domingo, 5 de fevereiro de 2017

A CONFISSÃO

A CONFISSÃO
Moreira no Ministério não é nomeação, é confissão
Fernando Brito
Poucas coisas na política brasileira foram tão deploráveis quanto a elevação de Moreira Franco à condição de Ministro em função das delações premiadas mais que suficientes para estabelecer que é ele um dos operadores de Michel Temer.
A começar da incrível diferença com que este assunto foi tratado em relação à frustrada indicação de Lula para a Casa Civil de Dilma Rousseff, que escandalizou os comentaristas da mídia e ao Supremo, que a impediu de concretizar-se.
A nomeação de Lula era claramente política: um governo em desagregação, sabotado por todos os lados, precisava de uma figura política de primeira grandeza um interlocutor de largo trânsito para salvar-se o destino que já lhe tinha sido traçado: o do impeachment.
Lula, por maior que pudesse ser sua relação com Dilma, não habitava Brasília, não integrava o governo, não podia encaminhar acordos ou decisões.
Ao contrário, fora do Governo, tudo o que fizesse seria, automaticamente, “interferência”.
A nomeação de Moreira Franco, ao contrário, é apenas um “privilégio de foro”
Moreira é, desde que foi escorraçado do Governo do Rio de Janeiro, uma figura da penumbra. “Personal consultant” de Fernando Henrique, segundo Eliane Cantanhêde, “confiável se longe do cofre”, para o ferino Antonio Carlos Magalhães, foi enfiado por Temer nos governos Lula e Dilma. E tornou-se, ao ser expelido, o pilar “teórico” da conspiração, com sua “Ponte para o Futuro”, reduzida a “pinguela” por seu ex-chefe FHC.
Citado diretamente na delação da OAS, brecada por Rodrigo Janot e repetido nas delações da Odebrecht, Moreira é um Geddel Vieira Lima que não palita os dentes em público. Não tem a menor simpatia no parlamento, não articula politicamente senão com quem tem negócios com o Governo.
Na iminência da conclusão das delações da Odebrecht, guindá-lo á condição de ministro – para, aliás, fazer o mesmo nada que fazia no Planalto, a não ser estruturar os esquemas de privatizações – não é uma nomeação, é uma confissão.
A “gangue dos quatro” – Primo Padilha, Babel Geddel e o líder Michel Temer – sabe que o Angorá tem tão pouco caráter que, apertado, não hesitaria em, como sempre fez, empurrar adiante as responsabilidades por negócios.

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