Esporte
Às vezes, basta uma oportunidade
por Ana Luiza Basilio — publicado 15/09/2017 00h20, última modificação 14/09/2017 14h21
A chegada de um centro de iniciação esportiva em Franco da Rocha mudou a vida das adolescentes Tainara e Ane
Orlando Júnior/Prefeitura de Franco da Rocha
O CIE de Franco da Rocha, raro legado das Olimpíadas
Tainara Souza Ribeiro e Ane Carolina Silva Ramos têm mais a compartilhar do que a predileção pela jogadora Marta e pelo craque argentino Lionel Messi. Amigas desde a infância e moradoras do bairro Vila Palmares, no município paulista de Franco da Rocha, as duas sempre perseguiram a paixão pelo futebol.
As peladas no campo de terra da região nunca foram problema, nem as caminhadas de 40 minutos que as separavam do local. Tudo em nome da inspiração. “O futebol me acalma”, assegura Ane. “Quando jogo, sou outra”, afirma Tainara.
Em junho de 2016, no entanto, a distância das garotas até o hobby começou a se encurtar. Às vésperas das Olimpíadas, foi inaugurada em uma das ruas do bairro Chácara São José uma volumosa construção em local conhecido, mas evitado pelos moradores até então, por ser ponto de apoio ao tráfico de drogas.
Por ali, a ilegalidade parecia chegar ao fim. Quadras, arquibancadas, mezanino, vestiário, academia... Concretizava-se o Centro de Iniciação ao Esporte (CIE), segundo equipamento esportivo a ser inaugurado em Franco da Rocha desde 1979.
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Um convite ao esporte e uma tentativa de ampliar o repertório dos quase 147 mil habitantes, que, apesar da melhora dos indicadores sociais nas últimas décadas, circulam por uma das mais pobres regiões da Grande São Paulo.
O CIE oferece 20 modalidades esportivas olímpicas e não olímpicas. Tainara e Ane seguem convictas com o propósito de jogar futebol. Deixaram de jogar simples peladas e partiram para treinos oficiais semanais. As adolescentes de 16 e 17 anos, respectivamente, agora pertencem ao time de futebol feminino de Franco da Rocha.
As amigas se distanciaram um pouco, é verdade, mas só durante os treinos e jogos. Tainara é atacante e, inclusive, detém a marca do gol mais bonito pela segunda divisão do campeonato regional do ano passado, de bicicleta. Ane, por sua vez, prefere construir as jogadas como meia ou lateral esquerda.
Há ainda exercícios orientados para mulheres grávidas de baixa renda encaminhadas pelas unidades Básicas de Saúde e para 40 crianças da rede escolar com síndrome de Down, dificuldade motora e déficit de atenção.
O objetivo é possibilitar um amplo acesso a atividades esportivas e também mirar as competições. Segundo o treinador de handebol da cidade e administrador do CIE, Marcos Machado, aliar a formação inicial com a competição garantiu projeção esportiva a Franco da Rocha. “Estamos em evidência e temos sido procurados por vários outros municípios para fazer o intercâmbio dessa experiência.”
Para Silmara Ciampone, secretária-adjunta de Cultura, Esporte e Lazer, o percurso é significativo, sobretudo para Franco da Rocha, município que sempre recebeu mais presídios e cadeias do que equipamentos de lazer e cultura.
O CIE é mantido por 20 professores de Educação Física, além de gestores e profissionais de serviços gerais. A unidade de Franco da Rocha, que contou com repasse do governo federal de 3,8 milhões e contrapartida de 300 mil do município, é a única entregue das 220 previstas em todo o País pelo Programa de Centros de Iniciação ao Esporte (CIE), do Ministério do Esporte.
Os CIE compunham o tal “legado” das Olimpíadas, mas, como sempre, quase nada restou. Com investimento total de 787,5 milhões, o programa prevê a entrega de outras 95 unidades até dezembro de 2018.
Os demais contratos estariam em fase de ajustes de projetos e licitação. Por ora, as luzes estão sobre Franco da Rocha. Os desafios também. “O CIE é um atrativo, mas ganhar a guerra contra o tráfico é das tarefas mais difíceis. Ainda precisamos de suporte social para enfrentar essa questão”, reconhece Ciampone.
Enquanto isso, a estratégia do município tem sido a de ancorar o Centro nas leis e garantir a sua continuidade, independentemente da gestão atuante, hoje nas mãos do petista Kiko. É o caso do Plano Municipal de Esportes, aprovado pela Lei Complementar nº 271, que orienta as ações esportivas de Franco da Rocha pelos próximos dez anos e determina que o CEI só pode ser utilizado para atividades esportivas.
Nada mal para um espaço que tem encurtado distâncias: Tainara e Ane também foram sondadas para integrar o time de futebol feminino do Centro Olímpico de São Paulo. Além disso, Ane tem a possibilidade de integrar a equipe feminina de uma instituição privada de ensino superior e, em contrapartida, ganhar uma bolsa de estudos.
FONTE: CARTA CAPITAL
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