sábado, 13 de outubro de 2018

Tudo, menos o PT Antipetismo empedernido ou perfeito bode expiatório das forças conservadoras.

Tudo, menos o PT

Antipetismo empedernido ou perfeito bode expiatório das forças conservadoras.

- Daniela Gontijo

Como uma pessoa que estuda violência há 15 anos eu tenho algumas
coisas a dizer sobre o momento político que estamos vivendo. Fiz uma
tese de doutorado sobre violência, mímesis, contágio. Estudei a
estratégia do bode expiatório que, para mim, vem tomando proporções
escabrosas no Brasil.

Entendo a estratégia do bode expiatório como um dos pilares do golpe
que podemos sintetizar no Grande Acordo Nacional – “Tem que mudar o
governo para estancar essa sangria", disse Romero Jucá. Trocando em
miúdos, trata-se de uma estratégia para desmontar o estado de bem
estar social que já era capenga, para servir aos interesses do grande
capital.

Não sou petista e fiz muita oposição ao Governo Dilma e às escolhas
catastróficas de um modelo econômico conservador e predatório. Mas é
tão óbvio que o PT se tornou um bode expiatório e que o ódio ao PT é
um catalisador de temores e insatisfações, projeto das elites e da
grande mídia pra manipular pessoas. Eu tenho visto tanta gente
conhecida que já não reconheço: de uns tempos pra cá enrubesce ao
falar, trava o queixo, baba de ódio. O fenômeno tem sido relatado por
amigas/os também sobre familiares e colegas.

Não tem nada com mais força na sociedade que catalisar os ódios num
insígnia única. É densamente amalgamador e se potencializa numa
espécie de tautologia, como se tudo passasse a justificar esse ódio e
o ódio também passasse a balizar tudo.

Um sinal contundente do êxito da estratégia do bode expiatório é a
relativização de todo o resto. Quem comprou o “Ódio ao PT” não odeia,
não de um modo contundente e avassalador, o Jair Bolsonaro, o Michel
Temer, o Aécio Neves, o Gilmar Mendes, o golpe jurídico-midiático, o
“grande acordo nacional, com Supremo, com tudo”. Não discursa, com
indignação contra nenhum deles. PEC do congelamento, retrocesso de
direitos, fascismo, homofobia, racismo, machismo, apologia ao estupro,
apologia à tortura. Não odeia nada disso. As coisas mais hediondas não
cabem na indignação de quem comprou o ódio único ao PT. Mas o
antipetismo empedernido é nada mais, nada menos que um projeto de
manipulação feito em modelos consolidados historicamente.

O antropólogo René Girard dedicou uma vida ao estudo do tema com
centenas de livros publicados. Em sociedades em crise, as massas,
focadas no bode expiatório, elegem a vítima sacrificial, que nunca é a
verdadeira culpada. Hordas sociais catapultam o ódio e expurgam a
vítima. Apesar de parecer um movimento espontâneo, há sempre o
interesse de uma elite por trás, que precisa poupar o verdadeiro
culpado e zelar pelo status quo. Por isso, a vítima sacrificial é
sempre uma figura que foi marginalizada, que carrega um estigma, o que
torna mais fácil sua designação como bode expiatório.

Evidente que o PT não é uma quadrilha, tampouco o partido que mais
roubou na história do país. Muito pelo contrário, tirou o país do mapa
da fome e estamos aí, nesse exato momento, vendo retrocessos na
educação, na saúde, na assistência social etc. Teve Fies, teve Prouni,
teve “Ciência sem fronteira”, teve “Fome zero”, teve “Minha casa,
minha vida” e tanta política pública acertada que o Lula tem recolhido
reconhecimento em todo canto do mundo e acaba de ganhar seu 35o
honoris causa. Teve problema? Teve muito! Mas nada diferente nem pior
do que os que sempre estiveram no poder. E certamente nada que
justifique catalisar ódios num partido só. E em geral, quando a pessoa
vem com o “fora todos”, é eleitora do inominável, se não no 1o, no 2o
turno, e sequer se dá conta de como seu ódio segue exclusivista.
Porque outro sintoma que constato do bode expiatório e da onda de ódio
é o ofuscamento para o restante.

O ódio, já dizia Sara Ahmed, é pegajoso. Mobiliza-se mais gente que se
junta contra algo do que a favor. O ódio tem essa potência do expurgo.
Nada é mais agregador que o ódio. E a estratégia de manipulação via
bode expiatório tem dado certo por toda a história mundial. No Brasil,
agora vemos no “tudo, menos PT”, a ascensão do autoritarismo, o
declínio do diálogo e o escalonamento da intolerância e agressividade.
Pra quem brinca com fogo e acha que Jair não fará o que diz, Jessé
Souza já nos relembrou que Hitler já avisara tudo que faria. Se você é
do tipo “tudo, menos PT”, você cogita votar num ser extremamente
perigoso, que propaga e estimula o ódio, banaliza a violência e cuja
propaganda é uma mão em forma de arma. Um ser que diz que “o erro da
ditadura foi torturar e não matar”, e que já deveria estaria preso, se
nosso país fosse sério. Se você cogita votar nele, você certamente foi
tomado/a pelo Ódio Único e anda relativizando o oco. O oco é a cara do
fascismo. O oco tem a cara de uma pessoa que não articula nem o
bê-a-bá da economia, que já foi condenado por apologia ao estupro e
comentário racista, que tem como herói um torturador sanguinolento,
responsável por 45 mortes e desaparições, exaltado pelo Jair em rede
nacional. O oco é a cara do seu ídolo Brilhante Ustra, que torturou
uma mulher grávida de 7 meses e levou duas crianças, uma de 4, outra
de 5 anos, para assistir os pais torturados, sujos de fezes e vômito.

Horror não se relativiza. Não queiramos ver o oco. Todo mundo perde.
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