Temer já tem as
delações. E não tem para onde ir
Fernando Brito
Do experimentadíssimo Luciano Martins
Costa, no site Brasileiros, a suspeita – já certeza – de que a doença que
grassa, mesmo, no núcleo do Governo Temer é a “delatite”.
Os integrantes e associados do governo
“interino” do senhor Michel Temer já receberam cópias do conteúdo das delações
da Odebrecht.
A conclusão é dos advogados que editam o
site e boletim Migalhas,
especializado em questões jurídicas.
Para quem estranhava a súbita renúncia
do ex-ministro das Relações Exteriores José Serra, eis aí uma boa pista.
Sob o título “Ai, que dó”, a nota
observa que o advogado José Yunes acaba fazendo a revelação ao se complicar nas
explicações sobre como recebeu um pacote de dinheiro do doleiro Lúcio Funaro:
ele confessou ter atuado como “mula” do agora ministro Eliseu Padilha, da Casa
Civil.
Deve o autor, evidentemente, se
desculpar publicamente com a nobre estirpe dos muares.
“Ai, que dó” é como o Migalhas se refere
à alegação de Yunes, de que não sabia que o pacote entregue por Funaro continha
dólares.
“A informação de Yunes revela que ‘eles’
já tiveram acesso à delação da Odebrecht. E estão, todos, montando suas
versões”, diz o boletim.
O fato é muito grave e coloca uma pá de
cal sobre a credibilidade da força-tarefa que conduz a operação Lava-Jato: o
conteúdo da delação de Claudio Mello Filho, da Odebrecht, nunca foi revelado, o
que significa que a equipe liderada pelo juiz Sergio Moro vazou para os
acusados o teor das acusações, para que eles possam planejar suas defesas.
O presidente-tampax vê se desmoralizar
ainda mais seu gabinete quando o ministro Serra deixa abruptamente o cargo e
alega um problema de coluna, ou, como se apressou a divulgar a mensageira
Eliane Cantanhede (Grupo Globo e Estado de S. Paulo), Serra estava “tristinho”
no cargo de ministro das Relações Exteriores.
Serra saiu para tentar se desviar da
enxurrada de esterco que a Lava-Jato procura esconder.
Esse é o episódio que irá marcar
definitivamente as biografias dos integrantes do Supremo Tribunal Federal e do
Conselho Nacional de Justiça.
A evidência de favorecimento, por parte
dos personagens que são tidos pelos midiotas como heróis da moralidade pública,
a integrantes da quadrilha abrigados no poder federal, não admite omissão:
cumpre ao CNJ agir, cumpre ao STF dar aos brasileiros um sinal de que nem tudo
é esculhambação.
Nem se deve, a esta altura, cobrar
alguma responsabilidade da imprensa hegemônica, porque de onde nada se espera é
que nada sai, mesmo.
Mas pode-se apostar que pelo menos a
Folha de S. Paulo, o jornal que atua como uma espécie de agência privada do
ex-ministro Serra, venha a trazer alguma informação nova enquanto repinicam os
tamborins.
Os midiotas, atordoados pela comprovação
de que o impeachment de Dilma Rousseff instalou as raposas no galinheiro, não
têm mais como ficar repetindo que o mandato do senhor Temer é transitório,
porque a transição significa que se sai de um lugar para outro, e ele demonstra
não saber onde está.
Faltava ao inquilino do Planalto
legitimidade. Depois se constatou que faltava estofo e carisma para conduzir o
que, segundo seus acólitos, seria a transição para fora da crise econômica;
agora não há como esconder que falta honestidade, falta estratégia, falta
respaldo popular, falta competência.
O governo “interino” não tem para onde
ir.
Aliás, alguns de seus integrantes e
ex-integrantes têm, sim: o presídio da Papuda.
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