Taxa de juros e
a maquiagem de 0,75%
Num país onde a taxa de juros é uma
indecência legalizada, ninguém tem o direito de criticar a redução de 0,75%
anunciada pelo Copom. (Pode-se até reivindicar uma redução maior – mas o
debate, aqui, não é este).
Ninguém tem o direito, porém, de
imaginar que o caminho para a recuperação do crescimento foi aberto a partir
desta decisão. Para começar, a taxa básica de juros – agora em 13% – continua
impraticável para servir de estímulo aos investimentos e a criação de empregos.
Outra questão é que mesmo uma taxa de
juros muito mais baixa do que 13% está longe de constituir – isoladamente – um
remédio infalível para se enfrentar um ambiente de estagnação econômica e
destruição do aparato produtivo de um país ou mesmo de uma região econômica. A
experiência ensina duas coisas: taxas altas de juros costumam funcionar como um
obstáculo intransponível para o crescimento mas a recíproca nem sempre é
verdadeira.
O prolongado pântano da economia
europeia, principal foco de doença da economia mundial, é um caso didático a
esse respeito. Em estagnação permanente desde o colapso dos derivativos de
2008/2009, a União Europeia tem praticado os juros mais baixos de sua história
recente – sem resultados significativos.
Entre 2009 e 2011, a taxa de juros
europeia ficou em 1%. Caiu para 0,75% no último trimestre de 2012, desceu para
0,5% em maio de 2013 e desde maio de 2016 se encontra em 0%. Salvo pequenas
oscilações, estatísticas que nem de longe beneficiaram a maioria das pessoas
nem serviram para alterar o quadro geral, nada ocorreu para diminuir o
desemprego nem para alterar o ambiente social e muito menos criar um horizonte
de confiança. A instabilidade política explica-se por isso.
Com uma imensa quantidade de clientes
quebrados, e juros baixos demais, o sistema bancário europeu prefere entesourar
os recursos em seu cofres em vez de fazer empréstimos para empresas e
correntistas que não transmitem a menor segurança quanto a capacidade de honrar
seus compromissos. Neste ambiente, mesmo a Alemanha de Angela Merkel, até há
pouco uma potência regional, dá sinais de enfraquecimento.
Este é o curso atual da economia
brasileira e nada indica que ela seguirá um rumo diferente, com a dupla
Temer-Meirelles no comando do Estado. Juntos, desde maio de 2016 os dois
tomaram diversas medidas de política econômica, que nada mais representam do
que tentativas de cortar pela raiz todas as possibilidades do Estado contribuir
para uma retomada do crescimento através dos investimentos.
Esse é o centro da PEC do teto dos
gastos, que simplesmente proíbe o governo de elevar investimentos que poderiam
estimular o crescimento – durante 20 anos.
Pela mesma razão, o governo quer
aproveitar toda e qualquer oportunidade para esvaziar empresas públicas que
poderiam mudar o rumo das coisas, seja no plano do crédito – pela Caixa, Banco
do Brasil, BNDES – seja em obras de infraestrutura, a começar pela Petrobras. O
estrangulamento dos governos estaduais faz parte do mesmo programa.
Útil para disfarçar momentaneamente a
fantasia de um governo que necessita de notícias favoráveis, a redução de 0,75%
é parte de um ambiente desesperador e sem perspectivas.
Mesmo a queda da inflação só pode ser
anunciada através de sorrisos amarelos – pois os preços caíram pela queda de
consumo produzida por uma recessão histórica. Não é a economia que ficou mais
equilibrada mas o povo é que está comendo menos.
Coerentes no próprio erro, conduzem o
país para um desastre sem saída. Uma das lições da crise de 2008/2009 é que nem
mesmo os Estados Unidos, pátria do liberalismo econômico, foi capaz de tirar o
pé do atoleiro sem apoio do Estado. Foi assim que, entre outras medidas, Barack
Obama realizou uma estatização parcial do setor automobilístico. Apesar de seus
vergonhosos momentos de delírio, nem os projetos de Donald Trump ignoram isso.
Esta é a situação real. Sem capacidade
para qualquer mudança, o recurso é vestir uma máscara.
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