O problema da República:
como soltar Eduardo Cunha
Fernando Brito
A lógica da política já é complicada. A
da política bandida, quase indecifrável. E quando o banditismo político
infiltra-se em meio às togas, aí se passa a ter de raciocinar com o pressuposto
do crime e da conspiração nas próprias instituições, já não apenas nos homens.
Há muita gente achando que a súbita
sinceridade de José Yunes, dispondo-se a fazer o papel de velho “bobo”, é parte
de uma estratégia que aceita degolar o entorno de Temer – Geddel já foi,
Moreira Franco é um morto-vivo político (mesmo antes, prestava-se mais a
negócios, para o que hoje está interditado)
e Eliseu Padilha agora só vai ficar a salvo enquanto permanecer no
hospital.
O PSDB vai se assenhoreando do governo
de fato e o PMDB vai sendo “escanteado”.
Mas há um problema na “transição tucana”
do Governo Temer.
Está em Curitiba e chama-se Eduardo
Cunha.
Como dito no post anterior, Cunha provou
ter nas mangas todos os trunfos de intimidade com esquemas financeiros de
Michel Temer e mostra a ponta das cartas
quase que como a gritar por ser libertado, com o ressentimento de um
vitorioso no golpe que foi descartado logo ao início do pós-golpe.
Talvez os episódios de ontem – a
confissão de Yunes e a nomeação de Osmar Serraglio, ex-homem de confiança de
Cunha, para o Ministério da Justiça – sejam parte da solução do “problema”.
Solução que parece ter começado a
evidenciar-se com a fala de Gilmar Mendes dizendo que o STF tem um encontro
“com as alongadas prisões de Curitiba”.
A dificuldade é “combinar com os russos”
da opinião pública.
Soltar Cunha será um escândalo que razão
jurídica alguma conseguirá abafar, pois “venderam” ao país que prisão
preventiva, dependendo de quem, pode ser eterna. De forma mais simples: que a
prisão precisa mais de razões morais do que legais.
Soltar Cunha é também dizer adeus a uma
estratégia que está, hoje, meio em banho-maria: a de prender Lula.
Depois de terem “perdido o timing“, como
disse aquele delegado falastrão, para prendê-lo, o que vem se desenhando é
acelerar os processos e levar o caso logo à condenação – ou alguém duvida que o
veredito de Moro já está pronto, devidamente retocado com honras de estilo e
falsa erudição, para ficar como documento histórico do “anjo vingador” e
confirmar a sentença em 2ª instância, no Tribunal Regional Federal, onde “tá
tudo dominado” e pronto a correr em altíssima velocidade.
Ainda assim. Complicado, porque a
condenação em segunda instância, pelo novo e feroz entendimento do Supremo, leva
à prisão do já então candidato Lula. Implicará numa cassação e na cassação do
favorito na disputa eleitoral.
Estamos nos movendo no terreno pantanoso
da traição, dos acordos secretos, da mancebia entre política e Justiça.
Tudo é imensamente imprevisível e, ao
mesmo tempo, evidente.
Somos governados por uma associação de
quadrilhas e falta pouco, muito pouco, para que a própria Justiça seja uma
delas.
www.tijolaco.com.br 24/02/2017
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