Moro produzirá uma cena infame para a história que nem sempre o será
Escrevo a dez horas do prazo que o tiranete de Curitiba, a quem a elite brasileira encarregou de ser o executor de seus ódios, recolha Lula a seu martírio prisional, exceto ocorra a improvável hipótese de haver alguma toga digna que impeça a apressada ferocidade com que age Sérgio Moro.
Ele executa o que pensa ser o ato final de sua glória, atropelando ritos e prazos, talvez por temer os versos de Ruy Guerra: “E se a sentença se anuncia bruta/Mais que depressa a mão cega a executa/Pois que senão o coração perdoa…”. Coração, não o dele, decerto, onde o ódio só deixa espaço para uma afetada hipocrisia, tão forte que as palavras rescendem o amargo de ter de escrevê-las para disfarçar a monstruosidade.
Moro, por seu incontrolável fascismo de seu espírito, porém, acabou por criar um problema para a direita brasileira: jogou-lhe nas mãos o que julgava ser um cadáver e, num instante, descobre o que devia saber há tempos: ele está vivo, forte, lúcido e dono de uma firme calma para reagir.
Nas suas palavras, “a jararaca” está vivíssima e tem mil cabeças.
A rapidez e o inesperado, quando todos davam como certo que que só na próxima semana se procederia a detenção do ex-presidente criou o componente de surpresa que amplificou a repercussão do que, em qualquer circustãncia, já seria uma bomba.
Moro e a guarda pretoriana do TRF-4, correndo a enjaular Lula, impediram a digestão da decisão vergonhosa do Supremo e recolocou o (se é que se pode chamar assim) magistrado de Curitiba de novo na condição de algoz do ex-presidente.
Já se viu, pela multidão que acorreu ao Sindicato dos Metalúrgicos até a madrugada, que ele não conduzirá à cadeia um Lula cabisbaixo e solitário, mas verá um cortejo humano impressionante a levar seu líder ao exílio em sua própria terra.
O juiz marqueteiro, envenenado por seu ódio incontido, produzirá uma cena para a história, a imagem de um povo altivo, deixando a vergonha para seus algozes.
Moro dará ao povo brasileiro a representação do calvário dos que, neste país, carregam a cruz dos oprimidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário