O poder está nas
ruas. E a legitimidade também: Diretas, já!
Reordenar
a sociedade a partir de agora é uma tarefa que só a rua poderá exercer
integralmente, devolvendo-lhe a prerrogativa das urnas.
O Brasil adormeceu nesta quarta-feira,
17 de maio de 2017, sem saber as respostas para muitas das perguntas essenciais
cobradas pelo passo seguinte de sua história.
Mas a principal delas para ir direto ao
ponto - dispensando-se o retrospecto da implosão da frente golpista, com as
gravações de pedidos de propinas feitas aos donos do JBS por Aécio Neves e
Michel Temer - é saber se a mobilização popular será capaz de preencher o vazio
vertiginoso que se abriu agora não apenas na cúpula política, mas na estrutura
do poder na sociedade.
As instituições que dão coesão a uma
sociedade fundada em conflitos de interesses agudos, como é o caso da
brasileira, cujos abismos de desigualdade são sabidos, estão no chão.
Não há legitimidade no parlamento.
O judiciário tornou-se a armadura
desfrutável do assalto das elites contra as urnas, na farsa de um impeachment –
confirma-se agora - arquitetado com uma escória a soldo.
A mídia foi a voz da exortação e da
institucionalização desse esbulho.
Como será o amanhã de uma nação na qual
o amálgama político foi destruído em nome do combate à corrupção. E sob esse
biombo faiscante operou-se a virulenta destituição de direitos arduamente
conquistados em um século de lutas democráticas?
O conservadorismo está na defensiva.
A plutocracia perdeu seu manto moral.
Desnudou-se como uma reles devoradora de
libras de carne humana barata.
Moro e seus promotores terão que se
explicar: por que nunca – nunca- abriram o foco para a tempestade que ora
desabou, sobre as suas cabeças inclusive?
O contato mais próximo do califado de
Curitiba com o assunto ‘Aécio Neves’ está documentado na série de fotogramas de
sorridente cumplicidade entre o presidente nacional do PSDB e o juiz Sergio
Moro.
Da mídia é suficiente dizer que sem ela
o golpe teria sido impossível, assim como inviável a preservação da capatazia
que ora sucumbe às gravações.
Reordenar a sociedade a partir de agora,
portanto, é uma tarefa que só a rua poderá exercer integralmente,
devolvendo-lhe a prerrogativa das urnas.
As sirenes da história anunciam
confrontos intensos no front.
Não existe uma fórmula macroeconômica
autossuficiente – seja a do golpismo, ou uma de ‘esquerda’ - para tirar o
Brasil do plano inclinado em que se encontra.
O que existe é uma derrocada vergonhosa
do conservadorismo que amplia o espaço para o debate das reformas
verdadeiramente indispensáveis à destinação social do desenvolvimento. A saber:
1.
Uma reforma
política para capacitar a democracia a se impor ao mercado;
2.
Uma reforma
tributária para buscar a fatia da riqueza sonegada à expansão da infraestrutura
e dos serviços;
3.
Uma reforma do
sistema de comunicação para permitir o debate plural dos desafios brasileiros –
que, insista-se não se resolvem sem ampla e permanente renegociação.
O Brasil será aquilo que a rua conseguir
que ele seja.
E o momento nunca foi tão propício para
escrever isso no asfalto e nas praças de todo o país.
A legitimidade das ruas precisa ser
exercida.
Urgentemente.
Só as lideranças populares têm condições
hoje de falar à população em um palanque.
O conservadorismo usará o palanque
privado da Globo para barrar o escrutínio da sua crise nas urnas.
A ocupação das ruas definirá quem é a
liderança popular hoje no Brasil capaz de devolver credibilidade à política e
seriedade à repactuação do desenvolvimento, arrebatando assim o apoio
indispensável de setores da classe média democrática para levar a nação às
urnas e retomar o fio de uma construção interrompida - mais uma vez - pela
violência política conservadora.
www.cartamaior.com.br 19/05/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário