terça-feira, 12 de setembro de 2017

O mensalão de Beto Richa

Política

Paraná

O mensalão de Beto Richa

por René Ruschel — publicado 12/09/2017 00h30, última modificação 11/09/2017 13h14
Em delação, empreiteiro cita repasses mensais ao governador do Paraná em meio a esquema de desvios em escolas do estado
Beto Richa
A campanha ao Senado está ameaçada
O governador do Paraná, Beto Richa, do PSDB, andava esquecido em meio a tantas denúncias de corrupção Brasil afora. Não mais. O empresário Eduardo Lopes de Souza, dono da Construtora Valor, preso durante a Operação Quadro Negro, que investiga o desvio de mais de 22 milhões de reais na construção de escolas no estado, fechou acordo de delação premiada, à espera apenas da homologação pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal.
Souza acusa Richa de ser o principal favorecido no esquema de propina que teria abastecido sua campanha à reeleição em 2014. O empreiteiro citou ainda o atual chefe da Casa Civil do governo estadual, Valdir Rossoni, e o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB), ambos correligionários do governador. 
Segundo o delator, a negociação para fraudar o Erário era conduzida por Mauricio Fanini, à epoca diretor da Superintendência de Desenvolvimento Educacional, amigo pessoal e homem de confiança de Richa. Para demonstrar intimidade com o governador, Fanini citava viagens em companhia do tucano (fotos a respeito foram anexadas ao inquérito decorrente da Quadro Negro).
O dinheiro, aponta o empreiteiro, era entregue a Fanini na sede da superintendência. Os primeiros valores chegaram em mochilas. O empresário conta que entrava por uma porta lateral do prédio e deixava a quantia no banheiro da sala do diretor, “ao lado do vaso sanitário”.
A partir de outro momento, para aumentar a segurança, os valores eram guardados e entregues em caixas de vinho. Os repasses foram efetuados entre abril e setembro de 2014. Fanini era responsável pela elaboração dos relatórios falsos sobre as obras contratadas pela Valor e não realizadas. O plano era arrecadar 32 milhões de reais para a campanha de Richa.
Souza vencia as licitações com ofertas 20% abaixo dos preços médios praticados pelo mercado. Mais tarde, os contratos eram reajustados. A Construtora Valor conseguiu sete aditivos que somaram mais de 6 milhões de reais. De acordo com um empresário do setor, era impossível competir com os preços apresentados pela empreiteira. “Não havia lógica. Em alguns casos, chegava a 25% menos”, afirmou.
O delator afirmou ainda que, em janeiro de 2015, Fanini o chamou para repassar um recado de Richa: seria necessário repassar mais dinheiro para o esquema. O tucano pretendia montar um fundo de campanha para sua almejada candidatura ao Senado em 2018.
Os recursos também seriam usados nas campanhas a deputado federal de seu irmão, Pepe Richa, e a deputado estadual do filho Marcelo. Ainda segundo Souza, a Valor pagou um “mensalão” no valor de 100 mil reais até junho, quando o escândalo veio à tona e Fanini foi demitido.
Além de Richa, Traiano, presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, teria recebido 300 mil reais por meio de caixa 2, em três parcelas de 100 mil. Duas delas teriam sido levadas em malas até o gabinete do deputado. A outra teria sido entregue em sua residência. Em uma das entregas, detalha Souza, havia uma quantia a mais. Ao perceber a diferença, o deputado quis saber se o empreiteiro não poderia aumentar o valor do repasse. Resposta: a diferença “estava prometida para a campanha do governador”.
O repasse a Rossoni somaria 460 mil reais. “Quando ele me via, me chamava no canto e falava ‘e aí, Eduardo, tem coisa boa pra mim hoje?’, esfregando as mão”, contou o delator aos procuradores do Ministério Público Federal. No depoimento, o empresário afirma ter sido Rossoni quem o apresentou a Fanini. Confirmou ainda que as primeiras obras públicas executadas por sua empresa foram realizadas em 2011 em Bituruna, no sul do Paraná.
Coincidentemente, Bituruna é o reduto eleitoral da família Rossoni. Valdir e o filho Rodrigo foram prefeitos da cidade. O herdeiro enfrenta, aliás, problemas com a Justiça por conta de atos de sua administração. O juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública de União da Vitória, Luis Mauro Lindemeyer Eche, determinou, em março último, o bloqueio de seus bens em face das denúncias do Ministério Público, por ter, supostamente, atuado para direcionar uma licitação na reforma de uma escola no município.
A obra foi realizada em 2011 e a construtora responsável era justamente a Valor. 
Os tentáculos da corrupção, ainda segundo o delator, estenderam-se ao Tribunal de Contas do Estado. Fanini teria insinuado que seria “bom ter alguém do tribunal com eles”.
Souza articulou contribuições à campanha a deputado estadual de Tiago, filho do conselheiro do TCE Durval Amaral. Richa nega as acusações e classifica as afirmações do delator de “mentirosas, próprias de um criminoso que busca amenizar sua pena”. Segundo o governador, a própria Secretaria de Educação constatou as irregularidades. O tucano afirma ainda nunca ter tido contato com o empresário e que todas as doações à campanha de 2014 “seguiram a legislação e foram aprovadas pela Justiça Eleitoral”.
Rossoni fez uma transmissão ao vivo no Facebook, no domingo 4, para rebater o empreiteiro. Em nota, Traiano afirmou “repudiar veementemente as acusações infundadas e sem provas”. Disse ainda não ter “conhecimento da delação, que não foi homologada e corre em segredo de Justiça”.
A pouco mais de um ano das eleições, Richa desidrata. Os sinais do abandono político e do isolamento se avolumam. Sua candidatura ao Senado corre o risco de morrer antes de sair do papel. Há quem defenda sua permanência no Palácio Iguaçu até o último dia de governo. Mas a decisão não está mais totalmente nas mãos do tucano.
Fonte: Carta Capital

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