Considerada a "bala de prata"
contra o presidente Lula, que seria eleito mais uma vez para comandar o País se
as eleições fossem hoje, a delação do empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da
OAS, só foi aceita depois que ele decidiu mudar sua versão para incriminar o
ex-presidente.
Em junho do ano passado, segundo
reportagem de Bela Megale e Mario Cesar Carvalho, na Folha de São Paulo, a
delação "travou" depois que ele inocentou Lula.
Também no ano passado, em agosto, a
delação foi suspensa quando vazaram trechos que incriminaram o senador Aécio
Neves, e não Lula. Logo depois, a revista Veja publicou um suposto trecho
envolvendo o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, o que levou o
procurador-geral Rodrigo Janot a pedir a anulação do acordo.
Leia, abaixo, a reportagem da Folha de 1º
de junho do ano passado:
Delação de sócio da OAS trava após ele
inocentar Lula
BELA MEGALE
As negociações do acordo de delação de
Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da OAS condenado a 16 anos de prisão,
travaram por causa do modo como o empreiteiro narrou dois episódios envolvendo
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A freada ocorre no momento em que OAS e
Odebrecht disputam uma corrida para selar o acordo de delação.
Segundo Pinheiro, as obras que a OAS fez
no apartamento tríplex do Guarujá (SP) e no sítio de Atibaia (SP) foram uma
forma de a empresa agradar a Lula, e não contrapartidas a algum benefício que o
grupo tenha recebido.
A versão é considerada pouco crível por
procuradores. Na visão dos investigadores, Pinheiro busca preservar Lula com a
sua narrativa.
O empresário começou a negociar um
acordo de delação em março e, três meses depois, não há perspectivas de que o
trato seja fechado.
Pinheiro narrou que Lula não teve
qualquer papel na reforma do apartamento e nas obras do sítio, segundo a Folha
apurou. A reforma do sítio, de acordo com o empresário, foi solicitada em 2010,
no último ano do governo Lula, por Paulo Okamotto, que preside o Instituto
Lula. Okamotto confirmou à PF que foi ele quem pediu as obras no sítio.
Já a reforma no tríplex do Guarujá, pela
versão de Pinheiro, foi uma iniciativa da OAS para agradar ao ex-presidente. A
empresa gastou cerca de R$ 1 milhão na reforma do apartamento, mas a família de
Lula não se interessou pelo imóvel, afirmou ele a seus advogados que negociam a
delação, em versão igual à apresentada por Lula.
CORRIDA
Condenado em agosto do ano passado por
corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Pinheiro corre para
fechar um acordo porque pode voltar para a prisão neste mês, quando o TRF
(Tribunal Regional Federal) de Porto Alegre deve julgar o recurso de seus
advogados.
O risco de voltar à prisão deve-se à
mudança na interpretação da lei feita pelo Supremo Tribunal Federal em
fevereiro deste ano, de que a pena deve ser cumprida a partir da decisão de
segunda instância. Ele ficou preso por cerca de seis meses.
A decisão da Odebrecht de fazer um
acordo de delação acrescentou uma preocupação a mais para Pinheiro.
Os procuradores da Lava Jato em Curitiba
e Brasília adotaram uma estratégia para buscar extrair o máximo de informação
da Odebrecht e OAS: dizem que só vão fechar acordo com uma das empresas. E, neste
momento, a Odebrecht está à frente, segundo procuradores.
A OAS e o Instituto Lula não quiseram se
pronunciar.
Leia, abaixo, reportagem do 247 de
agosto do ano passado, sobre a suspensão da delação da OAS:
JANOT SUSPENDE DELAÇÃO DE LÉO PINHEIRO, DA OAS
Reportagem do jornal O Globo, que cita uma
fonte próxima ao caso, diz que a Procuradoria Geral da República determinou a
suspensão das negociações do acordo de delação premiada do ex-presidente da OAS
e de outros executivos da empreiteira após o vazamento de um dos assuntos
tratados na fase pré-acordo de colaboração; no fim de semana, capa da revista
Veja contra o ministro do STF Dias Toffoli teve como base a delação de Léo
Pinheiro.
247 – A Procuradoria Geral da República, comandada por
Rodrigo Janot, determinou que sejam suspensas as negociações do acordo de
delação premiada do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e de outros executivos da
empreiteira, informa reportagem do jornal O Globo, citando uma fonte não
identificada que acompanha o caso.
De acordo com a matéria, Janot e outros
investigadores teriam ficado irritados com o vazamento de um dos trechos da
delação de Léo Pinheiro. A revista Veja divulgou na capa deste fim de semana
denúncia contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli, com base
na delação de Léo Pinheiro.
Na interpretação de Janot, a divulgação
da reportagem teria tido o objetivo de forçar a PGR a aceitar a delação do
empreiteiro. Nas tratativas iniciais do acordo de delação, segundo O Globo, não
há citação a nenhum ministro do STF, nem comprometimento de que haveria
acusação de envolvimento de algum magistrado em desvios do esquema da
Petrobras.
Toffoli disse não ter relação de
proximidade com o ex-presidente da OAS e negou ter recebido qualquer favor da
empreiteira, como sugere a matéria de Veja. A capa da revista também foi alvo
de críticas de juristas.
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