quarta-feira, 13 de setembro de 2017

O Brasil precisa de um projeto de desenvolvimento

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O Brasil precisa de um projeto de desenvolvimento

por Marcelo Pellegrini — publicado 22/05/2015 18h10
Os ex-ministros Ciro Gomes e Celso Amorim criticaram a falta de investimento tecnológico na indústria e as altas taxas de juros
O Brasil não tem um “projeto de desenvolvimento” ou uma “política de inovação tecnológica industrial”. As afirmações são de dois ex-ministros do governo Lula, Ciro Gomes e Celso Amorim, proferidas durante debate na 3ª edição do Fórum Brasil, promovido por CartaCapital nesta sexta-feira 22, cujo tema neste ano é "Crescer ou crescer”.
Em um painel com David Barioni, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) os ex-ministros analisaram as exportações do Brasil. Atual chefe da ferrovia Transnordestina, obra da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Ciro Gomes criticou a falta de planejamento e investimentos públicos em uma política industrial. "O Brasil não tem agenda", afirmou. "No Ceará, qualquer bodega tem um projeto, mas o Brasil não.”
O embaixador e ex-ministro da Defesa e das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim, fez coro às críticas de Gomes e disse que o investimento em inovação tecnológica industrial deve vir do governo. “Para fazer pesquisa e desenvolvimento não se pode prescindir do Estado”, disse. “Existe um mito no Brasil de que quem faz pesquisa tecnológica nos Estados Unidos é empresa privada", afirmou. "Sim, é empresa privada, mas financiada pelo governo. Metade dos investimentos em pesquisa tecnológica é direta ou indiretamente é financiada pelo Pentágono [o Departamento de Defesa norte-americano]”, exemplificou.
O ex-chanceler também chamou a atenção para o risco de o Brasil desenvolver uma relação de dependência com a China. “O Brasil enxergava a China como uma oportunidade de diversificar seus mercados, mas agora corre o risco de desenvolver uma relação de dependência com o país asiático”, disse. Nesta semana, a China anunciou um investimento de 53 bilhões de dólares no Brasil.
O próprio governo Dilma já revelou seu descontentamento com as relações com a China e a possível dependência. Para Ciro Gomes, este temor diz respeito à falta de planejamento do Estado brasileiro e não das relações com a China. Hoje, mais de 50% da balança brasileira corresponde à exportação de produtos primários, como alimentos e minérios. 
Segundo Ciro, o Brasil possui três importantes assimetrias econômicas que vão na direção oposta ao que acontece no mundo: as condições de financiamento, a escala produtiva e o desenvolvimento de tecnologia. Para ele, a taxa de financiamento público é pequena em comparação a outros países. Com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) a taxa de financiamento chegou a 17%, porém com o ajuste fiscal o nível de investimento caiu para 14%. Em relação à escala de produção, o ex-governador salienta que no Brasil, sete em cada dez empregos vem de pequenas empresas, que produzem em pequena escala e não participam do comércio global.
Como lembrou David Barioni, há 16 milhões de empresas brasileiras, mas apenas 20 mil exportam, sendo que destas apenas 100 empresas respondem por 70% do volume de exportações. O Brasil é a sétima economia do mundo e o sétimo país em atração de investimentos, mas apenas o 28º país na lista de maiores exportadores.
É, contudo, a política de desenvolvimento e inovação tecnológica brasileira o que mais preocupa. “Há um aprofundamento do hiato tecnológico entre as vanguardas produtivas e a situação brasileira”, afirma Ciro. Segundo ele, o Brasil possui um mercado interno robusto que importa desnecessariamente produtos industrializados que tem condições de produzir. “Por ano, compramos 15 bilhões de dólares do complexo internacional da saúde. Dessa compra governamental, 76% é patente vencida, que com engenharia reversa você monta uma fábrica e faz”, afirma.
As importações de produtos de saúde não são exceção, mas regra, segundo Ciro. A agricultura, que somada ao agronegócio lidera a balança comercial brasileira, gasta 40% de seus custos de produção com produtos importados. “O agronegócio cresceu no País porque está em uma linha de financiamento do governo e tem uma Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] desenvolvendo tecnologia para o setor”, afirma. “Apesar disso, somos um dos líderes do agronegócio mundial, mas não temos uma indústria de agrotóxico, fertilizante, implemento agrícola.”
Celso Amorim concorda. Para ele, o governo deve planejar em que ponto é interessante para o País investir e desenvolver tecnologia nesta área. “É preciso saber como o País entra na cadeia de valor de um produto e da importância do que se produz para essa cadeia. É mais importante exportar minério para eletroeletrônicos ou desenvolver softwares? Isso entra na questão de educação e de ciência e tecnologia no governo”, afirma.
Outro fator que impede o fortalecimento da indústria e os investimentos em infraestrutura no Brasil são as taxas de juros, segundo Gomes."A rentabilidade dos papeis do governo é mais alta que a rentabilidade média dos negócios e é por isso que os investimentos no Brasil estão parados", disse.
Para ele, a manipulação dos juros para controlar a inflação ou por fins políticos gera um ambiente de investimento inseguro. “Temos inflação de custos porque manipulamos o câmbio para fins eleitorais. Como alguém vai querer exportar com um câmbio que não sabemos para onde vai? Primeiro manipulamos o câmbio para estimular o consumismo, agora é para controlar a inflação”, afirma.
David Barioni, da Apex-Brasil, representou o governo no evento. De acordo com Barioni, é esperado que o governo anuncie nos próximos dias o Plano Nacional de Exportações. O plano diz respeito a um conjunto de medidas para estimular e desburocratizar as exportações do País.
Com o projeto, o governo espera atingir cerca de 30 países considerados “estratégicos” para as exportações brasileiras. “O Brasil participa só  de 1,2% do mercado mundial e ainda temos um mundo para dominar”, afirmou Barioni. Segundo ele, a estratégia da Apex é internacionalizar não apenas os negócios das grandes empresas brasileiras, mas também capacitar e exportar as ações das médias empresas.
Fonte: Carta Capital

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