IMPEACHMENT
'Senador, já militamos nas mesmas hostes', diz Belluzzo a Cristovam Buarque
Economista diz, em depoimento no Senado, que país não sai da crise sem resolver a questão política e que procurou os ex-presidentes Lula e FHC "para dizer que era preciso um acordo para evitar o caos"
por Eduardo Maretti, da RBA publicado 26/08/2016 21:59, última modificação 26/08/2016 22:07
ROQUE DE SÁ/AGÊNCIA SENADO
Cristovam Buarque: inconformismo com visão de Belluzzo sobre 'pedaladas' não serem operações de crédito
São Paulo – No depoimento de hoje (26) em que desconstruiu as argumentações sobre os “crimes” de que a presidenta Dilma Rousseff é acusada no processo de impeachment (leia aqui), o economista Luiz Gonzaga Belluzzo foi inquirido por poucos parlamentares a favor do impedimento, já que quase todos dessa ala se ausentaram da sessão. Entre os poucos presentes, estava o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
O senador, que já foi progressista, mas “deixou que a bílis e o sentimento de mágoa superassem a visão histórica”, segundo disse Roberto Amaral à RBA, insistiu em demonstrar a Belluzzo seu inconformismo diante da visão do economista da Unicamp de que as chamadas "pedaladas" de Dilma Rousseff não são operações de crédito. “Não vejo como pagar se não houve um crédito antes”, argumentou Cristovam.
Com a ironia peculiar, diante da insistência, Belluzzo respondeu: “Senador, já militamos nas mesmas hostes. O choque fiscal do final de 2014, choque de tarifas e de juros, tudo isso era consenso dos mercados financeiros. Ela (Dilma) fez despedaladas. Não houve operação de crédito, mas fiscal: uma subvenção tirada do orçamento. Operação de crédito se dá entre banco e tomador de crédito. Houve uma subvenção”, repetiu o economista.
Tratado com enorme deferência pelo presidente da sessão, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, durante todo o período de seu depoimento, Belluzzo afirmou considerar que o país não sairá da crise sem resolver a questão política.
“Em 2014 fiquei assustado com o desenvolvimento do conflito político e social. Procurei (os ex-presidentes) Lula e Fernando Henrique Cardoso para dizer a eles que era preciso um acordo para evitar o caos. As dissenções de hoje só vão agravar o quadro. O Brasil precisaria de uma experiência democrática mais prolongada. É preciso que se aceite a opinião do outro”, afirmou. “Sem resolver a crise política não vamos resolver a crise econômica.”
Segundo Belluzzo, o quadro atual do país está em desacordo com princípios democráticos cuja base é o diálogo. “A democracia existe para mediar os interesses divergentes. Não pode ser entregue aos técnicos, não podemos criar uma ditadura de tecnocratas. Me preocupa quando os poderes não eleitos possam se sobressair numa sociedade democrática.”
Outro da ala golpista que se dispôs a questionar Belluzzo foi o senador José Antônio Machado Reguffe. “A eleição não dá o direito de o governante desrespeitar as leis. Ela (Dilma) editou decretos sem conformidade com a meta fiscal vigente. E o governo se financiou por bancos públicos”, disse.
“Vou repetir”, respondeu Belluzzo, referindo-se às "pedaladas fiscais". “Operação de crédito é feita entre o Banco do Brasil e o agricultor. O governo faz uma subvenção para que o crédito saia, com financiamento favorável (ao agricultor). Não há operação de crédito entre o governo e o banco público. Isso existe no mundo inteiro”, explicou.
Reguffe insistiu: “Também sou economista. Se o governo toma do banco público e depois tem de pagar, é uma operação de crédito”.
Belluzzo usou de novo a ironia. “Vou repetir o que já disse: essa é uma operação fiscal. Eu estudo todo dia para me livrar dos economistas. Não estou dizendo que é o seu caso. Mas operação de crédito é estabelecida pela relação entre banco e mutuário. O Plano Safra é um subsídio do Estado. Não fosse isso, o agronegócio não teria prosperado no país.”
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