O silêncio
vergonhoso
Donato
Michel Temer fez um teatrinho. Simulando
uma ‘reforma ministerial’, aproveitou para ressuscitar a Secretaria-Geral da
Presidência – uma pasta que havia sido extinta por Dilma Rousseff em 2015 – com
a finalidade de ali acomodar seu parceiro Moreira Franco.
Moreira Franco, ou “Angorá” segundo os
apelidos listados em planilhas, passa assim a gozar de foro privilegiado. A
alcunha é antiga, quem o batizou foi Leonel Brizola, antecessor de Moreira
Franco no governo do Rio de Janeiro. “A característica do gato angorá é passar
de colo em colo”, dizia Brizola.
Citado 34 vezes por Cláudio Melo Filho
(ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht), como destinatário
de bufunfa para que defendesse os interesses da empreiteira, o peemedebista
agora só pode ser julgado pela Suprema Corte.
Tudo isso na mesma semana em que o
Supremo Tribunal Federal homologou as 77 delações premiadas de executivos da
Odebrecht.
Não é uma coincidência fantástica?
Quando Lula foi anunciado provável
ministro da Casa Civil por Dilma em março do ano passado, populares patriotas
ensandecidos, sanguinários contra a corrupção, foram para a Avenida Paulista e
de lá não arredaram pé por mais de 40 horas.
Foi quando nasceu o acampamento em
frente ao prédio da FIESP que ali permaneceu meses a fio, proporcionando
centenas de momentos de tensão e conflitos, palco da festa do impeachment.
Onde estão aquelas pessoas que
carregavam o discurso de que a ‘limpa’ seria geral, que primeiro tirariam
Dilma, mas depois derrubariam todos? Não eram todos?
O que dirá agora a jornalista global
Cristiana Lobo que fez campanha contrária à indicação de Lula desde quando
ainda era mera intenção na cabeça de Dilma, alardeando para o perigo e
descalabro de tal medida? Gilmar Mendes idem. Silêncio, agora?
Testemunhamos mais um exemplo perfeito
de um peso, duas medidas. O atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse
hoje que não há paralelo com o que ocorreu com Lula. “Lula não estava no
governo [quando foi indicado]. Moreira já estava agindo como ministro, apenas
recebe agora o título. É uma grande diferença”, disse o ministro Padilha, que
depois ainda emendou: “Delações citando membros do governo por si só não provam
nada.”
Como ninguém pensou nisso antes?
“Estão criando um ministério com o claro
intuito de proteger e dar foro privilegiado a Moreira”, afirmou o senador
Lindbergh Farias.
Ele tem toda razão.
“Sem foro, é Moro” é uma frase já
recorrente em Brasília quando o assunto é Moreira Franco. Hoje ele é
secretário-executivo do PPI (Programa de Parcerias em Investimentos), portanto
a água estava alcançando seu pescoço. O cargo de ministro é sua tábua de
salvação. Ele, obviamente, nega irregularidades.
“Isso nunca esteve entre as minhas
preocupações”, falou o mais novo membro do clube dos blindados pelo poder.
‘Angorá’ deu um gato na justiça. A
partir de agora seu nome sai do Excel das propinas e entra para a lista dos
protegidos no Supremo Tribunal Federal. Coisas do Brasil de 2017, que comemora
a morte de Dona Marisa Letícia, que assiste passivamente ao presidente golpista
manobrar à vontade, fazer e acontecer, descumprindo inclusive compromissos
firmados com o povo pró-impeachment. Sua retórica não era a de reduzir
ministérios? Com a tal reforma ministerial, aumentou em mais dois.
O ‘gigante’ voltou a dormir e ‘Angorá’
se aninhou em um novo e protegido colo.
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