Uma grande derrota para Trump - e haverá mais!
A vitória dos Democratas no Câmara é importante não somente no sentido imediato de que irá supervisionar Trump mas também porque pode marcar o início do fim desse pesadelo
14/11/2018 16:38
Créditos da foto: Democratas celebram vitória nas eleições (@knkxfm/Twitter)
Com a vitória do Democratas na Câmara dos Deputados, e previsão para a conquista de 37 cadeiras, ainda há um pouco de confusão sobre o que isso significa. E ainda há debate sobre o que isso pode indicar para o futuro de Trump e seu partido.
Muitos apontaram o fato de que o partido do presidente normalmente perde cadeiras na Câmara nas eleições intermediárias, e que, por isso, essa perda pode ser somente os caminhos usuais da política. Mas não é tão fácil perder cadeiras quando a economia está tão bem: o desemprego é o mais baixo há 50 anos (3.7%), com baixa inflação, e os salários reais (ajustados com a inflação) estão finalmente mostrando crescimento significativo.
Os Republicanos apontam para a perda de 63 cadeiras dos Democratas em 2010, com o presidente Obama, para fazer a perda atual parecer normal. Mas essa não é uma comparação apropriada: naquela eleição, a economia estava se recuperando de sua pior recessão desde a Grande Depressão. O desemprego estava em 9.4%, e milhões de pessoas haviam perdido não somente seus empregos como também suas casas.
Uma comparação melhor para as eleições intermediárias atuais seria 1998, com Bill Clinton na Casa Branca. O desemprego na época estava em 4.5%. Os Democratas ganharam cinco cadeiras na Câmara. E Clinton estava afundado em seus próprios problemas: no mês depois daquelas eleições, ele se tornou somente o segundo presidente dos EUA a sofrer um impeachment.
A economia normalmente é muito levada em consideração nas eleições intermediarias. Em algumas eleições podem haver eventos que podem abalar o impacto da economia. Em seu primeiro mandato, George W. Bush presidiu com uma geração de emprego negativa, o primeiro presidente a fazê-lo desde a Grande Depressão. Mas nas eleições intermediárias de 2002, ele conseguiu tirar todas as más noticias da mídia com uma enorme blitz de relações públicas que antecederam a Guerra do Iraque. Então o partido Republicano conquistou oito cadeiras na Câmara e manteve o Congresso.
Mas não houve guerra ou grande evento que dominou esse ciclo de eleição. Na realidade, Trump fez o que pôde para ser o assunto principal – seu modus operandi desde a corrida de 2016. Respondendo à sugestão de que, com o desemprego em 3.7%, ele deveria falar sobre economia, ele disse, “às vezes não é tão excitante falar sobre economia”.
Para Trump, “excitante” significa capitalizar com a raiva, ódio, racismo e medo. E ele fez uma campanha fervorosa para agitar todos esses demônios naqueles que o ouviam, enquanto preparava uma tempestade, tentando exibir uma caravana de refugiados da América Central, pobres e desarmados, como se fossem o exército chinês prestes a entrar com tanques na nossa fronteira sulista.
Não funcionou, e os Republicanos perderam a Câmara. Os Democratas também conseguiram sete governadores, varrendo a maioria das conquistas (11 governadores) que os Republicanos haviam conseguindo nessa importante arena nos últimos nove anos.
É previsto que os Republicanos ganhem duas cadeiras no Senado, mas isso é em grande parte um problema estrutural. Essa é uma assembléia legislativa na qual 20% do país (desproporcionalmente rural) pode eleger a maioria, e temos uma divisão polarizada crescente entre o meios urbano e rural (e que Trump fez o máximo para ampliar). Exigirá mais trabalho para trazer a democracia para essa instituição. Sem mencionar trazer a democracia para o sistema eleitoral presidencial, no qual Trump perdeu por 2.8 milhões de votos.
Na realidade, os Republicanos se baseiam fortemente na supressão eleitoral, “gerrymandering” e privação geral afim de governar esse país. O grande crescimento da presença eleitoral, para uma eleição intermediária, foi encorajador. Mas na eleição presidencial de 2016, os EUA ficou em 26o de 32 no ranking de participação eleitoral dos países da OECD (um grupo de países de alta renda em sua maioria). Temos muitas leis, regras e práticas que nos colocam próximos do fundo da pilha. Quando isso mudar, as chances de um comando minoritário de direita cairão.
A vitória dos Democratas no Câmara é importante não somente no sentido imediato de que irá supervisionar Trump mas também porque pode marcar o início do fim desse pesadelo. A estratégia de Trump para sobrevivência política (que parece ser sua única preocupação) é continuar jogando carne vermelha para seus apoiadores. O medo dos Republicanos dessa base leal limita deserções que poderiam levar ao seu impeachment (na Câmara) e mais importante sua condenação no Senado. Essa estratégia de focar quase que completamente em sua base o torna diferente de qualquer outro presidente, e, de fato, da maioria dos líderes mundiais, que geralmente preferem expandir sua base política apelando a, pelo menos, alguns eleitores fora de seus apoiadores leais.
Mas essa estratégia também prejudica seu partido e suas próprias chances de reeleição, arrastando ele e os Republicanos à um apoio minoritário mais permanente. Isso pode ser visto na demografia da última eleição intermediária, ao passo que os Republicanos perderam eleitores brancos suburbanos, mulheres, e latinos, e se embasaram mais em homens brancos mais velhos.
Trump perder a Câmara foi o primeiro grande passo em direção à um deslizamento político. E haverá mais nos próximos dois anos.
*Publicado originalmente no Common Dreams | Tradução de Isabela Palhares
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