Solange Santana
A defesa da Petrobras e de seu corpo
técnico são os principais objetivos da Associação de Engenheiros da Petrobras
(AEPET) e nesta entrevista o vice-presidente da instituição, engenheiro
Fernando Siqueira, fala das ótimas perspectivas da empresa e questiona os que
querem esvaziá-la. Também explica, didaticamente, a quem interessa tirar a
Petrobras do pré-sal. Uma entrevista para ler, guardar e multiplicar.
Também nesta entrevista Siqueira comenta
o panorama da indústria petrolífera no mundo e afirma que Brasil, Venezuela,
Irã e os BRICS (bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul) são hoje alvos da mesma geopolítica dos países desenvolvidos que não possuem
reservas de combustível fóssil.
·
A Petrobras está
quebrada? A situação da empresa é tão caótica em relação às grandes
petrolíferas estrangeiras?
Fernando Siqueira - A Petrobras não está
quebrada. Ela teve, em 2015, um lucro bruto de R$ 98,5 bilhões e um lucro
líquido de R$ 14 bilhões. Mas por exigência da auditora americana PWC (raposa
no galinheiro), ela desvalorizou seus ativos em R$ 49 bilhões, gerando um falso
rombo de R$ 35 bilhões. As justificativas dessa baixa contábil são as perdas
com a queda do preço do petróleo, mas a Exxon/Mobil, por exemplo, não fez nada
disso. A Shell tem uma dívida igual à da Petrobras, mas tem reservas cinco
vezes menores. A Petrobras já descobriu 50 bilhões de barris nos campos de
Tupi, Iara, Búzios, Carcará e outros. A Shell tem reservas de cerca de 10
bilhões de barris, apenas. A Petrobras está melhor do que todas as empresas do
cartel. Tem mais reservas e melhor tecnologia do que elas.
·
Quais as
perspectivas do Brasil na produção de petróleo?
FS - São as melhores. O instituto de
Geologia da UERJ prevê que a reserva do pré-sal pode se situar entre 178 e 280
bilhões de barris (segunda ou terceira do mundo). A Petrobras já descobriu
cerca de 50 bilhões de barris dessas reservas; produz cerca de 1,5 milhão de
barris equivalentes por dia (óleo + gás) no pré-sal. Em 2015, ela ganhou, pela
terceira vez - fato inédito entre as petroleiras mundiais - o prêmio máximo da
indústria do petróleo pelo seu domínio da tecnologia em águas ultraprofundas,
aplicada no pré-sal; o custo total de produção no pré-sal, incluindo impostos
royalties, amortizações e outros, caiu de US$ 40 por barril, em 2013, para US$
20 em maio de 2016. No mesmo período, o custo de extração (considerando a
infraestrutura toda montada e abstraindo dos custos externos), caiu para US$
7,50 por barril. Ambos os custos continuam caindo em face do conhecimento
técnico da Petrobras e da produtividade do pré-sal.
·
Há semelhanças
entre o Brasil e a Venezuela na geopolítica mundial do petróleo?
FS - Podemos dizer que há muitas. A
Venezuela tem a maior reserva do planeta e fica fora da zona conflituosa do
Oriente Médio; o Brasil tem a segunda ou terceira reserva do mundo e fica
também na América Latina. Os países desenvolvidos têm uma brutal insegurança
energética devido à alta dependência do petróleo e por não possuírem reservas.
Querem as nossas, pagando barato.
Na década de 1990, os EUA, junto com a
Arábia Saudita, derrubaram o preço do petróleo para US$ 13 dólares e
desmontaram a União Soviética, cuja renda tem 50% de sua origem no petróleo e
estava dominando a Europa, dependente do seu petróleo e gás. Agora estão
repetindo essa estratégia, pois os BRICS, que têm na Rússia o principal suporte
tecnológico, são uma ameaça à hegemonia americana: os BRICS criaram um banco de
desenvolvimento com um fundo de US$ 100 bilhões e pretendem criar uma moeda
alternativa ao dólar. Mortal para os EUA. Sadham Hussein foi assassinado por
isto. A Arábia Saudita, aliada aos EUA, não reduziu sua produção conforme
solicitado pelos parceiros da OPEP.
Em vez disso, aumentou-a em 1 milhão de
barris por dia e fez com que o petróleo caísse de US$ 115 para US$ 45 por
barril. Com isto, Rússia, Venezuela e Irã se enfraqueceram economicamente. Além
disto, o pré-sal deixou de ser o grande trunfo que o Brasil tem para deixar de
ser o eterno país do futuro, segundo uma campanha insidiosa da mídia, que faz o
jogo do mercado e engana os brasileiros. E minou economia da Petrobras que está
sendo desmantelada pelo senhor Pedro Parente através da venda de ativos
estratégicos.
Intensa campanha foi deflagrada para
mudar o marco regulatório que resgatava o interesse do País em detrimento da
lei de concessão que dá todo o petróleo para quem produz, gerando "o pior
contrato de concessão do planeta". Aproveitaram as denúncias da Lava-Jato
e passaram a defender a privatização "para eliminar a corrupção do
petrolão. Irônico, porque as empresas capazes de produzir o pré-sal são as
empresas do cartel internacional, que são as mais corruptas e mais corruptoras
do mundo: derrubam, matam ou prendem lideranças que nacionalizaram petróleo:
Mohamed Mossadeg, no Irã, Enrico Mattei, na Itália; e Jaime Roldós (Equador),
são exemplos antigos. Sadham Hussein e Muamar Kadafi são exemplos recentes
dessa ação predatória. Conforme mostrou o Widileaks, eles atuam dentro do
Congresso.
Portanto, Brasil, Venezuela, Irã, Rússia
(e os BRICS) são alvo da mesma estratégia geopolítica dos países hegemônicos
petróleo-dependentes. Derrubaram Dilma Rousseff não pelos seus grandes erros,
mas pelos seus acertos em defesa do Brasil. Estão sabotando Maduro o tempo
todo.
·
A Petrobras não
tem condições técnicas e econômicas de explorar o pré-sal?
FS - Falácia gigantesca. A Petrobras tem
mais condição do que qualquer outra empresa do setor para produzir o pré-sal,
tecnologicamente falando. Economicamente também a empresa tem condições
excepcionais, pois tem reservas, já descobertas, de cerca de 50 bilhões de
barris. A US$ 50 por barril são US$ 2,5 trilhões. O custo total de produção,
como já dito, é de US$ 20 por barril. Por outro lado, a dívida líquida da
empresa é da ordem de US$ 90 bilhões, irrisória diante do grande patrimônio da
Companhia. Vale lembrar que a Shell perfurou o campo de Libra até 3990m e o
devolveu à ANP como subcomercial. A Petrobras perfurou Libra e achou o maior
campo do mundo. Se não fosse a Petrobras, Libra e o pré-sal não teriam sido
descobertos.
·
Por que o governo
Temer e seus aliados no Congresso defendem a entrega das nossas reservas na
camada pré-sal?
FS - O golpe dado no País, reconhecido
até pelo Papa Francisco, foi para colocar no Governo os vendilhões da Pátria. A
maioria deles envolvidos e citados na Lava-jato. O programa do PMDB "A
Ponte para o futuro (...dos EUA)" prevê isto. O Serra, segundo o
Wikileaks, prometeu à Chevron que, se eleito presidente, derrubaria a Lei de
Partilha. Eleito senador fez o projeto PLS 131, ou 4567 na Câmara, que tira a
Petrobras do Pré-sal; Temer colocou na Petrobras o Pedro Parente, que no
período 1999 a 2003, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras,
participou de um trabalho de desmonte da Companhia para desnacionalizar,
chegando a mudar o nome para Petrobrax. Agora está retomando esse projeto,
vendendo os ativos mais estratégicos para consumar o trabalho. Vendeu a malha
de gasodutos do Sudeste (60% do transporte de gás do país), um monopólio
natural, para grupo estrangeiro, Brokfield, formado por fundos especuladores
(abutres?) internacionais. A Petrobras será refém deles.
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A quem interessa
que seja sancionado o Projeto de Lei 4567/16, de autoria do então senador José
Serra (PSDB), que desobriga a Petrobras de ser a operadora na exploração do
pré-sal, no regime de partilha?
FS - Como mencionado acima, aos países
hegemônicos que precisam de petróleo, mormente os EUA, que tem uma reserva de
40 bilhões de barris, incluindo o Shale gás, e consomem cerca de 10 bilhões por
ano. E as suas empresas (Anglo-americanas) que formam o cartel internacional do
petróleo. Elas já dominaram 90% das reservas mundiais e, hoje, dominam menos de
5%. Precisam de reservas para sobreviver. Desobrigada, a Petrobras nem
participará dos leilões, pois o Sr. Parente vendeu um dos melhores campos do
pré-sal, o Carcará, já descoberto, com três poços perfurados e comprovado, o
que a Petrobras irá fazer nos novos leilões? Nada. O pré-sal, portanto, irá
ficar livre para as empresas internacionais mais corruptas do planeta. Elas
terão imensos lucros com o pré-sal. Todos os países que entregaram o seu
petróleo para elas estão na miséria – Angola, Gabão, Nigéria e outros.
·
O que o senhor
acha de uma Petrobras 100% estatal?
FS - Acho que não é bom. Apenas o
Governo deve deter a maioria das ações com direito a voto. A Noruega, que era o
segundo país mais pobre da Europa, descobriu o petróleo no Mar do Norte, criou
a Statoil, que tem ações no mercado, mas o governo tem maioria, ela trabalhou
bem e a Noruega passou a ser o país mais desenvolvido do mundo, o melhor IDH dos
últimos cinco anos. Ser 100% estatal gera muita interferência (espúria) dos
políticos e do governo. Nossos governantes estão longe de ter credibilidade
para isto. Aliás, estive estudando a forma de governo do Brasil. E concluí: não
é democracia, pois vivemos as ditaduras da mídia, dos políticos corruptos e da
morosidade do Judiciário. Pesquisando no Wikipedia acabei achando o verdadeiro
regime político: Plutocleptocracia: Governo de corruptos sustentado pelos ricos
do "Mercado". Segundo o americano John Perkins, o mercado é a
corporatocracia americana, ou seja, o complexo
financeiro/petroleiro/armamentista/CIA. Eles, coordenados pelo CFR - Conselho
de Relações Internacionais, estabelecem a (Des)ordem mundial. A favor deles,
claro. Por isto é preciso criar a "Jet Wash" – lava-jato
internacional para inibir as compras de líderes nacionais.
www.brasil247.com.br 28/10/2016
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