Eugênio Aragão
As frações de informação tornadas
públicas na entrevista do advogado José Yunes, insistentemente apresentado
pelos esbulhadores do Palácio do Planalto como desconhecido de Michel Temer, embrulham
o estômago, causam ânsia de vômito em qualquer pessoa normal, medianamente
decente.
Conclui-se que Temer e sua cambada
prepararam a traição à Presidenta Dilma Rousseff bem antes das eleições de
2014. A aliança entre o hoje sedizente presidente e o correntista suíço Eduardo
Cunha existia já em maio daquele ano, quando o primeiro recebeu no Palácio do
Jaburu, na companhia cúmplice de Eliseu Padilha, o Sr. Marcelo Odebrecht, para
solicitar-lhe a módica quantia de 10 milhões de reais. Não para financiar as
eleições presidenciais, mas, ao menos em parte, para garantir o voto de 140
parlamentares, que dariam a Eduardo Cunha a presidência da Câmara dos
Deputados, passo imprescindível na rota da conspiração para derrubar Dilma.
Temer armou cedo o golpe que lhe daria o
que nunca obteria em uma disputa democrática: o mandato de Presidente da
República. Definitivamente, esse sujeitinho não foi feito para a democracia. É
um gnomo feio, incapaz de encantar multidões, sem ideias, sem concepções, sem
voto, mas com elevada dose de inveja e vaidade. Para tomar a si o que não é
seu, age à sorrelfa, à imagem e semelhança de Smeágol, o destroncado monstrengo
do épico "O Senhor dos Anéis".
Muito ainda saberemos sobre o mais
vergonhoso episódio da história republicana brasileira, protagonizado por
jagunços da política, gente sem caráter e vergonha na cara, que só conseguiu
seu intento porque a sociedade estava debilitada, polarizada no ódio plantado
pela mídia comercial e reverberado com afinco nas redes sociais, com a inestimável
mãozinha de carreiras da elite do serviço público.
O resultado está aí: o fim de um projeto
nacional e soberano de desenvolvimento sustentável e inclusivo. A mais profunda
crise econômica que o país já experimentou. A desconstrução do pouco de
solidariedade que nosso Estado já prestou aos mais necessitados. A troca do
interesse da maioria pela mesquinhez gananciosa e ambiciosa da minoria que,
"em nome do PIB" ou "do mercado", se deu o direito de
rasgar os votos de mais de 54 milhões de brasileiras e brasileiros.
Rasgaram-nos pela fraude e pelo corrompimento das instituições, com o único
escopo de liquidar os ativos nacionais e fazer dinheiro rápido e farto, como na
privatização de FHC. Dinheiro que o cidadão nunca verá.
É assim que se despedaça e trucida a
democracia: dando o poder a quem perdeu as eleições, garantindo aos derrotados
uma fatia gigantesca do governo usurpado e até a nomeação de um dos seus para o
STF, para assegurar vida mansa a quem tem dívidas com a justiça.
A piscadela de Alexandre de Moraes a
Edison Lobão, na CCJ, diz tudo.
Assistiremos a tudo isso sem nenhum
sentimento de pudor?
A essa altura dos acontecimentos, o STF
e a PGR só podem insistir na tese da "regularidade formal" do
impedimento da Presidenta Dilma Rousseff com a descarada hipocrisia definida
por Voltaire como "cortesia dos covardes".
Caiu o véu da mentira. Não há mais como
negar: o golpe foi comprado e a compra negociada cedinho, ainda no primeiro
mandato de Dilma. O golpe foi dado com uma facada nas costas, desferida por
quem deveria portar-se com discreta lealdade diante da companheira de chapa. O
Judas revelado está.
E os guardiões da Constituição?
Lavarão as mãos como Pilatos - ou
tomarão vergonha na cara?
*Eugênio Aragão é sub-procurador-geral
da República e foi ministro da Justiça no governo de Dilma Rousseff antes do
golpe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário