Como convencer alguém a não votar no Bolsonaro

Um minimanual de argumentação

Segundo a primeira pesquisa do 2º turno, publicada ontem, o Bolsonaro tá só 16% à frente do Haddad em votos válidos. A margem é menor do que se esperava, mas ainda é uma derrota da qual nós não vamos sair sem virar votos.
Virar o voto dos eleitores do Bolsonaro é essencial pra vitória. É você dobrar, triplicar o poder do seu próprio voto. Não vamos vencer a eleição sem sair ao zap e às ruas e convencer o outro. Mas isso não é exatamente fácil de fazer, senão a gente não tinha vindo parar nessa situação. Como é que eu convenço alguém a não votar no Bolsonaro?
Do mesmo jeito que você convence qualquer pessoa de qualquer coisa. Você precisa entendê-laescolher o argumento adequado a ela, apresentar o argumento sem confronto e de uma perspectiva pessoal. Vamo lá.

(1) ENTENDER

A diferença entre convencer uma pessoa pela força e pelo argumento é que pela força você obriga a pessoa a fazer o que você quer, contra a vontade dela; já o argumento faz com que ela queira. Por isso não existe argumento universalmente convincente. O argumento convincente funciona como um adaptador, encaixando o seu ponto de vista na vontade do outro.
Pra isso, você precisa entender essa vontade. Por que a pessoa está votando no Bolsonaro? O que ela vê de vantagem nele? O que ela vê de ruim no PT? O que ela teria a perder caso o Bolsonaro seja eleito?
Essa é uma ilustração que eu uso pra mostrar às minhas alunas os diferentes efeitos de um mesmo problema. Sendo o problema o Bolsonaro, você precisa entender qual efeito é mais importante pro eleitor que você pretende convencer.
Use o seu conhecimento sobre a pessoa. Ela gosta de fazer trilha, se comove com o suplício dos animais, compartilha vídeo da Luisa Mell? Vai de meio ambiente. Ela é pobre, assalariada, se fudeu com a reforma trabalhista? Vai de renda. Ela é cientista, acadêmica, universitária? Vai de educação, de inovação. Ela é religiosa? Vai de moral. Todo mundo tem uma prioridade!
Um detalhe importante de sondar é o antipetismo. Uma pessoa convicta de que NÃO vai votar no PT ainda é um possível voto nulo/em branco.
Entendeu a pessoa? Identificou as prioridades dela? Vamo pro próximo passo.

(2) ESCOLHER ARGUMENTOS

Agora que você já identificou as prioridades do outro, você precisa personalizar a conversa que vai ter com esse eleitor específico. É hora de escolher seus argumentos.
Este pdf, esta threadestaesta, este mapa e outras fontes que tão circulando dão várias opções de argumentos. Faça sua própria pesquisa também: “Bolsonaro meio ambiente”, por exemplo, encontra várias notícias sobre ele querer acabar com o Ministério do Meio Ambiente e com as multas de desmatamento.
Anote os melhores argumentos no bloco de notas, salve as imagens e os vídeos no celular. Dê preferência ao que tiver menos texto, ninguém gosta de ler. Se o teu argumento tiver num link, não passe o link; leia VOCÊ a matéria e aí resuma pra pessoa. Vou dar uns exemplos aqui de imagens e vídeos convincentes:
Exemplo de imagem convincente que passa a informação no mínimo de texto possível
Escolhidos os argumentos, tá na hora de conversar.

(3) ARGUMENTANDO SEM CONFRONTO

A pessoa confrontada se fecha ao diálogo. Humilhações, sermões, acusações e xingamentos transformam a posição política do outro em questão de orgulho. Não adianta querer envergonhar o eleitor do Bolsonaro, por mais que você queira. Isso não é eficaz. A pessoa só se deixa convencer quando se sente confortável!
Essa parte exige paciência sua. Se você se pegar irritada ou frustrada, dá uma pausa, abre uma cerveja. Tenha como meta não levantar a voz e não usar o caps lock. Já entra na conversa com essa mentalidade. Evite também usar o tom professoral e arrogante, de quem está ensinando ou explicando alguma coisa. O eleitor não vai gostar de ser tratado desse jeito e vai perder a vontade de te ouvir.
Outro fator importante é a conversa ser particularÉ muito difícil mudar a opinião de alguém em público — comentário de post, discussão no twitter, mesa de bar — porque a pessoa fica constrangida de “ceder” na frente de todo mundo. Chama a pessoa pra mensagem, conversa numa situação em que ela não se sinta pressionada!
Por fim, nós temos o melhor recurso de convencimento: a perspectiva pessoal.

(4) PERSPECTIVA PESSOAL

A experiência pessoal é mais convincente do que números, dados e estatísticas. Uma mulher com as trompas uterinas ligadas tem uma chance minúscula de engravidar, mas como minha tia ligou as trompas e engravidou, eu não confio.
O mesmo vale pra política. Quanto mais você aproxima a pessoa do seu argumento através de exemplos e perspectivas pessoais, mais convincente ele é. É legal falar que o Lula e o Haddad, enquanto ministro da Educação, entregaram 214 escolas federais de educação profissional cobrindo todas as regiões do país. É mais legal falar que eu venho de uma cidade pequena e precária e só tive ensino médio de qualidade porque andava 1h30 de ônibus todo dia, de graça, pra estudar em um CEFET que o PT inaugurou. Ou que muitos amigos meus só se formaram graças às bolsas do ProUni, porque não tinham dinheiro pra faculdade particular.
Entra em detalhe, apresenta tua história da maneira mais concreta possível. Se você tá com medo, descreve as ameaças, o clima de violência. Botando a pessoa no teu lugar, ela vai pensar do teu jeito.

(5) CONTE PROS AMIGOS!

Convenceu alguém? Corre e conta pros teus amigos. A gente fica tão desanimada e melancólica com as pesquisas que acaba desistindo de tomar ação. Saber que o outro conseguiu virar um voto dá aquele gás de otimismo. Eu só tou aqui escrevendo isso porque uma amiga minha convenceu a mãe e a outra convenceu um taxista. Aí eu lembrei que não é tão difícil convencer alguém.

Se você tiver sugestões de vídeos e imagens, manda no meu twitter que eu incluo!