domingo, 22 de abril de 2018

Marcia Tiburi lança livro no acampamento Lula Livre e celebra luta pela verdade


RESISTÊNCIA

Marcia Tiburi lança livro no acampamento Lula Livre e celebra luta pela verdade

Em feriado de sol, céu azul e muitos encontros, famílias e amigos aproveitam o dia para conhecer ou retornar à vigília democrática. "É uma manifestação de amor, solidariedade, lucidez", diz escritora
por Cláudia Motta, para a RBA publicado 22/04/2018 10h09, última modificação 22/04/2018 11h54
VANGLI FIGUEIREDO
Marcia Tiburi
Filósofa Marcia Tiburi conseguiu lançar em Curitiba a obra que há duas semanas não conseguiu
Curitiba – Há pouco mais de duas semanas, a artista plástica e professora de Filosofia Marcia Tiburi foi impedida de lançar seu livro Feminismo em Comum em Curitiba. Ameaças virtuais à escritora levaram ao cancelamento do evento que seria realizado no dia 5.
Mas neste sábado (21), feriado de Tiradentes, Marcia fez o lançamento para um público ainda maior, no Acampamento Lula Livre. Em dia de sol forte e céu azul, mais de 300 volumes foram vendidos e uma imensa fila foi formada para os autógrafos.
Ela permaneceu por cerca de três horas na vigília e conduziu o “boa tarde” ao ex-presidente, diante da sede da Polícia Federal da capital paranaense, que o aprisiona desde o dia 7. “A gente deve vir pra cá com nossos esforços, porque nossos esforços pessoais, hoje, representam nosso desejo de política e democracia no Brasil. Isso é uma manifestação de amor, solidariedade, lucidez, amor ao conhecimento.”
Como professora de Filosofia, Marcia Tiburi diz sentir-se muito próxima do presidente Lula. “Quando ele diz que precisamos restituir a verdade no Brasil, sinto-me tomada por essa ideia. É disso que se trata desde que a filosofia existe na história: a gente precisa lutar pela verdade, bancar a verdade, se comprometer com a verdade. Eu estou buscando a verdade.”

Gente que chega, que volta, que fica

No dia em que o lema Liberdade ainda que tardia (Libertas quae sera tamen, da bandeira mineira) é tão lembrado, milhares de pessoas circularam pela Praça Olga Benário – nome dado ao entroncamento de ruas do bairro Santa Cândida, onde se concentram atos pela liberdade de Lula e em defesa da democracia. Algumas vindas de longe, outras, ali de Curitiba mesmo, retornando ao acampamento.
A professora Lirani Maria Franco foi umas das manifestantes atingidas pelas balas de borracha da polícia, na noite da chegada de Lula a Curitiba. “A primeira sensação de reencontrar todo esse movimento aqui, todas essas pessoas, é muito interessante. Há 15 dias estivemos aqui também nessa reunião, de muitas pessoas se encontrando, na defesa dos direitos, da democracia, num espaço aberto, de unidade, de amor”, diz, lembrando a violência desmedida contra quem estava “acolhendo o ex-presidente para dizer que ele não estava só”.
“Todos nós sem armas e, sem esperar, de repente sinto uma bala na minha perna, o sangue, a dor, e nem sequer sabia o que estava acontecendo. Então, voltar hoje e ver que o acampamento, a vigília se manteve, e o que eles tentaram fazer não teve sucesso. Pelo contrário, deu mais força, demonstrou que nós temos de ter coragem, resistência. Porque essa é a nossa luta.”
Também professor de Filosofia, Sebastião Rodrigues Gonçalves viajou por 12 horas, desde Foz do Iguaçu (PR), para prestar sua homenagem. “A história do povo que está do lado do Lula neste momento coincide com minha história. Um sujeito que saiu da roça, fui operário da construção civil, sofri pra estudar, chegar no ensino superior”, afirma o professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). “Sou um comunista científico, não um comunista filiado a esse ou aquele partido. Quem quer o bem comum é o comunista: é o sujeito solidário, que sofre.” 
Assista ao vídeo de Felipe Kfouri:

https://youtu.be/moer0q8Nn7o

Recarga num lugar bacana de se viver

O cozinheiro Paulo Pena, 62 anos, e a professora aposentada Joana Amélia Santana, 67, já foram casados. Hoje seguem grandes amigos e estavam juntos no acampamento no sábado (21).
“Todo dia que a gente vem aqui, seja feriado ou não, é uma recarga”, afirma Paulo. “É o lugar mais alegre, mais seguro, mais bacana de se viver, porque é a realização de sonhos. As pessoas são todas iguais, disponíveis. Todo mundo fala com todo mundo, ninguém tem medo de ninguém. É a vivência da utopia.”
Joana concorda e acrescenta: é a prática do coletivo. “Saber que o coletivo pode ser real e vai contra toda essa ideia do individualismo, do neoliberalismo que afoga, sufoca as pessoas. No coletivo, segundo ela, é a vida do amor, como a Marcia falou aqui hoje. A vida do afeto. As pessoas dependem, sim, umas das outras, são necessárias umas às outras. "E isso a gente aprende cada vez mais aqui no acampamento”, diz, destacando o “pessoal do MST”. “Eles lutam muito mais do que nós que moramos nas nossas casas, nossos apartamentos. Eles lutam ferozmente por essa verdade, por essa necessidade de acesso a que todos têm direito, a justiça.”
Muita gente aproveitou o dia inspirador para também escrever cartas a Lula, como professora Ediandra de Borba, 28 anos, filha de assentados em Lindoeste (PR). “é um momento histórico da nossa política, não devemos ficar de fora. Não é possível que nesse momento, com tantas injustiças acontecendo, a gente não se manifeste, não atue como cidadão”, disse.
Mosaico de personagens
De cima pra baixo e da esquerda para a direita. 1. Grande público acompanha fala de Marcia Tiburi | 2. Joana Amélia Santana, 67 anos, professora aposentada | 3. Professor de Filosofia da Unioeste Foz do Iguaçu, Sebastião Gonçalves | 4. Lirani Maria Franco, professora aposentada, ferida no dia 7, quando da chegada de Lula | 5. Professora Ediandra de Borba, 28, professora, filha de assentados de Lindoeste (PR) e o professor professor Paulino Pereira da Luz, 60 anos, Cascavel | 6. Ediandra aproveita para escrever para Lula... | 7. Como centenas de outros participantes | 8. Professor de Filosofia da rede pública do PR Marcílio Mileski | 9. Lara Callegari, 27 anos, professora de inglês | 10. Varal poético acolhe versos escritos pelo público

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