Fernando Brito
Certamente não é por gosto que Michel
Temer assumirá, pessoalmente, o troca-troca com a Câmara dos Deputados para a
aprovação – “no que der” – da reforma da Previdência. Porque passar, tal como
está, nem mesmo nos seus delírios noturnos ele sabe ser impossível.
É absoluta e desastrosa necessidade.
A confirmação de que a licença médica de
Eliseu Padilha se estenderá por até três semanas, dada por Sonia Racy, no
Estadão – talvez a agonia política do quase ex-Ministro da Casa Civil não dure
tanto – ratifica o que todos vêm percebendo: caíram ou foram para o canto do
tabuleiro todas as peças em torno do Rei e ele passa a ter de se defender com
movimentos próprios, que são extremamente limitados quando se é presidente da
República.
Isso é uma regra básica que, aliás,
Temer ignorou no seu famoso jantar no Palácio do Jaburu, quando pediu quantia
certa e com destino (já não tão certo) ao empresário Marcelo Odebrecht , o que
lhe rende os “pacotes” em que se vê embrulhado agora.
É que há distância entre intenção e
gesto.
Da intenção, no máximo, poderia tratar
aquele homem que queria ser rei e se tornou, afinal, pela traição.
O gesto fica para outra hora, nunca a
mesma, e para seus auxiliares.
Mesmo que as moedas sonantes, agora,
sejam “apenas” cargos e influências, igual não conviria que o próprio presidente
tivesse de tratar, nos seus detalhes, dos gestos da cooptação, sobretudo com
uma clientela bem menos discreta que Marcelo Odebrecht.
Não conviria, mas não há outro jeito,
porque aquilo que sobrou a Temer para usar como interposta pessoa é menos que nada,
é contraproducente.
O que era possível quando tinha Cunha,
Geddel e Padilha, o “Trio Parada Dura” para lidar com o baixo clero, não é
possível fazer diretamente, ainda mais agora que há sinais cada vez mais
evidentes de que a mídia parou de lhe dar encobrimento total, como na tardia
“descoberta” da Globo de que o “Fora Temer” desfilou no Carnaval.
A ida de Temer para o balcão é – e seus
“clientes” nada bobos percebem – o clima de fim de feira de um governo que, com
tudo na mão – da mídia à inflação – só conseguiu em seus dez meses de usurpação
do poder degastar-se e sofrer baixas.
Há um clima de “não me deixem só” em
Brasília.
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