terça-feira, 4 de setembro de 2018

A metáfora do fogo, Temer, a destruição da memória coletiva e a dor de testemunhar isso no Rio

A metáfora do fogo, Temer, a destruição da memória coletiva e a dor de testemunhar isso no Rio

O momento é de tristeza imensa e de luto nacional, mas muitas pessoas sequer percebem o simbolismo da destruição, pelo fogo, de um museu do Rio que era uma parte fundamental da nossa identidade, da memória coletiva, do que eu, você e nossos filhos somos hoje, como filhos da mesma nação.
O Museu Nacional, fundado há exatamente 200 anos, abrigava o mais antigo fóssil humano já encontrado no Brasil, a quem demos o nome de Luzia. Abrigava também a imensa coleção de artefatos egípcios, iniciada por D. Pedro I. Abrigava também a coleção de arte e artefatos greco- romanos da imperatriz Teresa Cristina. Abrigava ainda um dos maiores acervos de Ciência Natural e de fósseis das Américas.
Estive com minha filha há exatamente quatro meses aqui no Museu da Quinta da Boa Vista e a umidade nas salas principais me entristeceu e me surpreendeu, por ser apenas a prova mais visível do abandono e do descaso.
O Museu Nacional, que contava com 470.000 volumes e 2.400 obras raras, não conseguiu resistir ao descaso, ao desamor pela nossa história, ao congelamento de investimentos na educação e cultura por 20 anos e ao completo despreparo, pequenez e imbecilidade do governo Temer.
Para se ter um ideia, o repasse de verbas para o Museu, que foi de R$ 550 mil em 2013 e deveria permanecer em torno desse valor, foi de apenas R$ 54 mil até abril de 2018, levando a instituição à humilhação de fazer uma vaquinha virtual para arrecadar R$ 100 mil recentemente, para que pudesse reabrir a sala mais importante do acervo.
Sem a manutenção necessária, a parte elétrica tornou-se obsoleta e perigosa, a possibilidade de uma tragédia estava clara, o número de visitantes caiu drasticamente, gerando um ciclo de imensas dificuldades, tristezas e perdas que e culminaram com o incêndio.
A destruição, pelo fogo, de uma imensa parte da memória coletiva, do legado que queremos deixar para a geração da minha filha, é uma metáfora da destruição de um país inteiro, um país violentado, incendiado pelo ódio e pelo fascismo, esquartejado e transformado em cinzas por um grupo de canalhas.
Tristemente, Michel Temer será lembrado pela História como um anão moral que não apenas destruiu o presente de milhões de brasileiros, mas destruiu também o passado, uma parte de nossa história como nação, simbolizada pelo incêndio da noite de ontem aqui no Rio.

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