quarta-feira, 12 de junho de 2019

Sergio Moro: Peão Imperialista do Departamento de Justiça dos EUA

Política

Sergio Moro: Peão Imperialista do Departamento de Justiça dos EUA

 

 
11/06/2019 21:46
 
 
A revelação do jornal The Intercept de que a equipe da Operação Lava Jato sabotou as eleições presidenciais de 2018 mostra o que todo mundo já sabia, mas não conseguiu provar concretamente: que a condenação de Lula foi uma gigantesca farsa legal.

Em qualquer nação que fosse minimamente civilizada, o caso contra Lula, bem como uma boa parte da Operação Lava Jato em geral, teria sido rejeitado há muito tempo, devido à evidente desconsideração do princípio de presunção de inocência até que se prove o contrário e o devido processo.

A Operação Lava Jato implementou um verdadeiro vale tudo contra o PT e o Lula, o qual incluiu coerção ilegal, tortura psicológica de testemunhas, indução de testemunhos de barganha, vazamentos ilegais de conversas telefônicas, uso inequívoco de inferência bayesiana e um oceano de condenações políticas em um deserto de provas.

Até mesmo o escritório dos advogados de defesa de Lula foi grampeado pelos vigilantes zelosos. Nos EUA, o país que inspirou nossos vigilantes, a escuta de um escritório de advocacia é um crime extremamente grave que automaticamente elimina qualquer condenação e resulta e resulta em prisão para os infratores. 

No entanto, com o apoio da imprensa e dos verdadeiros donos do poder, nossos vigilantes se tornaram heróis. Heróis da causa do antipetismo e de um protofascismo desenfreado que teve seu triunfo nas eleições manipuladas por notícias falsas e justiça falsa.

Desta forma, o jogo que foi organizado entre juízes e promotores serviu para um grande projeto político, além de meras ambições pessoais.

Isso, no entanto, é uma pequena parte da história.

Esta, distorcida e politicamente motivada, Operação Lava-Jato, não foi criada e conduzida por Moro ou Dalton Dallagnol.

Foi criada e orientada pelo Departamento de Justiça dos EUA (DOJ). Esta é uma informação notória e pública.

A influência dos EUA no Ministério Público brasileiro aparece em várias comunicações diplomáticas dos EUA que vazaram para o Wikileaks e foram amplamente divulgadas em outros artigos de notícias. Estas comunicações mostram como a Lava Jato foi criada basicamente pelo DOJ e conduzida de acordo com sua própria metodologia.

O fato é que os EUA usam suas próprias leis de seu próprio sistema legal para impor seus interesses ao mundo.

Um exemplo é a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior (FCPA), uma lei dos EUA que visa impedir que as empresas façam pagamentos a funcionários do governo em troca de vantagens, o que tem um claro caráter extraterritorial.

De acordo com os Estados Unidos, o Departamento de Justiça (DOJ) pode realizar investigações de corrupção em qualquer país se uma empresa investigada tiver algum tipo de conexão, não importa quão pequena, com os EUA. Dessa forma, qualquer empresa que negocie ações na bolsa de valores dos EUA ou possua qualquer conta bancária nos EUA pode ser investigada.

Na visão do governo dos EUA, esta lei (assim como outras) deu-lhe uma espécie de jurisdição internacional para investigar casos de corrupção em qualquer parte do mundo. Como é difícil para uma empresa internacional não ter interesses nos EUA, isso submete todas as empresas de qualquer tipo de relevância aos caprichos legais e políticos do sistema legal dos EUA.

Dessa maneira, essa luta contra a corrupção aparentemente neutra, na escala internacional, pode ser facilmente distorcida para beneficiar apenas interesses geopolíticos e geoeconômicos específicos.

Em seu recente livro, “Armadilha Americana”, Frederic Pierucci, ex-executivo da empresa francesa Alstom, acusa os EUA de usar suas leis e seu sistema de cooperação jurídica internacional como uma "arma econômica" para eliminar os concorrentes das corporações norte-americanas. Em outras palavras, há uma espécie de “imperialismo legal” que contribui decisivamente para fortalecer os interesses políticos e econômicos dos EUA em todo o mundo.

Pierucci foi preso pelo FBI em Nova York, com base na lei da FCPA, sob as alegações de que ele havia participado de um suborno na Indonésia. Independentemente de a alegação ser verdadeira, o absurdo levanta suspeitas: um executivo de uma empresa francesa, que cometeu um suposto crime na Indonésia, foi preso pelos EUA, em território norte-americano, com base numa lei dos EUA.

O fato é que essa pressão do DOJ dos EUA sobre a Alstom resultou na aquisição de uma grande parte da empresa pela corporação norte-americana General Electric, que há muito tempo estava de olho na empresa francesa. Coincidência?

A mesma coisa está acontecendo agora com a empresa chinesa Huawei, que os EUA querem destruir. O DOJ pressionou o governo canadense a prender sua CEO, Meng Wanzou, em Vancouver, sob a alegação de que ela violou as sanções econômicas dos EUA contra o Irã. Coincidência?

Outro fato concreto é que a operação de Moro e Dallagnol contribuiu para destruir a cadeia produtiva brasileira de petróleo e gás natural, o que levou à venda (abaixo das taxas de mercado) das reservas de petróleo do pré-sal, enfraqueceu nossa competitiva indústria da construção civil e comprometeu projetos estratégicos de defesa nacional, como a construção de submarinos nucleares. De acordo com um estudo feito pela consultoria GO Associados, a Operação Lava-Jato causou uma queda de 2,5% no PIB somente em 2015, causando perdas de emprego para centenas de milhares de brasileiros. 

Coincidência?

Eu duvido. 

Objetivamente falando, a Operação Lava-Jato beneficiou os interesses geoeconômicos e geopolíticos dos EUA no Brasil e em toda a região. Os objetivos geopolíticos que foram severamente danificados foram os do povo brasileiro.

A perseguição de Lula e do PT foi apenas um meio para atingir metas maiores. Moro e Dallagnol foram peões em um jogo de poder mundial que eles desconheciam ou serviam de propósito, o que seria muito pior. Eu preferiria não acreditar nesta segunda hipótese.

E há coisas que ainda não sabemos. Por exemplo, por que a Embraer aceitou tão rápida ser comprada pela Boeing? Foi por razões estritamente financeiras ou o DOJ, de alguma forma, “influenciou” a venda? É importante lembrar que o DOJ acusou a Embraer de pagar subornos durante as vendas de aviões na República Dominicana e na Índia. Coincidência? Talvez não.

Em uma nação soberana, tudo isso seria seriamente investigado e quaisquer culpados seriam punidos.

No Brasil de Bolsonaro, em um país que agora está agindo em total submissão aos EUA, no qual Moro e Dallagnol são tratados como heróis, será difícil que isso aconteça.

Neste triste país, que já foi praticamente transformado em colônia, o “imperialismo legal” do DOJ tem raízes profundas em nosso sistema legal.

É provável que uma investigação sobre esse assunto, se acontecer, se restrinja à participação pessoal de Moro e Dallagnol e possa realmente beneficiar Bolsonaro, que aparentemente quer se livrar de Moro. Uma operação de controle de danos para salvar o Executivo e o Judiciário já está em andamento.

Se isso acontecer desta maneira, ela apenas arranhará a superfície do problema.

Moro, Dallagnol e até mesmo Bolsonaro não são nada mais que peões. Seus crimes são apenas instrumentais para o grande crime que destruiu a democracia, a soberania e a economia de nossa nação.

Lula repetidamente alertou que a questão chave é a soberania.

Quer que eu desenhe?

*Publicado originalmente em brasilwire.com | Tradução de Cristiane Manzato

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