quinta-feira, 19 de abril de 2018

Sem Lula na disputa, eleitores estão saindo do jogo, diz pesquisador



Política

Eleições 2018

Sem Lula na disputa, eleitores estão saindo do jogo, diz pesquisador

por Carol Scorce  publicado 19/04/2018 00h30, última modificação 18/04/2018 19h19
Para cientista político, superexposição de casos de corrupção faz com que votos brancos, nulos e as abstenções superem qualquer candidato
Ricardo Stuckert
eleitores deixam de ir votar
Descrença com as eleições começaram em 2016, especialmente nos grandes centros urbanos
Segundo as pesquisas eleitorais mais recentes, sem o ex-presidente Lula na disputa, os votos brancos e nulos "ganhariam a eleição". Nos seis cenários do levantamento sem o ex-presidente, a porcentagem de votos brancos e nulos varia entre 23% e 24%, o que é maior do que as intenções de voto no candidato em primeiro lugar. 
O desinteresse da população pela campanha não é um fenômeno novo, com aponta o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e cientista político Jairo Pimentel. Em 2016, nas eleições municipais na cidade de São Paulo, votos brancos e nulos superaram os votos que o vencedor, João Dória, recebeu. 
Para Pimentel, a superexposição dos casos de corrupção pública ligados a governos e partidos políticos tem levado ao conceito da alienação eleitoral, que é a soma dos votos brancos e nulos com as abstenções, e que está associado a fragilidade da saúde da democracia. "Esses dados mostram que a nossa democracia está doente, e as pessoas desconfiadas de seus representantes", afirma. 
Para o cientista político, Lula fora da campanha aumenta o desencantamento do eleitorado, e agrava a alienação eleitoral. 
CartaCapital: O que o senhor acredita que leva o eleitorado a abrir mão do voto? Jairo Pimentel: Não é de hoje que isso vem acontecendo. Se lembrarmos das últimas eleições municipais, o fenômeno das abstenções e votos nulos e brancos já estava presente. Também na pré-campanha eleitoral em 2016, as pesquisas já apontavam que brancos e nulos superariam todos os outros candidatos. Isso tem a ver com o processo de descrença da população com a classe política, que começou após jornadas de junho de 2013 e que se agravou em 2015 com a Operação Lava Jato, que mostrou os esquemas de corrupção dentro do todos os partidos políticos. Essa descrença com a classe política é o que leva com que as pessoas não referendem nenhum nome.
CC: E essa é um tendência para a campanha deste ano? 
JP: Se brancos e nulos já são uma tendência, acredito que a alienação eleitoral, que é soma dos brancos, nulos e as abstenções, com certeza será alta e poderá ser a vencedora de fato. Isso já vivemos nos últimos anos nos grandes centros eleitorais. Em São Paulo especificamente, a alienação eleitoral foi superior aos votos que recebeu o prefeito João Dória. Isso mostra que a saúde da nossa democracia não está boa, que a população está muito desconfiada dos seus representantes no atual momento.
CC: O senhor acredita que ex-presidente Lula, que aglutina uma boa parte do eleitorado, ficará órfã de candidato e que isso desagrega as eleições? 
JP: A adesão do eleitorado do Lula às eleições é muito forte, e está claro pelas pesquisas recentes que é um eleitorado sem segunda opção, ou com outras opções fracas, com pouca convicção. Por isso ele saindo do jogo, nenhum candidato ocupa esse espaço de maneira evidente para carregar a grande maioria dos votos do ex-presidente.
CC: Esse cenário ainda pode mudar?JP: A campanha ainda não começou para efetivamente se saber como poderá ser uma eventual transferência de votos e como seria com o endosso de Lula as outras candidaturas. E ele pode potencialmente ajudar durante a campanha. Já dizia Aristóteles: “a natureza abomina o vaco”. Se o Lula conseguir fazer campanha (saindo da prisão), ele terá presença em ao menos dez dias de campanha na televisão, levando em conta que pela Lei da Ficha Limpa o PT dificilmente leve a campanha até o final, e talvez ai exista uma transferência de voto mais imediata, lembrando que é um candidato que está muito sedimentado nas regiões norte e nordeste e isso fará diferença.
CC: O senhor acredita que a corrupção pública é a ferida aberta que motiva essa alienação eleitoral? JP: Até 2015, boa parte da população acusava o PT pela crise moral que assolava o país, e atribuía isso ao fato do partido estar a muito no poder, levando em conta os anos Lula e Dilma. A Operação Lava Jato, embora mire muito no PT, destratou essa tese. A manutenção dos casos de corrupção no noticiário após a queda da presidente Dilma, sobretudo de casos ligados ao atual governo de Michel Temer, gerou um desencantamento ainda maior. Mostra que a corrupção é uma coisa sistêmica, suprapartidária, o que gera mais desencantamento numa democracia capenga, e isso vira uma bola de neve para a sociedade. 

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