quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O fascismo por ele mesmo: Philippe Pétain

O fascismo por ele mesmo: Philippe Pétain

Aclamado na Primeira Guerra, general Pétain comandou França de Vichy, colaborando com regime nazista na Segunda Guerra e deportando milhares de judeus.

REDAÇÃO

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Opera Mundi publica, nesta semana, um especial sobre fascismo - contado pelos próprios fascistas. São discursos e entrevistas de Adolf Hitler (Alemanha), António Salazar (Portugal), Francisco Franco (Espanha), Rafael Videla (Argentina), Benito Mussolini (Itália), Emílio Garrastazu Médici (Brasil) e Philippe Pétain (França) que mostram como estas figuras pensavam as sociedades que governavam e justificavam os atos de seus regimes.

Philippe Pétain (1856-1951) nasceu em Cauchy-à-la-Tour, ao norte da França. Ingressou no exército aos 20 anos, quando, em Paris, estudou na Academia Militar e na Escola Superior de Guerra e exerceu funções em diferentes unidades até 1899. Entre 1900 e 1917, o francês foi de Chefe de Batalhão a comandante-chefe do Exército, sendo aclamado pela vitória das forças armadas francesas em Verdun, durante a Primeira Guerra Mundial. 
Em 1940, um ano após o inicio da Segunda Guerra, assumiu o cargo de vice-presidente e, meses depois, assumiu como presidente do governo francês à medida em que negociava uma trégua com o governo da Alemanha e da Itália. Com o território dividido pela guerra, vigorava no país a França de Vichy (1940-1942), nome dado ao Estado francês provisório que correspondia à zona desocupada e, a partir de então, sob influência nazista. Sob o comando de Pétain, o regime enviou de milhares de judeus e comunistas a campos de concentração. O nome vem da cidade onde o governo colaboracionista era sediado.
Segundo documentos oficiais, a França de Vichy deportou de 77.000 pessoas a campos de extermínio até o ano de 1944. No mesmo ano, com a vitória dos Aliados, a República foi restabelecida e Pétain foi acusado de traição e crime de indignação nacional, além de ter sido condenado à morte pela Justiça de seu país. Ao receber a sentença, Pétain disse: “Um marechal francês jamais pede perdão. Só Deus e as próximas gerações poderão julgar. Isso basta à minha consciência e à minha honra. Deposito toda a minha confiança na França”. O então presidente Charles De Gaulle, no entanto, concede um indulto e comuta a pena máxima em prisão perpétua. Philippe Pétain morreria em 1951, na ilha de Yeu. 

Discurso do Marechal Pétain, em 12 de agosto de 1941
Maus ventos
Franceses,
Tenho coisas graves a vos dizer. De muitas regiões da França, eu sinto se levantar nas últimas semanas um mau vento. A inquietude ganha as mentes, a dúvida se apossa das almas. A autoridade de meu governo é questionada, e as ordens são frequentemente mal executadas.
Em uma atmosfera de falsidades e intrigas, as forças da reconstrução perdem o ânimo. Outras  buscam substituí-las, forças que não tem a sua nobreza nem o seu desinteresse.
Meu comando é invocado muitas vezes, mesmo contra o governo, para justificar as chamadas ações de salvação, que são, na realidade, apelos à indisciplina.
Uma verdadeira doença tomam o povo francês. As razões dessa doença são de fácil compreensão. Às horas cruéis seguem-se sempre os tempos difíceis.
Assim nas fronteiras da nação, que a derrota pôs fora de combate, mas cujo império permanece vulnerável, a guerra continua vulnerável, a guerra continua arrasando a cada dia novos continentes, e cada um se interroga com angústia sobre o futuro do país.
Há os que se sentem traídos; outros se creem abandonados. Alguns se perguntam onde estão seus deveres; outros buscam primeiramente seus interesses.
A radio de Londres e certos jornais franceses se juntam a essa desordem espiritual. O sentimento de interesse nacional acaba por perder sua justeza e seu vigor. 
Desta desordem das ideias nasce a desordem das coisas. Será este realmente o destino que, após treze meses de calma, de trabalho e de incontestável recuperação, a França mereceu?
Franceses, eu vos coloco a questão. Eu vos demando a medir sua amplitude e a respondê-la dentro do segredo de vossas consciências.
Nossas relações com a Alemanha são definidas por uma acordo de armistício, cuja característica não pode ser que não provisória. O prolongamento desta situação torna difícil suportar que ela governe as relações entre essas duas grandes nações.
Quanto à colaboração que nos ofereceu no mês de outubro de 1940 o chanceler do Reich, em condições de grande cortesia que eu apreciei, ela é um trabalho de longa duração que não pôde ainda dar todos os seus frutos.
Saibamos ultrapassar a pesada herança de desconfiança legada por séculos de dissenção e de querelas, para nos orientarmos em direção às grandes perspectivas que podem nos oferecer à nossa atuação um continente reconciliado.
Este é o objetivo para o qual nós nos dirigimos. Mas é uma obra imensa, que exige de nossa parte tanto vontade quanto paciência. Outras tarefas são absorvidas pelo governo alemão; tarefas gigantescas onde se desenvolve, no Leste, a defesa de uma civilização que pode mudar a face do mundo.
Quanto à Itália, nossas relações são igualmente regidas por um armistício. Aqui, também, nossos votos são de escapar de uma relação provisória para criar lações mais estáveis, sem os quais a ordem europeia não poderá se construir.
Eu gostaria, por fim, de lembrar à grande república americana que ela tem de não deve temer o declínio dos ideais franceses. Sim, nossa democracia parlamentar está morta. Mas ela não tinha mais do alguns poucos traços comuns com a democracia dos Estados Unidos. Quanto ao instinto de liberdade, ele vive sempre em nós, orgulhoso e firme. A imprensa americana com frequência nos julga mal. Que ela se esforce para compreender as qualidades da nossa alma, e o destino de uma nação cujo território foi, no curso da história, periodicamente devastados, a juventude, dizimada, e a felicidade, perturbada pela fragilidade de uma Europa de cuja reconstrução ela pretende hoje participar.
Nossas dificuldades internas são feitas sobretudo de problemas do espírito, da penúria dos homens e da rarefação dos produtos.
Os problemas dos espíritos não tem origem apenas nas vicissitudes de nossa política externa. Ela provém, sobretudo, da nossa lentidão em construir uma nova ordem, ou mais exatamente, em a impor. A revolução nacional, da qual eu, em minha mensagem de 3 de outubro, descrevi em grandes linhas, não entrou ainda na ordem dos fatos.
Ela aí não penetrou, porque entre o povo e eu, que nos compreendemos muito bem, colocou-se a barreira dupla dos defensores do antigo regime dos servos dos trustes.
Os soldados do antigo regime são numerosos. Eu assim classifico sem exceção todos os que fazem passar seus interesses pessoais à frente dos interesses permanentes do Estado: maçonaria, partidos políticos desprovidos de apoiadores, mas sedentos de vingança, funcionários públicos apegados a uma ordem que os beneficiava e seus senhores ou aqueles que subordinaram os interesses da pátria aos dos estrangeiros. Um longo período será necessário para vencer a resistência de todos os adversários da nova ordem, mas devemos, desde agora, romper com seus projetos, dizimando seus chefes.
Se a França na compreender que ela é condenada, pela força das coisas, a mudar de regime, ela verá se abrir diante dela o abismo em que a Espanha de 1936 quase desapareceu, e de onde ela se salvou graças apenas à fé e o sacrifício.
Quanto ao poder dos trustes, ele procurou se afirmar, novamente, utilizando, para seus fins particulares, a instituição dos comitês de organização econômica.
Esses comitês foram criados, no entanto, para corrigir os erros do capitalismo. Eles tiveram, também, como objetivo confiar aos homens responsáveis a autoridade necessário para negociar com a Alemanha, e assegurar uma repartição justa das matérias-primas indispensáveis para nossas indústrias.
A escolha dos membros desses comitês foi difícil. Nem sempre pudemos encontrar reunidas, nas mesmas cabeças, a imparcialidade e a competência. Esses organismos provisórios, criados sob o império de uma necessidade premente, foram muito numerosos, muito centralizados e muito pesados. As grandes sociedades ali se arrogaram uma autoridade excessiva e um controle muitas vezes inadmissível.
À luz da experiência, eu corrigirei o trabalho realizado, e retomarei contra o capitalismo egoísta e cego a luta que os soberanos da França travaram e venceram contra o feudalismo. Espero que nosso país se desembarace da mais desprezível das tutelas: a do dinheiro.
As organizações profissionais irresponsáveis e guiadas por preocupações mercantis por muito tempo dificultaram nosso abastecimento. Já determinei sanções e golpeei, na pessoa de um homem, todo um sistema: aquele dos escritórios nacionais de distribuição que asseguravam aos atravessadores, em detrimento dos produtores e dos consumidores, um controle exclusivo e usurários de toda a cadeia do abastecimento.
Ainda sofremos. Mas não quero que nosso sofrimento se espalhe diante do escândalo das fortunas construídas sobre a miséria geral.
Isso seria ainda mais revoltante depois que este povo, depois de um ano, realizou um imenso trabalho, apesar das privações de toda sorte e das mais difíceis condições. Refiro-me a nossos lavradores, que, sem mão de obra, sem fertilizantes, sem sulfato, conseguiram obter resultados superiores aos do ano passado. Refiro-me também aos mineiros que trabalharam sem pausa, de dia e de noite, em busca de carvão. Refiro-me a todos os operários que, no retorno do trabalho, não encontraram lares sem fogo para aquecer e mesas pobremente guarnecidas.
Foi graças ao esforço em todos os momentos que a vida do país pôs ser mantida, apesar da derrota. É com eles e para eles que nós poderemos construir amanhã uma França livre, poderosa e próspera. Que eles esperem, comigo, tempos melhores: a provação da França chegará ao fim.
Quanto à penúria de homens, ela se deve sobretudo à ausência dos prisioneiros. Enquanto mais de um milhão de franceses, incluindo os elementos mais jovens e vigoroso da Nação, e a melhor fração de sua elite, são mantidos à margem das atividades do país, será difícil construir um edifício novo e durável. Se retorno permitirá preencher o grande vazio que estamos sofrendo. Seu espírito fortificado pela vida nos campos de batalha, amadurecidos pelas longas reflexões, irão se tornar o melhor cimento da Revolução Nacional.
E, no entanto, apesar das dificuldades, o futuro do nosso país se constrói com uma precisão a cada dia mais assegurada. Famílias, negócios, comunas, províncias serão os pilares da Constituição, à qual os melhores operários de nossa reconstrução trabalham sem descanso e cujo preâmbulo abrirá para o “futuro francês” claras perspectivas.
Nossas reformas mais recentes são objeto de uma revisão metódica, em que as grandes linhas aparecerão mais claramente, uma vez que os textos legislativos serão simplificados e codificados.
Mas não basta legislar e construir. É preciso governar. Essa é uma necessidade e um desejo de todo o povo. 
A França não pode ser realmente governada a não ser de Paris. Ainda não pude voltar até lá, e não voltarei até que algumas possibilidades me sejam oferecidas.
A França só pode ser governada se houver a aprovação da opinião pública, uma aprovação ainda mais necessária num regime de autoridade. Esta opinião, hoje, está dividida.
A França só pode ser governada se diante do impulso do chefe corresponda a exatidão e a fidelidade dos órgãos de transmissão. Essa exatidão e essa fidelidade ainda são falhas.
A França, no entanto, não pode esperar. Um povo com o nosso, forjado pela mistura e raças e de paixões, indócil e corajoso, pronto ao sacrifício mas também à violência e sempre vibrando quando sua honra está em jogo, necessita de certezas, de espaço e de disciplina.
A questão do governo ultrapassa muito, portanto, o quadro de um simples rearranjo ministerial. Ele exige, antes de tudo, a rígida manutenção de certos princípios.
A autoridade não vem de baixo. Ela é exatamente aquela que eu confio ou que eu delego. Eu a delego, num primeiro plano, ao almirante Darlan, para quem a opinião púbica não se mostrou sempre favorável ou sempre justa, mas que não cessou de me ajudar com sua lealdade e sua coragem.
Eu confiei a ele o ministério da Defesa Nacional para que ele possa exercer sobre o conjunto de nossas forças em terra, mar e ar uma ação mais direta.
Ao governo que me cerca, eu deixarei a iniciativa necessária. Eu busquei, porém, traçar, em algumas áreas, uma linha muito clara e eis aqui o que eu decidi:
1. A atividade dos partidos políticos e dos agrupamentos de origem política está suspensa, até segunda ordem, na zona livre. Esses partidos não poderão organizar reuniões públicas ou privadas. Eles deverão renunciar a toda distribuição de folhetos e cartazes. Aqueles que não conformarem com essas disposições serão dissolvidos.
2. A imunidade parlamentar está suprimida a partir da data de 30 de setembro.
3. As primeiras sanções contra os funcionários públicos culpados de emitir falsas declarações, com relação às sociedades secretas, foram tomadas. Os nomes destes funcionários foram publicados nesta manhã no Diário Oficial. Os titulares de altos graus maçônicos, cujos nomes foram igualmente publicados numa primeira lista, não poderão exercer nenhuma função pública.
4. A Legião permanece sendo na zona livre o melhor instrumento da Revolução Nacional. Mas ela só pode cumprir sua tarefa cívica permanecendo, em todos os níveis, subordinada ao governo.
5. Dobrarei os meios de ação da política, cuja disciplina e lealdade deve garantir a ordem pública.
6. Foi criado um quadro de comissários do poder. Esses altos funcionários serão encarregados de estudar o espírito da aplicação das leis, decretos, normas administrativas e instruções do poder central. Eles terão a missão de encontrar e de eliminar os obstáculos que o abuso da regulamentação, a rotina administrativa ou a ação de sociedades secretas possam atrapalhar a obra da reconstrução nacional.
7. O poder dos prefeitos regionais, primeiro esboço do que serão os governadores de província na França de amanhã, está fortalecido. A iniciativa deles em relação às administrações centrais foi ampliada. Sua autoridade sobre todos os chefes de serviços locais é direta e completa.
8. A Carta do Trabalho, destinada a regular, segundo os princípios de minha mensagem de Saint-Etienne, as relações entre operários, artesãos, técnicos e patrões, para a concórdia e a compreensão mútuas, acaba se ser objeto de um acordo solene e será promulgada em breve.
9. O  estatuto provisório da organização econômica será reorganizado, com base na simplificação e no reagrupamento dos comitês, com uma maior representação, dentro deles, da pequena industria,  da pequena indústria e dos artesãos e uma revisão da sua gestão financeira, e a articulação com os órgãos provinciais de arbitragem.
10. Os poderes, o papel e a organização dos escritórios nacionais de revitalização serão modificados segundo as modalidades que, salvaguardados os interesses dos consumidores, permitirão o exercício da autoridade do Estado ao mesmo tempo no plano nacional e no plano regional.
11. Decidi utilizar os poderes que me foram concedidos pelo Ato Institucional n. 7 para julgar os responsáveis por nosso desastre. Um conselho de justiça política foi criado com esse objetivo. Ele apresentará suas proposições antes do dia 15 de outubro.
12. Na aplicação do mesmo ato constitucional, todos os ministros e altos funcionários públicos deverão prestar juramento de fidelidade, e se engajar no exercício dos deveres de seus cargos para o bem do Estado, de acordo com as leis da honra e da probidade.
Essa primeira série de medidas tranquilizará os franceses que não pensam em outra coisa que a salvação da Pátria.
Os prisioneiros eu ainda estão nos acampamentos e que se preparam em silêncio para a obra da restauração nacional, camponeses da França que realizam a colheita em condições particularmente difíceis, habitantes das zonas interditas que colocam toda a sua confiança na integridade da França, operários dos bairros distantes privados da carne, do vinho e do tabaco e ainda assim cheios de coragem, é em vocês que eu eu penso.
É para vocês que eu dirijo essas francesas palavras.
Eu conheço, por profissão, o que é a vitória. E vejo, hoje, o que é a derrota. Recebi a herança de uma França machucada. Essa herança, tenho o dever de a defender, mantendo vossas aspirações de vossos direitos.
Em 1917, eu pus fim aos motins.
Em 1940, eu pus um termo à derrota. Hoje, é a vocês mesmos que eu quero salvar.
Na minha idade, quando se doa sua pessoa a seu país, não há mais sacrifícios dos quais se pretenda escapar. Não há outras regras que não sejam as da salvação pública.
Lembrem-se disso:
Um país batido, se ele se divide, é um país que morre.
Um país batido, se ele sabe se unir, é um país que renasce.
Viva a França!

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