Equador retira o asilo diplomático de Assange e polícia britânica captura o ativista
'WikiLeaks' afirma que o jornalista não saiu da sede diplomática após a decisão, e que os policiais o prenderam dentro do edifício a convite dos funcionários equatorianos, o que tornaria a ação ilegal
11/04/2019 15:03
Créditos da foto: (Reuters)
O Equador tomou a decisão de retirar o asilo diplomático do ativista Julian Assange, fundador do WikiLeaks, comunicada neste 11 de abril pelo presidente Lenín Moreno. Horas depois, a polícia de Reino Unido capturou o jornalista, em ação violenta dentro da sede diplomática, e que ocorreu com a permissão dos funcionários equatorianos.
“O réu foi colocado sob custódia em uma estação de polícia do centro de Londres, onde permanecerá até o momento de ser apresentado ao Tribunal de Westminster, o que acontecerá o mais breve possível”, afirma um comunicado policial.
Vale destacar o fato de que o fundador do WikiLeaks não saiu da embaixada, e sim preso pelos oficiais que foram convidados a entrar pelo embaixador equatoriano Jaime Marchán. “O serviço de Polícia Metropolitana recebeu a permissão da Embaixada para ingressar”, confirma o comunicado da Scotland Yard.
Por sua parte, o ministro do Interior britânico, Sajid Javid, assegurou que o periodista australiano de 47 anos enfrentará a Justiça dentro do território do Reino Unido.
“Quase sete anos depois de ingressar à Embaixada equatoriana, posso confirmar que Julian Assange está agora sob custódia policial, e enfrentará a Justiça no Reino Unido”, indicou Javid. “Ninguém está acima da lei”, agregou.
Condições de extradição
O ex-presidente do Equador, Rafael Correa, foi um dos primeiros em comentar a prisão de Assange, e apontou suas críticas a seu sucessor: “Lenín Moreno é o maior traidor da história equatoriana e latino-americana”.
Durante seu pronunciamento oficial, Lenín Moreno assegurou ter colocado uma condição específica para a prisão do fundador do WikiLeaks: “solicitei ao Reino Unido a garantia de que o senhor Assange não seria entregue em extradição a um país no qual possa sofrer torturas ou pena de morte”, afirmou o mandatário. “O governo britânico confirmou tal disposição por escrito, de acordo às suas próprias normas”, completou.
Na terça-feira (9/4), Moreno acusou Assange violar “diversas vezes” o acordo de convivência para garantir sua permanência na sede diplomática. No dia seguinte, foi publicado um reporte sobre o cumprimento desse protocolo, que se aplicou a Assange no ano passado, após a restrição de acesso à Internet para o asilado.
Entre outros fatores, o documento inclui a proibição de “realizar atividades que possam ser consideradas políticas e de interferência em questões internas de outros Estados, ou que possam causar danos às boas relações do Equador com qualquer outro Estado, seja qual fosse a forma que empregada para executar tais atividades”.
O diplomata equatoriano Fidel Narváez, que foi cônsul no Reino Unido durante o governo de Correa, criticou essa determinação, assegurando se tratar de “armadilhas para produzir um fato que justifique a entrega de Assange aos Estados Unidos”.
Espionagem e extradição
Também nesta quarta-feira (10/4), o WikiLeaks denunciou que Assange estava sendo espionado pelo governo de Moreno no recinto diplomático, com o fim de reunir dados para sua possível extradição. O portal apresentou como provas alguns vídeo e fotografias de câmeras de vigilância tomadas nas reuniões privadas mantidas pelo ativista.
Segundo editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, o material foi armazenado e “muito provavelmente” compartilhado com a administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Além disso, Hrafnsson afirma que existe uma ordem de extradição pronta, esperando para ser enviada a Londres no momento em que a operação de entrega do ativista seja mais viável comunicacionalmente.
Vale recordar que a Suécia abriu um processo contra Assange em 2012, acusando-o de suposta violência sexual. O fundador do WikiLeaks pensava que o país escandinavo usava essa trama para justificar uma prisão e posterior extradição aos Estados Unidos, onde o ativista era acusado de crime contra o interesse nacional pelos vazamentos realizados por seu portal, e poderia enfrentar até a pena de morte.
No entanto, há outro ponto no mínimo curioso a este respeito: a Suécia havia retirado a denúncia contra Assange em 2017, e após a sua detenção nesta quinta-feira (11/4), uma das acusadoras do caso solicitou aos promotores que o mesmo seja retomado, segundo informa a agência de notícias AFP.
Vazamentos sobre Moreno
Por sua parte, o WikiLeaks declarou que as acusações de Moreno chegam depois que o portal de vazamentos publicou um informe de terceiros sobre o envolvimento do mandatário latino-americano numa trama de corrupção conhecida como “INA Papers”.
Segundo o ex-cônsul Narváez, o governo equatoriano propagou a tese de que Assange havia hackeado o telefone do presidente Moreno, como pretexto para retirar o seu asilo, e apesar de não ter evidência a respeito e das impossibilidades de que isso seja verdade – como, por exemplo, o jornalista não tem acesso à Internet e outros meios de comunicação para realizar tal feito.
Assange estava refugiado na Embaixada do Equador em Londres (Reino Unido) desde junho de 2012, quando Quito proporcionou asilo político para evitar que fosse extraditado à Suécia.
No ano passado, o portal revelou as acusações secretas contra Assange levantadas pelo Departamento de Justiça estadunidense.
Em março deste ano, Chelsea Manning, a ex-soldado e ex-agente de inteligência do Exército dos Estados Unidos que entregou milhares de documentos secretos ao WikiLeaks, foi presa novamente, por se negar a declarar diante de um jurado, em caso que, segundo fontes, se relaciona com o de Assange.
*Publicado originalmente em actualidad.rt.com | Tradução de Victor Farinelli
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