EM 2016, PETROBRAS COMPROMETEU SEU FUTURO
Felipe Coutinho*
O ano de 2016 se caracteriza pelo avanço
das privatizações, pelas mentiras repetidas sobre a Petrobras e pelo sucesso na
produção do pré-sal que já representa quase 50% da produção nacional e acumula
mais de 1 bilhão de barris produzidos.
O Brasil vive dias turbulentos e faz
parte de um mundo controlado pelo capital financeiro e em crise. São crises na
ordem econômica, ambiental, humanitária, diplomática, além da barbárie das
guerras. Povos são divididos pelo acirramento das diferenças religiosas, étnicas,
culturais, da língua que se fala e da origem imigrante ou regional. Não
percebem que são manipulados, jogados uns contra os outros, enquanto se disputa
a nova partilha do poder político para atender a interesses econômicos
particulares. Trato da conjuntura política em "A história acelera seus
passos, mas quem dá a direção?"
A indústria do petróleo passa mais um
ano difícil. O preço do petróleo, apesar de relativamente alto em termos
históricos, é baixo para compensar os elevados custos de exploração e produção
em termos médios e mundiais. Em "O preço do petróleo e o sinal dos
tempos", abordo aspectos estruturais que impactam toda a indústria e a
economia em virtude dos limites ao acesso do petróleo barato de se produzir.
Sob o falso argumento de que não há
alternativa para lidar com o endividamento, foram alienados ativos rentáveis e
estratégicos. Assim a Petrobras compromete o fluxo de caixa futuro e entrega
seu mercado a concorrentes ou intermediários. A desintegração ainda traz riscos
empresariais desnecessários ao tornar a geração de caixa vulnerável a variação
dos preços relativos do petróleo e de seus derivados.
Foram alienados campos de petróleo,
malha de gasodutos, unidades petroquímicas, usinas térmicas, terminal de
gaseificação e participações na produção de etanol.
Em "Existe alternativa para reduzir
a dívida da Petrobras sem vender seus ativos" evidenciamos o equívoco da
escolha política e empresarial de alienação de ativos, e revelamos que ela é
desnecessária. Apresentamos alternativa que preserva a integridade corporativa
da Petrobras e a sua capacidade de investir, na medida do desenvolvimento
nacional e em suporte a ele. Enquanto garante a sustentação financeira, tanto
pela redução da dívida, quanto pela preservação da geração de caixa a médio
prazo.
Em “Venda dos gasodutos da NTS: um
prejuízo maior do que o revelado pela Lava-jato? ” a Associação dos Engenheiros
da Petrobras (AEPET) demonstra que a venda dos gasodutos, um monopólio natural,
a um intermediário de capital internacional é prejudicial à Petrobras e aos
consumidores.
O Plano Estratégico da Petrobras (PE
2017-21) prevê a saída integral da produção de biocombustíveis. A decisão de
desistir da produção de biodiesel e de etanol é um erro que compromete a
sustentação empresarial e os compromissos ambientais brasileiros apresentados a
COP-21, em Paris. A participação dos biocombustíveis é cada vez maior na matriz
energética brasileira e mundial, o etanol compete com a gasolina, enquanto o
biodiesel ocupa o mercado do diesel. As multinacionais investem pesado em
pesquisa e participam cada vez mais do setor, enquanto os acordos multilaterais
impõem restrições às emissões de gases do efeito estufa que são gerados pela
queima dos combustíveis fósseis. Na contramão dessas tendências a Petrobras
regride ao sair da produção do biodiesel e ao vender participações em etanol. O
preço deste erro será alto e recairá sobre a estatal e a sociedade brasileira,
mais cedo do que se imagina. Revelamos que "A Petrobras erra ao abandonar
os biocombustíveis".
A Petrobras declarou, em fato relevante
de 22 de julho de 2016, que alterou o modelo de alienação da sua participação
na BR Distribuidora, sua subsidiária integral. Encerrou o processo de venda
vigente, no qual recebeu três propostas que julgou não atenderem aos objetivos
da companhia. Iniciando o novo processo, com novas regras para maximizar o
valor do negócio. Em "O valor do controle da BR Distribuidora"
demonstro que a operação prejudica a Petrobras, os consumidores e a maioria da
população brasileira.
Toda a verdade pôde ser nublada pelo
viés ideológico e privatista daqueles que ocuparam o poder e contam com a mídia
oligopolista a serviço do capital internacional e do rentismo.
A estratégia adotada pela Petrobras
repete os erros cometidos pelas multinacionais de capital privado cujo fracasso
relato em "O fracasso da gestão das multinacionais do petróleo e as lições
para a Petrobras". E também na "Carta à sociedade brasileira sobre a
estratégica da Petrobras".
Defendemos a preservação da Lei da
Partilha, demonstramos que a liderança da Petrobras no pré-sal favorece a
maioria da população porque garante seu maior acesso aos benefícios da
atividade e da renda petroleira. Em vídeo, audiência pública no congresso,
entrevistas e documentos detalhamos nossos argumentos.
Neste ano o Congresso aprovou o
substitutivo do senador Romero Jucá (PMDB-RR) ao projeto PLS 131/2015 do José
Serra (PSDB-SP) que retira da Petrobras a liderança legal na operação no
pré-sal, sob o eufemismo de preservar a sua preferência. Documentamos nossos
pontos de vista em “AEPET responde aos argumentos do Senador José Serra sobre
seu projeto que retira da Petrobras a condição de operadora única no pré-sal”.
Nossas opiniões foram expressas à
direção da Petrobras e aos acionistas minoritários em Cartas, Manifestos e
Votos divulgados para nossos associados e a sociedade.
* Presidente da Associação de
Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
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