Delegado da PF que atacou vigília pró-Lula levou bomba no psicotécnico. Por Marcelo Auler
POR MARCELO AULER
O delegado Federal Gastão Schefer Neto, que na manhã desta sexta-feira (04/05) atentou violentamente contra a Vigília Cívica que acompanha há 27 dias o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal do Paraná (SR/DPF/PR), foi reprovado em dois concursos psicotécnicos da própria Policia Federal. Ele garantiu vaga na Academia Nacional de Polícia, no ano de 2006, graças a um mandado judicial. Ou seja, está no cargo graças a uma decisão judicial que, ao contrário do ocorrido em 2009, não respeitou o resultado do teste psicotécnico.
Considerado por seus colegas como “um perturbado” e declaradamente antipetista, de direita, está no DPF desde 2003. Primeiro trabalhou como escrivão, aprovado regularmente em concurso. Depois tentou ser Agente de Polícia Federal inscrevendo-se no Edital nº 24/2004-DGP/DPF, mas foi barrado no psicotécnico. Ajuizou, em julho de 2005, com uma ação judicial na 6ª Vara Federal de Curitiba – Nº 2005.70.00.020039-6 – na qual até obteve liminarmente o direito de ingresso, mas a sentença definitiva, em outubro de 2009, não lhe deu razão e suspendeu a decisão anterior.
A esta altura, porém, ele já tinha cursado a Academia Nacional de Polícia Federal no curso preparatório para delegados. Seu ingresso ali também foi mediante ação judicial, uma vez ter sido novamente barrado no psicotécnico. Conseguiu se formar e hoje está lotado na Delegacia Fazendária da Superintendência do DPF no Paraná.
Outro mistério na formação de Gastão foi sua passagem pelo Colégio Naval, em Angra dos Reis. O colégio ministra o ensino médio a jovens que pretendem seguir carreira. Ali, como admitiu na sua página do Facebook, sua turma formou-se em 1989. Ele tinha 17 anos (nasceu em outubro de 1972). Mas não conseguiu seguir carreira na Marinha. Consta que teria tido problemas disciplinares.
Gastão mora a poucos metros do prédio onde Lula se encontra recolhido – na Rua Franco Giglio – e nunca escondeu seu inconformismo, inicialmente com o Acampamento Lula Livre.
Continuou reclamando também quando o acampamento foi transferido e apenas as vigílias permaneceram na região, logo, no entorno de sua casa. Elas têm início em torno de 9h00 com o famoso “Bom Dia Lula” e se encerram às 19H30 com o “Boa noite Lula”. Completamente obediente à lei do silêncio.
Nesta sexta-feira, segundo relatos de manifestantes, incomodado com o “Bom Dia Lula”, chegou empurrando as pessoas e estraçalhou os equipamentos de som, como mostram as fotos acima. Em seguida, correu para o cerco da Polícia Federal. Certo da impunidade, retornou filmando os participantes da vigília. Como também foi filmado por manifestantes, acabou identificado. Segundo relatos feitos ao Blog, no início das manifestações a favor de Lula no bairro Santa Cândido, se municiou de bombas de gás alegando necessidade de autodefesa.
Não foi, pelo que consta dentro da superintendência, o primeiro episódio em que ele se envolve com “vizinhos”. Há quem lembre de uma confusão arranjada quando de uma confraternização entre antigos servidores – todos idosos – da Caixa Econômica Federal. Na ocasião, criou sérios desentendimento com um coronel, ameaçando-o de viz de prisão.
O antipetismo e suas posições ideológicas radicais à direita – fascistas? – estão escancaradas no seu Facebook, com mensagens contra Lula e até críticas recentes ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, como mostrada nas fotos acima. Mas não é tudo. No Blog Bonde, um noticiário do Paraná, consta a confusão que ele gerou ao falar na Câmara Municipal de Londrina, em abril de 2014.
Lá, em 2014, seu discurso já assustava os ouvintes. Afinal, mostrou-se adepto da violência para combater a violência, como registrou o Blog Bonde:
“O perfil do delegado no Facebook é recheado de mensagens e imagens de temas polêmicos. Na rede social, Schefer ressalta a importância do cidadão ter o direito de se defender de “bandidos e criminosos”. ‘Esta casa é protegida por Deus e uma arma! Se você quiser encontrar a ambos, basta entrar sem ser convidado!!’, destaca o policial através de uma imagem de uma arma de fogo na rede social“.
O discurso da autoproteção, ou autodefesa, ele usa como forma de defender a violência que rega e pratica, como ocorreu nessa manhã.
Foi com ele e a campanha pelo armamento das pessoas, que o delegado candidatou-se a deputado federal pelo Partido da República, em 2014, na coligação Coligação: União Pelo Paraná (PSDB / DEM / PR / PSC / PT do B / PP / SD / PSD / PPS). Recebeu o apoio de 0,41% dos eleitores – 23.239 votos -, ficando em uma suplência. Certamente, com todo o estardalhaço que está fazendo, tentará nova vaga em outubro.
Na manhã desta sexta-feira, porém, ele novamente se apegou na autodefesa. Alegou ter sido agredido pelos manifestantes, esquecendo que assim como ele, que depois de destruir os equipamentos de som voltou ao local para filmar (intimidar?) os manifestantes, outros também o filmaram. E as cenas colhidas o mostram em perfeito estado. Ainda assim, conseguiu convencer as autoridades e foi levado ao IML. Advogados que acompanhavam o caso na defesa dos manifestantes iriam tentar submetê-lo também a um exame toxicológico.
O episódio desta sexta-feira faz lembrar as agressões feitas por um desconhecido à deputada estadual do PCdoB do Rio Grande do Sul, Manuela D’Ávila,hoje candidata à presidência da República. Foi em 9 de abril, dois dias depois de Lula se apresentar à Polícia Federal. Narramos o caso em Ação de provocador cria dúvida sobre segurança de Lula.
Como ocorreu naquela ocasião – motivo, aliás, da preocupação da parlamentar – o agressor, um eleitor de Jair Bolsonaro, saiu e voltou, escoltado”, para o prédio da Polícia Federal. Isto a levou a questionar o nível de segurança em que estaria o ex-presidente Lula:
“Até me dizerem o nome e o RG dele eu tenho o direito de pensar que ele é qualquer pessoa. O interesse em dizer que ele não é um agente, não é o carcereiro, é da Polícia Federal (…) o problema não é o factoide dele. Eu quero saber por que ele está lá dentro e eu não posso entrar? É isso. Quem é ele? Essa é a pergunta: Quem é ele?”
A identificação daquele provocador continua desconhecida. Jamais se voltou ao assunto. O de hoje, só foi identificado por ter retornado ao local e ter sido filmado. Mas a duvida permanece a mesma: como a Polícia Federal admite que tais pessoas frequentem seu prédio. Como pode uma pessoa que, não tendo passado pelo teste psicotécnico, e demonstrando todo este perfil que ele mesmo alimenta nas redes sociais, exerça a função de delegado e – o mais grave – porte uma arma dada pelo Estado?
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