Reflexão sobre ódio e tutela
Todo mundo – ou quase todo mundo, e invejo as exceções – já teve seus momentos de fúria.
E quase todo mundo que os teve viu que, deles, nunca saiu algo de bom.
Como na música de Dolores Duran (antes que os coxinhas pirem, nada a ver como Tacla Duran), a gente diz coisa que não quer dizer.
No indivíduo, isso passa, embora frequentemente deixe mossas em suas relações. Na sociedade, não: o ódio nos torna potenciais criminosos, como em João, 3: “toda pessoa que odeia seu irmão é homicida”.
Porque o ódio mata, mata não apenas pessoas, mata direitos, mata convívio, mata a empatia, mata a compaixão, mata a paz e, com ela, a capacidade de andarmos juntos em uma só direção.
Não, não confundo ódio com conflito, essa mola que anima a caminhada humana nas idéias, na ciência, na civilização.
Mas entre ideia diferente e “odeia o diferente” vão bem mais do que as poucas letras que os separam.
Vejam: há alguns anos estávamos comemoram milhões saindo da pobreza; festeja-se agora alguns entrarem na cadeia.
Agora, celebra-se o mal: corte nos gastos sociais, perda de direitos no trabalho, sacrifícios aos que se aposentam.
Nem mesmo nos lembramos que tivemos, até 2016, o mais longo período de nossa história em que se pôde escolher livremente quem nos governaria. E olhe que este “mais logo” são apenas 27 anos incompletos.
E talvez a pior das escuridões, onde parte da pretensa intelectualidade adere à ideia de que o povo brasileiro tem de ser tutelado dos “populistas”, governado por tecnocratas (que, claro, dependem de uma lixeira política para cumprirem as formalidades legislativas) e onde uma casta judicial se encarrega de interditar os “corruptos”, isto é o que não podem existir como opção ou os que já não os servem mais, como Cabral ou Eduardo Cunha, bagaços agora.
Francamente, tudo isso é anti-histórico.
E, justamente por isso, só sobrevive à força.
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