quinta-feira, 15 de setembro de 2016

"Provem corrupção que eu irei a pé para ser preso"

"Provem corrupção que eu irei a pé para ser preso"

Em pronunciamento, Lula rebate denúncia da Lava Jato e afirma que País vive "momento em que a lógica não é o processo, mas a manchete"
por Redação — publicado 15/09/2016 14h48, última modificação 15/09/2016 16h03
Nelson Almeida / AFP
Lula
Lula durante pronunciamento nesta quinta-feira 15
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu nesta quinta-feira 15 a denúncia de corrupção e lavagem de dinheiro feita contra ele pela força-tarefa da Operação Lava Jatono dia anterior. Em pronunciamento em um hotel de São Paulo, Lula lembrou o passado humilde, a história política, reafirmou sua inocência e afirmou que a ação contra ele tem o objetivo "acabar"com a sua vida política.
Lula falou em um hotel no centro de São Paulo, onde o PT reuniu seu conselho político. O ex-presidente entrou no auditório sorrindo e cumprimentando seus companheiros. Aparentando calma, fez piadas com Vágner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores, e com o presidente do PT, Rui Falcão.
Ao seu redor estavam ainda senadores e deputados petistas; o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto,Guilherme Boulos; Gilmar Mauro, do MST; Renato Rabelo, presidente do PCdoB; entre outros.
Lula se disse "indignado" com as acusações dos procuradores da Lava Jato e criticou a"pirotecnia" da entrevista coletiva do Ministério Público Federal na quarta-feira 14. 

“Eu não vou fazer um show de pirotecnia, não quero me comportar como um cara perseguido ou como se estivesse reivindicando algum favor. Esta é uma declaração de um cidadão indignado. Não de um político, é um cidadão indignado com as coisas que aconteceram e estão acontecendo no Brasil”, declarou. 
"Descobri que tanto os meus acusadores quanto uma parte da imprensa estão mais enrascados do que pensam que eu estava", disse Lula sobre as denúncias. O ex-presidente afirmou que foi construída uma mentira, "como se fosse um enredo de uma novela". 
"E está chegando o fim do prazo, afinal, já cassaram o Cunha, elegeram o Temer indiretamente com o golpe e cassaram a Dilma. Agora precisam concluir a novela e dizer quem é o bandido e quem é o mocinho. "O fecho é acabar com a vida política do Lula. Não existe outra explicação para a pirotecnia de ontem", disse.
Inocência
O ex-presidente Lula
Lula emocionou-se três vezes ao longo do pronunciamento
Lula se emocionou por três vezes, a primeira delas ao afirmar sua inocência. Lula disse que ninguém respeita as leis e acredita nas instituições mais do que ele e que prestaria quantos depoimentos "forem necessários". "Eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida nesse país", afirmou Lula. "Provem uma corrupção minha, que eu irei a pé para ser preso", disse.
Referindo-se ao processo do Mensalão, Lula afirmou que tentaram fazer, em 2005, o que fizeram durante o processo de impeachment. “O tratamento de uma parcela da mídia brasileira e do poder Judiciário agiu do mesmo jeito. Faz pouco tempo, quem viveu aquele período sabe , que o objetivo em 2005 era tirar o Lula”.
"Não tenho a vocação do Getúlio para me dar um tiro, nem a do Jango para sair do Brasil. Se quiserem me tirar, vão ter que disputar comigo na urna", afirmou, comparando-se com outras figuras políticas como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek (“talvez a única pessoa vítima de mais inquéritos do que eu”) e João Goulart.
Fazendo alusões à Tiradentes e à Inconfidência Mineira, Lula disse que tentar desgastar sua imagem e suas ideias é “bobagem”. Também citou os movimentos de ocupações de escolas em São Paulo e os recentes protestos contra Michel Temer e a favor de novas eleições. 

"Não se preocupem com o Lula. Isso é bobagem. Essa meninada que proibiu o (governador) Geraldo Alckmin de fechar escola em São Paulo, essa meninada que está indo pra rua reivindicar democracia e mais educação, essa meninada é um Lula de 71 anos multiplicado por milhões de Lulas jovens nesse país", pediu. 
Afirmou que seus inimigos pensam que, se tirarem o Lula, está resolvido. “Pelo contrário, vocês vão ter problema com o golpe que deram, com o que querem tirar do povo trabalhador, de tentar entregar nosso patrimônio às multinacionais, nosso pré-sal, nossa Petrobrás”, criticou. “Assim, não precisa governar, é só colocar um vendedor”.
Lembrando que construiu sua vida, ao longo de 71 anos, "comendo o pão que o diabo amassou", Lula disse que não tem tempo de parar. "O país que eu sonho está longe de ser construído. Subimos apenas um degrau, que estão tentando tirar da gente. 
Vestido com uma camisa pólo vermelha com a estrela do Partido dos Trabalhadores, o ex-presidente pediu para que os petistas tenham "orgulho".
"Hoje eu vim com a camisa do PT, como se fosse de time de futebol. Daqui pra frente, cada petista desse país tem que começar a andar de camisa vermelha. Quem não gostar do PT, coloca de outra cor, mas aos 36 anos de vida esse partido precisa ter orgulho, porque ninguém fez mais do que a gente na história desse país", disse ele, beijando a camisa. 
Ação contra os procuradores
O ex-presidente Lula
Lula ao lado de Rui Falcão, do presidente da CUT Vagner Freitas e outros políticos do PT
A defesa de Lula informou que vai denunciar procuradores da Lava Jato ao Conselho Nacional do Ministério Público por "graves desvios funcionais". Em seu discurso, o ex-presidente também citou as acusações feitas pelos procuradores da Operação Lava Jato, pediu para "procurarem de procurar casca onde não tem" e criticou a criminalização da política.
Falando com "as pessoas sérias do MPF", disse que estava à disposição. "O Lula não é maior do que a lei. Quando eu transgredir a lei, me punam, mas quando eu não transgredir, por favor, procurem outro para arranjar problema." 
Ao final de sua fala, em várias partes crítica à atuação da imprensa, Lula pediu isonomia no destaque dado ao depoimento de hoje. "Espero que eu tenha o mesmo destaque dos meus acusadores ontem. Só peço igualdade e oportunidade para que as pessoas possam ouvir".

Fonte: Carta Capital

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