Temer. É bandido. É chefe de quadrilha. Como pode ter um filho de 7 anos com patrimônio de R$ 2 milhões e ninguém questionar a origem? Imagina se fosse o Lula”. O ex-ministro lamenta que Lula o tenha conduzido ao posto de vice na chapa de Dilma em 2010. “É testa de ferro da bandidagem corrupta. Como pode botar um cara desse de vice?” Ciro sugere a Dilma que “parta para cima” de Temer, exponha todas as suspeitas de corrupção que pairam sobre ele, especialmente em negócios relacionados ao Porto de Santos, a ponto de descredenciá-lo a permanecer no comando e a promover destruições como a que está pretendendo com a estrutura estratégica da Petrobras.

 

O entrevistado critica o juiz Sérgio Moro por executar e divulgar escuta telefônica de uma presidente da República, exorbitando do processo judicial para um ato político. “Isso me fez desmerecer a torcida que eu tenho para que esse jovem juiz siga dentro da lei, dos autos e não se encante com gravata borboleta para receber homenagens nos salões da grande burguesia.”

 

Ciro menciona ainda da ambição por poder de Fernando Henrique Cardoso, com quem rompera nos anos 1990. Diz que, para se manter no governo, o ex-presidente "deu rasteira" no hoje senador Tasso Jereissatti, ex-governador do Ceará, que caminhava para a candidatura presidencial tucana em 1998. Segundo Ciro, FHC promoveu um processo de privatizações que foi uma “imundice”, fez acordo com o PFL para emplacar a emenda da reeleição – “num processo em que se soube quem vendeu, quem comprou e nada se fez”.

 

CONTINUO PRESIDENTA




CONTINUO PRESIDENTA
 

 

Em entrevista concedida às jornalistas Andrea Dip, Marina Amaral, Natalia Viana e Vera Durão,  publicada nesta segunda-feira 27, a presidente eleita Dilma Rousseff conversa sobre diversos assuntos, faz duras críticas ao governo interino e volta a denunciar o "golpe parlamentar" ocorrido no País para tirá-la do poder.

 

Ao comentar o tratamento dado a ela pela imprensa, Dilma admitiu passar "surpresa todos os dias". "Passei surpresa desde o início do meu mandato, não só por ser mulher, mas também pelo projeto que eu represento. Eu não sou propriamente uma pessoa cujos aspectos positivos são realçados", analisa.

 

A presidente acredita que quem mais perdeu com as manifestações de rua em defesa do impeachment foi o PSDB, que "cometeu um gravíssimo equívoco político", porque se "endireitou do ponto de vista dos valores" ao se aliar a "um movimento que era baseado em algumas questões inadmissíveis. Como é que o PSDB se mistura com um movimento que defende o golpe militar?".

 

Para ela, o PMDB também deu uma "guinada" à direita, "quando o Cunha assume a hegemonia dele. Porque ele teve a hegemonia. E essa hegemonia está expressa no governo do Michel Temer. Ele é Cunha. O Jucá não mente quando diz que Michel é Cunha. Um dos grandes problemas desse governo é esconder o Cunha. Porque o Eduardo Cunha não é uma pessoa lateral deles. Ele é o líder deles. Líder em todos os sentidos".

 

Em algumas das críticas contra o governo provisório, ela aponta os prejuízos que deverão trazer a nova política de gastos públicos e diz que na questão da política externa, o chanceler interino José Serra faz crítica a uma "coisa que não existe", ao dizer que irá "impedir a ideologização que o Brasil faz". "Então denuncia coisa que não existe. E a imprensa apoia", afirma Dilma.

 

Questionada sobre a possibilidade de interferência de outros países para a realização do golpe no Brasil, ela sustenta que "não é necessário para discutir o golpe no Brasil atribuir responsabilidade a nenhum outro país do mundo. Eles foram competentes na arte de dar um golpe aqui no Brasil; não precisamos de fora para fazerem o golpe. Este golpe é endógeno. A responsabilidade por ele é das oligarquias locais. Pode ter gente muito feliz – é outra coisa. Pode ter gente até que deu uma mãozinha – é outra coisa. Mas não é relevante".

 

Para ela, o que "está ocorrendo" é "uma nova forma de retirar governos que criam descontentamento em relação à oligarquia econômica, ou política, ou um grupo de interesses, que se considera descontente em relação a alguma das características do governo em exercício. Aí o que eles fazem? Dão um golpe parlamentar. Em que consiste um golpe parlamentar? Ele não é igual a um golpe militar. Um golpe militar não só extingue o governo em questão, mas acaba também com o regime democrático".

 

Dilma vê possibilidade de o caso do Brasil acontecer também em outros países da América Latina. "Acho que pode. Não só eu acho, como chefes de Estado da América Latina, todos temem isso. Qualquer um".

 

A presidente diz ter "imensa indignação" com o "uso político das investigações da Lava Jato", mas diz estar "vacinada" ao comentar a possibilidade de interferência das últimas denúncias da investigação no processo de impeachment no Senado. "Eu acho que eu estou em um nível de vacinação absoluta contra isso. Isso tem sido feito sistematicamente contra mim. Sistematicamente. A última que arquivaram foi aquela em que quase caiu o mundo na minha cabeça porque eu liguei para o Lula e falei: 'Vou mandar aí o Bessias'. Agora foi arquivado. Agora, o pato que eu pago enquanto não está arquivado é imenso".

 

Sobre seu retorno ao poder, afirmou: "Eu farei basicamente um governo de transição. Porque é um governo que vai ter dois anos, e o que nós temos de garantir neste momento é a qualidade da democracia no Brasil, o que vai ocorrer em 2018. Eu farei isso, sobretudo. Acho que cabe a discussão de uma reforma política no Brasil, sem dúvidas. Nós tentamos isso depois de 2013 e perdemos fragorosamente. Tentamos Constituinte, tentamos reforma política, tentamos..."

 

Questionada sobre convocar um plebiscito para consultar a população sobre novas eleições antes de 2018, Dilma disse não saber se há força para isso, e negou que haja um "compromisso" dela já firmado sobre esse tema. "Está em discussão isso. Não há um consenso. É uma das coisas. Uma das propostas colocadas na mesa. Agora, há de todo mundo uma opção por eleição direta, né? Sempre".

 


 

domingo, 26 de junho de 2016

COMUNISTAS E O REFERENDO BRITÂNICO


COMUNISTAS E O REFERENDO BRITÂNICO


A decisão do povo britânico de retirar o país da União Europeia é acontecimento de enorme significado político, com importantes repercussões geopolíticas e econômicas, não só para a Europa, como para todo o mundo.

José Reinaldo Carvalho*

Os defensores da União Europeia apresentam o fato como uma ameaça à civilização e à democracia. Nada mais falso. O que não podem esconder é a enorme crise desse bloco imperialista e o sério abalo que o pronunciamento da maioria dos britânicos provoca em suas estruturas. Não podem esconder também a insatisfação que grassa em toda a Europa em decorrência das políticas antissociais da União Europeia.

Os democratas de fancaria ignoram uma manifestação soberana, no quadro de uma campanha marcada por acontecimentos trágicos e politicamente condicionada por uma falsa disjuntiva entre, por um lado, posições neoliberais, que defendem a permanência na União Europeia e a integridade do bloco, e, por outro, posições de direita, reacionárias, xenófobas, racistas, hoje presentes no cenário político da quase totalidade dos países europeus. A disjuntiva reflete as agudas contradições entre facções da grande burguesia e do imperialismo. Os falsos democratas nada dizem sobre o fato de os centros de decisão da União Europeia sediados em Bruxelas serem monstrengos burocráticos que engendram decisões lesivas à autonomia nacional dos povos e violadoras dos direitos sociais. Quem não se lembra do modo como chantagearam e ameaçaram o povo grego, ignorando o resultado do plebiscito promovido pelo governo do Siryza, quando soberanamente foi dado um contundente NÃO às políticas da EU?

Os comunistas brasileiros saudamos a decisão soberana do povo britânico e congratulamo-nos com os comunistas britânicos e outras forças da esquerda consequente, que votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia. O Partido Comunista Britânico e seus aliados fizeram a campanha pelo chamado BREXIT levantando as bandeiras da democracia, dos direitos dos trabalhadores, o internacionalismo e a solidariedade, não se confundindo em nenhum momento e aspecto com o discurso reacionário da direita, tampouco capitulando à pressão política e ideológica dos defensores da União Europeia, nem se abalando com as falsas acusações de que seu voto favoreceria as forças da extrema direita.

O resultado da consulta popular assinala uma contundente derrota das políticas antissociais da União Europeia. Esta se revela cada vez mais como um bloco de caráter monopolista, imperialista, militarista, que sempre atuou contra os interesses dos povos, a democracia, o progresso social e a paz mundial. A União Europeia, malgrado suas contradições com o imperialismo estadunidense, contradições de caráter interimperialista, foi e é sua principal cúmplice nas agressões a povos e nações, no incremento da OTAN e na execução de políticas neoliberais e neocolonialistas, inclusive para com a região da América Latina e o Caribe. A União Europeia, sob a hegemonia de potências imperialistas, submete os países mais débeis e massacra seus povos com políticas econômicas, monetárias e financeiras de arrocho, responsáveis pela recessão, o desemprego, o corte do gasto social e o ataque aos direitos dos trabalhadores.

A decisão soberana do povo britânico alenta as forças democráticas e progressistas em sua luta contra esse tipo de integração capitalista e imperialista, por democracia, justiça, progresso social, cooperação e paz, pelos direitos humanos e os direitos dos imigrantes, contra o racismo e toda forma de discriminação.

Os comunistas brasileiros nos somamos a essa luta e com ela somos solidários. Não nos deixamos levar pela repugnante propaganda dos meios de comunicação que tentam caracterizar o resultado do plebiscito como vitória da direita. O que favorece as políticas da extrema direita europeia é a persistência no caminho ruinoso do neoliberalismo, do conservadorismo, do militarismo e das intervenções bélicas. É a insidiosa ideia de que não há caminho alternativo entre as diferentes facções da burguesia e do imperialismo.

A integração pela qual lutamos e tentamos construir na América Latina e no Caribe nada tem a ver com o modelo da União Europeia.

Como força independente de classe, cujo inimigo principal é o imperialismo estadunidense, os comunistas brasileiros, respeitando todas as posições que se apresentam honestamente no debate político e na batalha das ideias, não se permitem ilusões nem alianças com o imperialismo da União Europeia.

*José Reinaldo Carvalho, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB

FOLHA ELIMINA AÉCIO


FOLHA ELIMINA AÉCIO

 

 

 

Citado em inúmeras delações premiadas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) sofreu, neste fim de semana, o mais duro golpe de sua carreira política, com a acusação, feita por Léo Pinheiro, da OAS, de que cobrava propina de 3% nas obras da Cidade Administrativa, por meio de Oswaldo Borges da Costa, seu tesoureiro informal e dono do avião utilizado pelo parlamentar; com isso, o presidente nacional do PSDB fica praticamente excluído da próxima disputa presidencial, abrindo espaço para três nomes no PSDB: os governadores Geraldo Alckmin e Marconi Perillo, assim como o chanceler José Serra; depois de quase chegar ao poder em 2014, Aécio apostou no 'quanto pior, melhor', incentivou o golpe parlamentar contra a presidente Dilma, mas se deu mal

 

 

Em outubro de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) era dono de um imenso capital político. Havia conquistado 48,5% dos votos e por muito pouco não chegou à presidência da República. Depois de tal desempenho, o melhor entre todos os candidatos tucanos nas quatro derrotas presidenciais sofridas pelo PSDB desde 2002, Aécio tinha tudo para se preparar com calma para 2018.

 

O parlamentar mineiro, no entanto, decidiu ser menos Tancredo Neves e mais Carlos Lacerda. Assumiu um discurso moralista e apostou no 'quanto pior, melhor', quando até as montanhas de Minas sabiam que esse não seria um caminho apropriado para seu sucesso na política.

 

Resultado: ainda que a presidente Dilma Rousseff tenha sido provisoriamente afastada do seu cargo, graças à aliança entre Aécio Neves e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), poucos políticos sofreram tantos danos nos últimos anos quanto o presidente nacional do PSDB.

 

Aécio já foi citado por diversos réus da Lava-Jato como chefe de um mensalão em Furnas, por Delcídio Amaral como responsável por maquiar dados da CPI dos Correios (o que será confirmado por Marcos Valério) e agora será citado por Léo Pinheiro, da OAS, como cobrador de uma propina de 3% nas obras da Cidade Administrativa de Minas Gerais.

 

Léo Pinheiro diz ter provas e documentos para provar como os recursos ilícitos eram pagos, por meio de Oswaldo Borges da Costa, tesoureiro informal de Aécio Neves e dono do avião utilizado pelo senador tucano.

 

Com isso, Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, fica praticamente excluído da próxima disputa presidencial, abrindo espaço para três nomes no PSDB: os governadores Geraldo Alckmin, de São Paulo, e Marconi Perillo, de Goiás, assim como o senador José Serra. Contra Alckmin, pesa o fato de ser o político mais rejeitado pela juventude brasileira, por seu perfil extremamente conservador. Contra Serra, há a sua associação com o governo ilegítimo de Michel Temer e também o fator da idade já avançada.

 

Aécio seria o candidato natural do PSDB. Mas depois de quase chegar ao poder em 2014, ele apostou no 'quanto pior, melhor', incentivou o golpe parlamentar contra a presidente Dilma e acabou se dando mal.

 

Desmoralizar a política para acabar com a democracia


Desmoralizar a política para acabar com a democracia

 

Temer como presidente do Brasil é para acabar de desmoralizar a política. Um político corrupto, golpista, traidor, medíocre, sem nenhuma ideia na cabeça para dirigir o país é o objetivo maior dos que querem acabar com o que há de democracia no Brasil e entregar de vez o poder nas mãos dos mercados e das corporações midiáticas.

Emir Sader*

 


 

Do que se trata é de desmoralizar definitivamente a política. O Brasil pode ser governado pelo Lula ou pelo Temer. Igualar tudo por baixo. Se trata de tentar envolver o maior líder político que o Brasil já teve na mesma lista de suspeitos de corrupção. Não importa que não exista prova alguma contra o Lula. Não importa que os outros sejam acusados de corrupção direta de milhões, enquanto Lula é acusado de ter um sítio e um apartamento que não são seus. O que interessa é jogar todos na mesma fogueira. Ou para buscar um salvador da pátria de fora da política, na mídia, ou de ter sempre governos fracos, que tenham que se render aos mercados e às campanhas da mídia.

 

Para isso Temer é perfeito. Ninguém duvida que é um corrupto, um pusilânime, um tipo que vai passar rápido pela História para desaparecer depois de ter prestado o serviço de dar um golpe na democracia e tirar o PT do governo, devolvendo-o aos ricos e poderosos. E, com isso, receber em troca, a absolvição dos seus casos de corrupção.

 

E aí está o Supremo Tribunal Federal, que deveria ser a instância superior do Judiciário, que se não se pronuncia sobre se houve ou não crime de responsabilidade, não serve para nada. E, como cala, consente com o mais grave golpe contra a democracia, porque se faz supostamente dentro da democracia. E confirma, junto com as ações arbitrárias da Polícia Federal e de promotores, que a política está completamente corrompida.

 

O cinismo com que a direita apoia o governo Temer serve para confirmar que, se todos os políticos são corruptos, pode governar qualquer um, contanto que enfraqueça mais ainda o Estado e a política. Temer serve duplamente: confirma a canalhice dos políticos e debilita o Estado.

 

Os fins justificam os meios e isso justifica o apoio da direita ao governo interino de Temer. Se tudo correr como a direita deseja, o país estará desmontado em 2018, tanto o patrimônio público, que será privatizado, como os direitos dos trabalhadores, recortados, e os recursos para políticas sociais, diminuídos. Além da reinserção internacional do Brasil, que passará de uma política externa soberana a outra, subordinada.

 

O Globo retoma o que sempre achou: a fonte da corrupção não é o dinheiro privado, mas as estatais. Privatizar tudo moralizaria o país. Os próprios processos de privatização do governo FHC desmentem isso, mas é preciso esquecer o passado vergonhoso, para promover um futuro vergonhoso. Se possível sem Estado, sem políticos, sem partidos, mas principalmente sem o Lula, sem a esquerda, sem sindicatos, sem campanhas salariais. Em suma, uma ditadura com roupagem de democracia.

 

Cabe à esquerda tratar de evitar isso, buscando alternativas que impeçam os dois terços no Senado, com que a direita trata de consolidar o golpe e o desmonte do Brasil.

 

*Emir Sader é sociólogo e cientista político

 

Análise: Precisamos entender a esquerda que apoiou o 'Brexit'



Análise: Precisamos entender a esquerda que apoiou o 'Brexit'


Nova 'esquerda radical' está redescobrindo nacionalismo; estou convicto de que nossa única esperança é agir em nível transnacional.   
 

Quando perguntaram ao camarada Stalin no final dos anos 1920 o que ele achava pior, a direita ou a esquerda, ele imediatamente rebateu: “Os dois são piores!” E essa é minha primeira reação ao "Brexit". A Europa está presa agora em um círculo vicioso, oscilando entre dois falsos opostos: de um lado, a rendição ao capitalismo global, e de outro, a sujeição a um populismo anti-imigração. É preciso colocar a pergunta: qual é o tipo de política capaz de nos tirar desse impasse?
O capitalismo global tem se caracterizado cada vez mais por acordos comerciais negociados a portas fechadas como o TISA (Acordo Internacional sobre Comércio e Serviços, na sigla em inglês) ou o TTIP (Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento). Discuti a dimensão e o significado do TISA aqui, e também não há dúvida sobre o impacto social do TTIP: ele representa nada menos do que um ataque brutal à democracia. Talvez o exemplo mais explícito seja o caso dos ISDSs (Mecanismos de Resolução de Litígios entre Investidores e o Estado), que basicamente permitem que empresas processem governos se suas políticas ferirem sua margem de lucro. Para resumir, isso significa que corporações transnacionais (que não foram eleitas) podem simplesmente ditar as políticas de governos democraticamente eleitos.

Agência Efe

Reino Unido votou por sair da União Europeia


Então como avaliar o Brexit nesse contexto? É preciso entender em primeiro lugar que de uma certa perspectiva de esquerda há até justificativas para ter apoiado o referendo: afinal, um forte Estado-nação, livre do controle dos tecnocratas de Bruxelas pode estar numa situação melhor para proteger o Estado de bem-estar social e reverter políticas de austeridade. No entanto, o que é perturbador é o pano de fundo ideológico e político dessa posição. Da Grécia à França, uma nova tendência está surgindo a partir do que sobrou da “esquerda radical”: a redescoberta do nacionalismo. De uma hora para outra, deixou-se de falar em universalismo – ideia que passou a ser descartada como uma simples contraparte política e cultural (“superestrutural”, se quiser) do capital global “desenraizado”.

Premiê da Escócia diz que novo referendo sobre saída do Reino Unido é 'muito provável'

Líderes de extrema-direita de França, Holanda e Itália pedem referendo após 'Brexit'

Reino Unido: petição oficial solicita 2º referendo, e Parlamento será obrigado a avaliar proposta

 
A razão que explica esse movimento dessa esquerda parece evidente: o fenômeno da ascensão do populismo nacionalista de direita na Europa Ocidental. Por incrível que pareça, é o populismo nacionalista de direita que aparece agora como a mais expressiva força política a reivindicar a proteção dos interesses da classe trabalhadora, e ao mesmo tempo, a mais forte força política capaz de mobilizar verdadeiras paixões políticas. Então, a lógica é a seguinte: por que a esquerda deve deixar esse campo de paixões nacionalistas à direita radical? Por que ela não poderia disputar com o Front National de Le Pen a reivindicação da “pátria amada” [la patrie]?
Nessa vertente de populismo de esquerda, a lógica do “Nós” contra “Eles” permanece, mas aqui o “Eles” não aparece na forma de pobres refugiados ou imigrantes, mas na figura do capital financeiro e da burocracia tecnocrática do estado. Esse populismo também vai além do velho anticapitalismo da classe trabalhadora; ele visa reunir uma multiplicidade de lutas, da ecologia ao feminismo, do direito ao emprego à saúde e à educação gratuitas.
A tragédia recorrente da esquerda contemporânea é a velha história do líder ou partido que é eleito com entusiasmo universal junto à promessa de um “novo mundo” (o caso de Mandela e de Lula são emblemáticos aqui), mas que uma hora ou outra (geralmente depois de alguns dois anos), se vê diante do dilema fundamental: será que me atrevo a mexer com os mecanismos capitalistas, ou opto por “jogar de acordo com as regras do jogo”? E, claro, quando ousa-se perturbar os mecanismos do capital, logo vem o rebote das perturbações do mercado, o caos econômico e por aí vai… Então como pensar uma verdadeira radicalização passado o primeiro estágio de promessa e entusiasmo?
Estou convicto de que nossa única esperança é agir em nível transnacional – só assim teremos a chance de fazer frente ao capitalismo global. O Estado-nação não é o verdadeiro instrumento para confrontar a crise dos refugiados, o aquecimento global e outras questões urgentes que se colocam. Então ao invés de se opor aos eurocratas em nome de interesses nacionais, por que não começar tentando formar uma esquerda europeia? Não vamos competir com os populistas de direita. Não vamos permitir que eles definam os termos da luta. O nacionalismo socialista não é a forma certa de combater o nacional socialismo.

*Texto foi traduziso por Artur Renzo e publicado originalmente no Blog da Boitempo.