Confira lista com os principais momentos de ruptura a condutas anteriores do Brasil em sua política externa
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CartaCapital reuniu 8 momentos em que o governo ignorou tradições da diplomacia do Palácio do Itamaraty e pôs o Brasil sob questionamento da comunidade global.
1. Bolsonaro decepciona no Fórum de Davos, na Suíça
O presidente estreou na política internacional gerando frustração. Ele foi autor de um dos discursos mais curtos já vistos em uma sessão inaugural no fórum de Davos, na Suíça, com duração de aproximadamente oito minutos. Ele poderia falar até 45 minutos.
Na ocasião, repetiu seus slogans eleitorais, “Deus acima de tudo” e “Não queremos uma América bolivariana”. Defendeu privatizações e pediu que turistas estrangeiros visitassem o Brasil.
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Para Guilherme Casarões, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi estranho que o presidente não tenha se preocupado em transmitir um recado coeso aos estrangeiros. “Como Bolsonaro diz, em um grande fórum capitalista, que, no Brasil, Deus está acima de todos? Isso traz um risco enorme”, exemplifica. “Critique-se a retórica de Dilma, mas ela não ‘saudava a mandioca’ na ONU”.
2. Bolsonaro reza no Muro das Lamentações
Em 24 de abril, o presidente fez um gesto inédito para um chefe de Estado no mundo: visitou a basílica do Santo Sepulcro e, com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi ao Muro das Lamentações, em Jerusalém.
As duas visitas quebraram a tradição da diplomacia brasileira, chocaram-se com a posição da Organização das Nações Unidas (ONU) e geraram críticas das autoridades da Palestina.
Jerusalém Oriental, onde fica o Muro, é um território considerado sob disputa pela comunidade internacional. O ato foi visto como reconhecimento de que as áreas ocupadas por Israel, após 1967, pertencem de fato ao país.
Antes de Bolsonaro, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, foi a primeira autoridade dos Estados Unidos a fazer a mesma visita, junto a um primeiro-ministro de Israel.
3. Bolsonaro tenta alçar o próprio filho à embaixada em Washington
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho 03 do presidente, não tem carreira na diplomacia. Não se graduou em Relações Internacionais, não se formou pelo Itamaraty e muito menos exerceu algum cargo ligado à área. Desde a redemocratização, todos os embaixadores brasileiro nos Estados Unidos apresentavam este perfil. Eduardo seria uma exceção.
Mas o presidente da República tentou emplacar o seu filho no posto mesmo assim. Para justificar a escolha, disse que Eduardo sabe falar inglês e espanhol, fez amizade com a família do presidente americano Donald Trump e fritou hambúrguer nos Estados Unidos. Apesar da repercussão negativa, Jair Bolsonaro chegou a levar o filho à Casa Branca.
Em entrevista para a Rádio França Internacional, publicada em 12 de julho, o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Ricupero afirmou que “só um monarca absoluto, como os reis árabes do Golfo, pode fazer uma coisa desse tipo”. No fim, o plano foi frustrado foi falta de apoio no Senado Federal.
4. Bolsonaro faz discurso violento na 74ª Assembleia Geral da ONU
Em 24 de setembro, Bolsonaro fez um discurso incendiário na 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas: negou a crise na Amazônia, atacou a Europa e acusou a mídia de “promover falácias” sobre o cenário ambiental no Brasil. Também fez parte de seu discurso uma série de ataques a países de orientação socialista. Acusou Cuba e Venezuela de “ditadura” e depreciou os governos petistas que o antecederam.
Por cerca de 40 minutos, Jair Bolsonaro discursou como se fizesse uma live no YouTube. A aparição gerou críticas da imprensa internacional. Para o jornal francês Le Monde, o presidente demonstrou “intolerância” e contradisse “declarações consensuais” de seus antecessores com suas falas sobre a Amazônia. O jornal britânico The Guardian publicou que Bolsonaro lançou “defesa insana e conspiratória” de seu registro ambiental.
5. Bolsonaro e Paulo Guedes ofendem primeira-dama da França, Brigitte Macron
Em comentário publicado em 23 de agosto em sua rede social, o presidente Jair Bolsonaro endossou um comentário de um internauta que zombou da esposa do presidente francês, Emmanuel Macron, Brigitte Macron. Na ocasião, o usuário expôs uma montagem que comparou Brigitte à primeira-dama Michelle Bolsonaro. Enquanto Brigitte é 24 anos mais velha que Macron, Michelle é 27 anos mais nova que Bolsonaro. O presidente brasileiro, então, respondeu: “Não humilha cara. Kkkkkkk”.
A imprensa francesa classificou a atitude de Bolsonaro como sexista. Como se isso não bastasse, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou publicamente que Brigitte “é feia mesmo”, durante discurso em 5 de setembro. Os comentários provocaram um levante nas redes sociais: mulheres publicaram a hashtag “#DesculpaBrigitte”. Emocionada, a primeira-dama francesa agradeceu à mobilização.
6. Bolsonaro não cumprimenta presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández
Já antes das eleições argentinas, Alberto Fernández era alvejado pelo presidente Jair Bolsonaro. Em diferentes discursos pelo Brasil, Bolsonaro disse que “bandidos de esquerda” voltariam ao poder na Argentina e que a população do país vizinho fugiria para o Brasil, ao ponto de transformarem o Rio Grande do Sul em uma “nova Roraima”, em referência à migração de venezuelanos no estado da região Norte.
Em 28 de outubro, após a vitória de Fernández, Bolsonaro quebrou a tradição diplomática ao não cumprimentar o novo presidente hermano. Em 10 de dezembro, rompeu com outra tradição: não se fez presente na cerimônia de posse do novo chefe de Estado. A decisão provocou temores de qual será o futuro da relação histórica de parceria entre os dois países.
7. Brasil vota contra resolução que condena embargos a Cuba
Em 7 de novembro, o Brasil votou contra uma resolução da ONU que condena e pede o fim do embargo comercial imposto pelos Estados Unidos a Cuba. A posição rompeu com a tradição diplomática que o Brasil adotava no assunto desde 1992.
Foram 187 votos favoráveis à resolução e apenas 3 contrários: Brasil, Estados Unidos e Israel. O documento é aprovado todos os anos na Assembleia Geral das Nações Unidas para que os EUA parem de punir Cuba com sanções desde a década de 1960.
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Para se justificar, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que era preciso parar de “bajular” Cuba. “Os países em desenvolvimento votam sempre a favor de Cuba. Desta vez o Brasil votou a favor da verdade”, escreveu o ministro, em sua rede social.
8. Brasil se alinha incondicionalmente a Trump
As declarações públicas de paixão ao presidente Donald Trump já eram comuns para quem acompanha o dia a dia de Jair Bolsonaro. Mas o cenário de submissão ficou mais claro após os Estados Unidos evidenciarem que o que existe, na verdade, é um amor não correspondido.
Afinal, durante o ano, o Brasil liberou visto para turistas dos Estados Unidos sem contrapartida, dispensou sua posição de privilégio na Organização Mundial do Comércio (OMC), entregou a base de Alcântara para os americanos, mas até agora não recebeu nada em troca.
Em 10 de outubro, a agência americana Bloomberg revelou documento que mostrou que o Brasil foi jogado para escanteio entre as prioridades de inclusão à Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países ricos. Bolsonaro exaltou as promessas de Trump para elevar o Brasil ao rol, mas descobriu-se que a Argentina passou a frente.
Em 2 de dezembro, Trump criticou publicamente uma suposta política de desvalorização do real e anunciou o aumento de taxa sobre o aço e o alumínio do Brasil. Em resposta, Bolsonaro disse que “não é porque um amigo falou grosso” que ele daria as costas.
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