quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Discrepância entre acusações verbais e formais contra Lula levanta dúvidas sobre Lava Jato, diz AP

Discrepância entre acusações verbais e formais contra Lula levanta dúvidas sobre Lava Jato, diz AP

Imprensa internacional repercute acusações do Ministério Público Federal contra ex-presidente; segundo artigo no jornal La Jornada, intenção é 'demonizar' PT
A agência de notícias norte-americana Associated Press afirmou, nesta quarta-feira (14/09), que a "discrepância" entre as declarações dos procuradores do MPF (Ministério Público Federal) sobre o papel do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema de corrupção na Petrobras e as acusações de fato apresentadas contra ele levantam dúvidas sobre o futuro das investigações da Operação Lava Jato.
Nesta quarta, o procurador da República Deltan Dallagnol afirmou que o ex-presidente era o "comandante máximo do esquema de corrupção identificado na [Operação] Lava Jato". Em entrevista coletiva à imprensa, ele detalhou a denúncia contra Lula, a esposa dele, Marisa Letícia, e mais seis pessoas.
Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Segundo matéria da AP, caracterização de suposto papel de Lula na Lava Jato foi "impressionante"
Segundo a matéria da AP, embora as acusações fossem esperadas, a caracterização do suposto papel de Lula no esquema, com apresentações de Power Point tentando explicar as denúncias contra o ex-presidente, foi “impressionante”.
A agência afirma que, apesar da “litania” (ladainha) de acusações, Lula está sendo acusado apenas de lavagem de dinheiro e corrupção, crimes que são negados pela defesa do ex-presidente.
“A discrepância entre as acusações verbais na quarta-feira [feitas pelos procuradores] e aquilo de que Silva foi realmente acusado levantaram muitas perguntas sobre o futuro da investigação”, diz o texto.
O artigo da AP cita o advogado Cezar Britto, ex-presidente da OAB, que afirma que "as duras palavras [dos procuradores] indicam que as provas [contra Lula] não devem ser tão sólidas". "Parece que os procuradores estão querendo o apoio da sociedade em lugar de procurar mais provas", diz Britto.
'Demonizar o PT"
Em artigo no jornal mexicano La Jornada nesta quinta-feira (15/09), o escritor brasileiro Eric Nepomuceno qualificou a entrevista coletiva de Dallagnol como um “espetáculo oferecido a uma imprensa que há muito tempo esqueceu o verbo ‘perguntar’”.
A apresentação das denúncias, segundo ele, teve “palavras contundentes, em um discurso altamente politizado, no qual faltou só um detalhe: provas”.
O escritor afirma que a “sanha messiânica” do juiz Sergio Moro, “que atua muito mais como acusador do que como magistrado”, indica que a denúncia contra Lula será aceita a menos que ocorra algo “inexplicável”.
 

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Nepomuceno cita também os advogados do ex-presidente, para quem a conduta política de Moro e Dallagnol “é parte de algo mais ambicioso: impedir que Lula da Silva tente voltar ao poder e, de quebra, demonizar o PT”.
Agência Efe

Procurador da República Deltan Dallagnol apresenta denúncias contra ex-presidente Lula
Pode ficar fora das eleições de 2018
O jornal britânico The Guardian também repercutiu as acusações contra Lula nesta quarta-feira. Segundo a publicação, esta é a primeira vez que o ex-mandatário, que segue como político mais popular do país, é acusado formalmente de envolvimento na Lava Jato.
O texto lembra que uma possível condenação pode deixar Lula de fora das próximas eleições presidenciais e que, apesar das acusações, o ex-chefe de Estado aparece na liderança de pesquisas de intenção de voto no pleito de 2018.
A publicação faz referência às políticas sociais que tiraram da pobreza e conduziram à classe média milhões de pessoas durante o governo de Lula, que deixou a Presidência com 83% de aprovação e com uma economia que crescia a 7,5%.
'Farsa de má qualidade'
Um artigo no site português Esquerda.net sobre a entrevista coletiva de imprensa do MPF afirma que a apresentação, “evidentemente concebida para ter um grande impacto teatral, acabou decorrendo em tom de farsa de má qualidade.”
Segundo o texto, a entrevista coletiva foi tão "constrangedora" que suscitou críticas até do "mais reacionário colunista anti-Lula", Reinaldo Azevedo, que classificou o evento como um "espetáculo".
O site explica que as acusações foram apresentadas em um arquivo de Power Point com setas e gráficos, “mas a profusão de slides não apresentou evidências que suportassem a nova acusação”.
O texto critica também o arquivo apresentado, considerado “confuso” e feito de forma “pouco cuidada”, que já teria se tornado motivo de piada e fonte de memes nas redes sociais.

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