domingo, 11 de setembro de 2016

Cassação de Cunha trará o imponderável

Cassação de Cunha trará o imponderável
Teresa Cruvisel

“Se não houver compromisso com o combate à corrupção, este governo vai derreter”, disse Fabio Osório antes de ser demitido da AGU porque contrariou os esforços para abafar a Lava-Jato. Sua demissão foi uma evidência dessa falta de compromisso. Outra, bem eloquente, está na passividade do governo diante da votação de segunda-feira para cassar o mandato de Eduardo Cunha. A cassação assombra, mas a salvação também será péssima para o governo, fortalecendo a ideia de que colabora com a grande pizza que vem sendo amassada no pós-golpe.

Cassado, Cunha perderá o direito ao foro especial do STF e os processos a que responde serão transferidos para o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, onde sua mulher já foi indiciada. Nesta hora é que ele passará de fato a assombrar o governo, o PMDB e outros partidos. Se for preso e levado para Curitiba, dificilmente deixará de negociar um acordo de delação premiada, possibilidade que ele já negou muitas vezes. Mas em Curitiba, todo mundo muda de opinião a este respeito.

Eduardo Cunha detém os segredos da cúpula do PMDB e do próprio Michel Temer. Tem sido convenientemente esquecida, por exemplo, a troca de mensagens que ele teve com Leo Pinheiro, da OAS, em que reclama por ter sido feito diretamente a Temer um pagamento de R$ 5 milhões,  sem o prévio acerto com “os outros” do PMDB. Por tudo que Eduardo Cunha representa e sabe, sua eventual cassação pode ser um demarcador no destino do atual governo.

Quem conhece o atual Congresso e a matreirice do ex-presidente da Câmara não ousa fazer prognósticos sobre o resultado da votação de segunda-feira. Há levantamentos indicando número suficiente de votos (mais de 257) para cassá-lo, mas a negaça é uma das características do Centrão, grupo que congrega os aliados de Cunha. Se puderem, eles vão preservar pelo menos os direitos políticos dele.  Pode ser também que falte quórum. Pode ser que falte o número de votos. Tudo pode acontecer.

Dê no que der a votação de segunda-feira, não será bom para o governo. A salvação de seu mandato aspergirá o cheiro de pizza podre.

A cassação trará o imponderável.


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