ÓDIO
Vítima relata momentos de tensão durante a agressão ao acampamento Lula Livre
Atentado ao acampamento Marisa Letícia aconteceu na madrugada do sábado (28). Polícia não mantém unidade no local para garantir segurança de manifestantes.
por André Accarini, da CUT publicado 28/04/2018 20h01, última modificação 29/04/2018 09h59
GIBRAN MENDES
A advogada Márcia Koakoski foi atingida de raspão por tiro de arma de fogo
CUT – A advogava Marcia Koakoski, 42 anos, viajou 618 quilômetros de Xangri-Lá, no Rio Grande do Sul, até a capital paranaense, onde planejou ficar três dias no Acampamento Lula Livre. Queria apenas prestar solidariedade ao ex-presidente Lula, preso político desde 7 de abril, trocar experiências de convivência pacífica com aqueles que, como ela, participam de um movimento democrático, em defesa daquilo em que acreditam ser o melhor para futuro do Brasil.
Na madrugada desse sábado (28), foi acordada pelos fascistas que atacaram a tiros o acampamento Marisa Letícia em Curitiba.
"Acordei à uma e meia da manhã, com uma frenada brusca de carro. Ouvi gritos de ‘Bolsonaro presidente’, e xingamentos aos vigilantes que estavam ali, nos guardando”.
Esses vigilantes, companheiros escalados para fazer a segurança do local, usaram a única forma que dispunham para tentar afugentar os agressores: fogos de artifício, conta a advogada.
“Mas, nesse momento, um dos agressores ameaçou o companheiro dizendo: ‘vou voltar aqui e vou te matar”, conta.
Naquele momento, apesar da tensão, não havia a expectativa que pudesse haver uma cena de guerra no local.
“Sentimos o tempo todo, todas as noites, que existia essa tensão, mas as pessoas acabaram relaxando porque toda noite passava alguém gritando palavras de ordem fascistas, sobre Bolsonaro. Acontecia, mas não passava disso”.
E essa madrugada parecia ser igual as outras. Os agressores deixaram o local. Infelizmente, não por muito tempo. Logo depois de um breve período de normalidade, o terror se concretizou.
“A gente achou que eles tinham ido embora mas, logo depois, começou uma gritaria, com barulhos de fogos e tiros. Eu estava num banheiro químico nessa hora e ouvi as pessoas gritando: ‘tem baleado, tem baleado. E foi nesse momento que ouvi um estouro e um impacto em meu ombro.” Márcia conta que não viu sangue em seu corpo e, por isso, não se preocupou.
Mas, mais tarde, ela teria a exata noção do perigo que correu. Ela e alguns companheiros voltaram ao banheiro químico para verificar se alguma parte da estrutura do acampamento havia sido danificada, quando constatou um buraco no ‘casco’ do banheiro, que indicava que um projétil havia passado por ali. Márcia olhou ao redor e achou a bala, que estourou na saboneteira e atingiu seu ombro. O projétil foi achado no assoalho.
“Por pouco, por centímetros mesmo, não fui atingida pela bala. Podia estar internada, ou até em uma situação pior, agora”.
A cena que ela descreve nos momentos após ser atingida é de total desespero das pessoas, vítimas da violência gratuita e repentina dos agressores.
“No acampamento, todo mundo é protetor, amável, solidário. São seres humanos e ninguém merece essa violência”.
O socorro
O SAMU foi acionado, a Polícia Militar também. A advogada (e vítima do tiroteio) Márcia, acredita que o socorro chegou em aproximadamente 20 minutos, mas conta que em uma situação de estresse e desespero, como a vivida por ela e seus companheiros, qualquer minuto é uma eternidade.
A advogada chegou a falar com oficiais da Polícia Civil e Militar. “Eles foram como são: do jeito deles, um tanto frios. Indicaram que eu fosse à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para ver se estava tudo bem”.
Márcia, que prestará depoimento, e fará exame de corpo de delito para as investigações, critica a falta de segurança: “O que me impressiona é que numa situação dessas, onde existe uma zona de conflito, deveria haver ao menos uma guarnição, de polícia, para que seja garantida a segurança e a ordem dos dois lados”. Ela exemplificou com casos como casa noturnas, onde há o risco de confusões, em manifestações de estradas, etc. “Não se pode deixar acontecer um desastre. Tem que ter um efetivo da polícia para evitar”, conclui.
Crime antecipado
A advogada explica também que o fato de agressor ter anunciado que voltaria para matar, já caracteriza que houve o crime de ameaça. Mas, tanto ela quando os outros no acampamento, não imaginaram que o agressor realmente votaria e aconteceria toda a tragédia.
E lamenta o momento que o país vive, onde pessoas que estão em um local pacificamente para defender aquilo que acredita ser um caminho correto para futuro do Brasil, que é defender Lula, defender a democracia e lutar contra o golpe dado no Brasil, que derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff, com apoio da mídia e parte do judiciário, e contra a prisão arbitrária e sem provas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sejam agredidas dessa maneira.
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