Tereza Cruvinel
O ano vai se fechando em ambiente
desolador. A economia tateia em busca dos invisíveis “sinais de recuperação”
mencionados pelo ministro da Fazenda, o Congresso apaga a luz para fugir da
crise e Temer hesita em fazer um pronunciamento ao país temendo panelaços e seu
governo torce para que o ministro Teori Zavascki tranque a cadeado as delações
da Odebrecht.
É das ruas que pode vir o empurrão para
remover o governo ilegítimo e abrir o caminho para as eleições diretas, mas as
esquerdas não conseguiram, até agora, a unidade fundamental em uma frente para
a travessia da crise com o povo, e não pelo arranjo das elites. Esta é a tarefa
que se impõe às oposições para o início de 2017.
Por que a frente ainda não vingou,
embora todos saibam de sua importância para organizar a pressão das ruas e
exigir uma saída democrática da situação calamitosa criada pelo golpe? Até
agora foram as duas coalizões de movimentos sociais – a Frente Brasil Popular e
a Frente Povo Sem Medo – que puxaram as mobilizações, tanto no curso do golpe
como depois, contra as medidas socialmente regressivas do governo Temer.
Os partidos de esquerda vão a reboque,
abdicando de ser a vanguarda de um amplo movimento para forçar a convocação de
eleições diretas, quando até protagonistas do golpe, como o senador Ronaldo
Caiado, reconhecem que o prolongamento do governo Temer será danoso ao país.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa,
diz com franqueza pernambucana: a frente de esquerda não prospera sem a
participação do PT, mas os outros partidos evitam esta associação temendo ser
contaminados pelas denúncias e pela forte rejeição ao PT. “É um movimento
defensivo compreensível, mas espero que a necessidade de somar forças acabe se
impondo”, diz ele.
O PC do B segue ao lado do PT, enquanto
Rede e PSOL, e ainda os sem representação parlamentar (PSTU, PCO etc) mantêm
distância, exceto no Congresso, onde têm votado unidos contra as medidas de
Temer.
O PSB, aliado histórico do PT, depois de
ter apoiado o golpe e ingressado na base governista, começa a desembarcar e
poderá voltar a seu antigo caminho. Quando um governo tem apenas 10% da
população, quando 63% (Datafolha) querem novas eleições, número que sobe para
91% segundo o Paraná Pesquisas, estando em curso uma agenda que liquida com
direitos e conquistas sociais; quando 65% acham que este governo fez a situação
econômica piorar, e as investigações alcançam o presidente e seus mais
importantes auxiliares, seu único sustentáculo é a maioria parlamentar corrupta
e descomprometida com a democracia.
Um pilar podre reforçado pela ausência
de uma forte manifestação da vontade popular. Para sacudir a letargia e
despertar a energia política das ruas, a organização de uma ampla frente
partidária é fundamental.
O outro fator que dificulta a
organização da frente vem dos projetos eleitorais distintos, do receio de que
uma frente que tenha o PT como força maior resulte no fortalecimento da
candidatura de Lula, apesar da ofensiva da Lava Jato para condená-lo à
inelegibilidade o quanto antes. Este é outro cálculo tão mesquinho quanto o
temor de contaminação.
Removido o governo ilegítimo e garantida
as eleições diretas, cada um poderá tomar seu rumo eleitoral, lançar seu
candidato, ainda que a unidade possa ser mais recomendável para a superação da
grande derrota sofrida não apenas pelo PT, mas por toda a esquerda, nas
eleições deste ano.
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