CARTA ABERTA
Dom Paulo Jackson
Hoje, pela primeira vez, um
sinal triste de alerta acendeu em minha vida. Não foi um sinal de um problema
de saúde, nem foi o sinal de algo ruim com as pessoas que eu amo. Foi um sinal
de decepção e talvez, asco, com as pessoas e instituições do meu país.
Desde pequeno, sempre tive
uma noção muito clara de como as relações humanas são viciadas de falsidade,
inveja e preconceito. Tinha uma sensibilidade muito grande em reconhecer o lado
bom e ruim de cada um e em perceber injustiças, mas sempre acreditei no poder
dos bons sentimentos e da evolução consciente. Principalmente, a de que a
sapiência não vem apenas do "conhecer as coisas", e sim do
conhecer-te a ti mesmo. O sábio, para mim, sempre foi sinônimo de humildade,
respeito e da noção de que a verdade absoluta não nos pertence.
Mas, hoje, me senti
sinceramente frágil. Tive uma triste sensação de raiva e desalento com o clima
negativo que vivemos em nosso país. Por isso, parei um pouco para refletir...
Todo mundo que me conhece
sabe que sempre defendi a ética e a imparcialidade na análise de fatos e
principalmente de pessoas. Sempre fiz opção por defender os acertos do que
apontar os erros, principalmente porque sempre tive a noção que julgar o
próximo é uma das tarefas mais difíceis do ser humano, o que deve sempre ser
evitado. Por isso, nunca gostei de perseguições, preconceitos e generalizações.
Frequentemente, exponho, nas redes sociais, minhas posições de defender o
ex-presidente Lula, a presidenta Dilma e os méritos de seus governos, mas
sempre fui aberto ao debate. Minhas críticas não buscam a sordidez de
desmerecer as pessoas, mas de questionar a imparcialidade e perseguição da
Imprensa e também a hipocrisia e a argumentação pobre do debate político no
Brasil. O que mais me impressiona é como a maioria das pessoas, que geralmente
propagam o ódio, se deixam conduzir (ou manipular) pela virulência e
parcialidade das notícias que são
bombardeadas na Imprensa e nas redes
sociais.
Este ano, mesmo com uma série
de provas vivas de malas de dinheiro do PMDB e do PSDB, com uma escancarada
comprovação da manipulação de delações pelo senhor Sergio Moro (caso Tacla
Duran), Ministério Público e o procurador Rodrigo Janot, e uma série de
suspeitas levantadas contra o senhor Gilmar Mendes, o senhores Aécio, Serra,
Alckmin, Temer, Jucá, Geddel, Loures, Padilha, procuradores e outros, com a
maioria das suspeitas comprovadas com provas materiais (gravações, vídeos,
contas nominais), o foco novamente voltou-se contra Lula.
O revoltante é que as
denúncias voltam a ser requentadas sem que nenhuma prova material seja
apresentada, uma vez que as delações não trazem nenhum dado concreto de contas
em nome de Lula ou Dilma, gravações de vídeo, áudio, documentos assinados ou
qualquer coisa que permita comprovar que a palavra de um réu encarcerado,
submetido a todo tipo de pressões, não seja apenas a vontade de ver sua pena
diminuída falando a palavra mágica: Lula.
O aumento da popularidade de
Lula, a cada dia, com o sucesso de sua caravana no Nordeste e o crescimento de
sua candidatura nas pesquisas, parece ter despertado a ira dos golpistas, mal
amados e manipulados. Eles não irão sossegar. A Imprensa podre repetirá a frase
Lula em suas principais notícias. Factóides e delações sem provas serão
produzidos em série e mais uma vez a imparcialidade será esquecida.
Estranhamente, se esquece de
todo o resto. Desde a absurda tentativa de vender e privatizar a Amazônia e
nossas principais empresas, os sucessivos pacotes de maldade contra os direitos
da população até a evidência de que a Lava-Jato sempre foi uma verdadeira Farsa
a Jato.
EM TEMPO: A
cada dia que passa, me convenço mais de que o Lula é uma causa a ser defendida,
muito mais do que a sua figura humana. Tenho muito
respeito e admiração por sua história e seu legado. Reconheço também seus erros
e acho um grande engano achar que podem destruir o símbolo que ele representa.
Se querem condenar Lula por pedir contribuições para o partido, que apenas para
o PT são chamadas de propina, que façam o mesmo com todos os outros políticos.
Se querem condenar o Lula por enriquecimento ilícito, que encontrem contas em
seu nome, documentos, escrituras e dados concretos e não meras ilações de que
tal dinheiro, tal imóvel, tal reforma, seria para o uso do Lula. Se não tem
escritura, posse, propriedade e prova do uso pessoal e efetivo da suposta
propina, que se busque algo além da oportuna delação de um réu em busca de
liberdade e redução de pena. Sugiro buscar áudios e vídeos, tal como
conseguiram do Aécio.
* Dom Paulo Jackson é Bispo de Garanhuns-PE.
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