domingo, 5 de fevereiro de 2017

PÂNICO GERAL ENTRE AS ELITES DO MUNDO

Pânico geral entre as elites do mundo

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Alarmados, angustiados, traumatizados, confusos, petrificados, lívidos… É difícil encontrar um qualificativo que reflita o estado de espírito dos dirigentes euro-atlânticos e da imprensa que lhe é fiel no momento em que Donald Trump acede à Casa Branca.

E que dizer dos punhados de “inocentes úteis” (conforme a fórmula outrora atribuída a Lênin) que, em Berlim, Paris ou Londres, desfilaram com o delicioso slogan: “Este não é meu presidente”… O que dizer se isto não é o apontar de uma linha de fratura fundamental que se esboça progressivamente tanto em numerosos países europeus quanto nos Estados Unidos, assim como em outros lados do mundo: entre camadas médias mais abastadas, urbanas, intelectuais e almejando a mundialização, e uma classe operária que sofre desprezo e atomização desde há décadas.

Entre os primeiros que pensam em “valores” e os segundos em “interesses”, mesmo na sobrevivência social pura e simples. Entre, de um lado, aqueles que se mobilizam “contra o ódio” (!) e, do outro, aqueles que se mobilizam pelo emprego. Simplificação excessiva? Talvez. Mas esta polarização de classe que emerge não está senão no princípio. E tanto melhor se os segundos recuperam esta dignidade, esta existência e estes papéis coletivos que lhes foram negados pelos cantores da globalização econômica e também ideológica.

Ouçamos estes últimos. “É o fim do mundo!”, lamentou-se Manuel Valls (BFMTV 16/01/17), que não se referia aos resultados da primária socialista e sim à perspectiva de uma “aliança entre Trump e Putin”. “Donald Trump está decidido a destruir o projeto europeu”, espantava-se o editorial de Libération (18/01/17). E Le Monde (19/01/17) tocava o sinal de alarme: “O presidente dos Estados Unidos lançou-se numa operação deliberada de desestabilização da Alemanha (…) é toda a Europa que é atacada”.

A Europa está confrontada com um dos “maiores desafios destas últimas décadas” alerta por sua vez Angela Merkel. O comissário europeu Pierre Moscou choca-se: “Tem-se uma administração americana que deseja o desmantelamento da União Europeia, isto não é possível!”. Quanto ao secretário de Estado americano cessante, ele exortou a nata das elites mundializadas reunida em Davos a “recordar porque fizemos juntos esta viagem de 70 anos”. John Kerry parece assim evocar o eixo euro-atlântico… no passado.

Este pânico geral – que não se pode deixar de saborear – é compreensível. Pois, numa entrevista publicada alguns dias antes da sua posse, Donald Trump confirmou os elementos que já faziam tremer tanto os governantes da União Europeia como o establishment de Washington durante a sua campanha eleitoral. Ora, como observou o primeiro-ministro francês Manuel Valls, decididamente inspirado, “esqueceu-se que um populista pode querer por em ação o seu programa”.

Será este o caso com o novo hóspede da Casa Branca?
Por enquanto, deve-se manter a prudência. Mas se o senhor Trump passa, ainda que apenas parcialmente, das palavras aos atos, então sim, isto será mesmo o fim de um mundo, o início de uma mudança de era histórica.

Pois o que disse o bilionário na entrevista publicada pelo jornal alemão Bild e pelo inglês The Times? Que o Reino Unido foi “inteligente” ao abandonar a União Europeia; que este não era senão o “veículo da potência alemã”; que esperava que muitos outros Estados imitassem o Brexit; que se rejubilava em preparar um acordo comercial separado com Londres; que o livre comércio mundial (portanto o TTIP, nomeadamente) era doravante caduco; que à indústria automobilística alemã poderia muito bem serem impostos importantes direitos alfandegários se isso encorajasse o emprego nos Estados Unidos; e que a chanceler havia cometido um “erro catastrófico” com a sua política de portas abertas aos refugiados.

Pior – ou melhor: o presidente americano confirmou que considerava a OTAN “obsoleta” e que um grande acordo com Moscou tendo em vista o desarmamento nuclear “seria de interesse de muita gente”; e que, consequentemente, as sanções contra a Rússia poderiam ser postas em causa. Mobilizando todo o seu sentido da retórica, o secretário-geral da Aliança Atlântica diz-se “preocupado”. Le Monde enraivecia-se já no fim de Dezembro (22/12/16): o senhor Trump “quer ser o homem da renovação industrial americana, não o xerife de uma ordem democrática ocidental para manter e propagar”. Imperdoável! Em Davos, Joseph Biden, ainda vice-presidente americano durante dois dias, lançou um apelo desesperado para “salvar a ordem liberal internacional”…

Dezesseis antigos chefes de Estado ou de governo e ministros – essencialmente dos países da Europa – haviam, pouco antes, alertado contra o perigo maior de um reaquecimento das relações com a Rússia: “a confiança e a amizade seriam um grave erro”, escreviam sem piscar.

Será preciso então estranhar a histeria crescente contra a Rússia? Moscou é confusamente acusada de promover (com êxito crescente) a sua mídia focada no Ocidente, de invadir as redes sociais com falsas notícias e piratear os computadores das instituições ocidentais. Segundo a CIA, a NSA e o FBI – e Deus sabe que estas nobres chafaricas não podem dizer senão a verdade – Vladimir Putin teria assim influenciado a eleição americana em favor do seu favorito e, certamente, aberto a champanhe.

Retransmitido por Arte (06/01/13), o grande chefe demissionário da informação, James Clapper, fez uma declaração assim: “Os russos têm uma longa experiência de ingerência eleitoral, quer se trate dos seus próprios escrutínios ou os dos outros”. Humor involuntário?

E assim, o hóspede do Kremlin estaria se preparando para levar pela mão os eleitores holandeses, franceses, depois os alemães, que comparecerão às urnas em 2017, para que tantos uns como outros escolhessem formações contra a União Europeia (ou consideradas como tal).

Pois, evidentemente, sem estas sombrias manobras, os cidadãos estariam entusiasmados para plebiscitar uma União Europeia cada vez mais popular e legítima.

Mais um golpe, Vladimir Vladimirovitch Putin?



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