quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Forças progressistas desunidas ATÉ QUANDO?


Tereza Cruvinel

O ano vai se fechando em ambiente desolador. A economia tateia em busca dos invisíveis “sinais de recuperação” mencionados pelo ministro da Fazenda, o Congresso apaga a luz para fugir da crise e Temer hesita em fazer um pronunciamento ao país temendo panelaços e seu governo torce para que o ministro Teori Zavascki tranque a cadeado as delações da Odebrecht.

É das ruas que pode vir o empurrão para remover o governo ilegítimo e abrir o caminho para as eleições diretas, mas as esquerdas não conseguiram, até agora, a unidade fundamental em uma frente para a travessia da crise com o povo, e não pelo arranjo das elites. Esta é a tarefa que se impõe às oposições para o início de 2017.

Por que a frente ainda não vingou, embora todos saibam de sua importância para organizar a pressão das ruas e exigir uma saída democrática da situação calamitosa criada pelo golpe? Até agora foram as duas coalizões de movimentos sociais – a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo – que puxaram as mobilizações, tanto no curso do golpe como depois, contra as medidas socialmente regressivas do governo Temer.

Os partidos de esquerda vão a reboque, abdicando de ser a vanguarda de um amplo movimento para forçar a convocação de eleições diretas, quando até protagonistas do golpe, como o senador Ronaldo Caiado, reconhecem que o prolongamento do governo Temer será danoso ao país.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa, diz com franqueza pernambucana: a frente de esquerda não prospera sem a participação do PT, mas os outros partidos evitam esta associação temendo ser contaminados pelas denúncias e pela forte rejeição ao PT. “É um movimento defensivo compreensível, mas espero que a necessidade de somar forças acabe se impondo”, diz ele.

O PC do B segue ao lado do PT, enquanto Rede e PSOL, e ainda os sem representação parlamentar (PSTU, PCO etc) mantêm distância, exceto no Congresso, onde têm votado unidos contra as medidas de Temer.

O PSB, aliado histórico do PT, depois de ter apoiado o golpe e ingressado na base governista, começa a desembarcar e poderá voltar a seu antigo caminho. Quando um governo tem apenas 10% da população, quando 63% (Datafolha) querem novas eleições, número que sobe para 91% segundo o Paraná Pesquisas, estando em curso uma agenda que liquida com direitos e conquistas sociais; quando 65% acham que este governo fez a situação econômica piorar, e as investigações alcançam o presidente e seus mais importantes auxiliares, seu único sustentáculo é a maioria parlamentar corrupta e descomprometida com a democracia.

Um pilar podre reforçado pela ausência de uma forte manifestação da vontade popular. Para sacudir a letargia e despertar a energia política das ruas, a organização de uma ampla frente partidária é fundamental.

O outro fator que dificulta a organização da frente vem dos projetos eleitorais distintos, do receio de que uma frente que tenha o PT como força maior resulte no fortalecimento da candidatura de Lula, apesar da ofensiva da Lava Jato para condená-lo à inelegibilidade o quanto antes. Este é outro cálculo tão mesquinho quanto o temor de contaminação.

Removido o governo ilegítimo e garantida as eleições diretas, cada um poderá tomar seu rumo eleitoral, lançar seu candidato, ainda que a unidade possa ser mais recomendável para a superação da grande derrota sofrida não apenas pelo PT, mas por toda a esquerda, nas eleições deste ano.


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