Como cobrir uma pandemia em isolamento? por Thiago Domenici
Na sexta-feira, 13 de março, um grupo de repórteres ficou até mais tarde na redação da Agência Pública, em São Paulo. "Temos que publicar a história ainda hoje", sugeri ao repórter Bruno Fonseca. "No final de semana já deve sair algo sobre isso", ele concordou. O levantamento inédito que revelava a distribuição desigual de leitos de UTIs no país foi ao ar à noite. Comemoramos o sucesso do nosso esforço coletivo mas era evidente a estranha sensação ao deixar a redação. "Como será a semana que vem?", pensei.
Mais cedo, já havíamos publicado a entrevista do repórter Ciro Barros com a economista Monica de Bolle, que alertava que não havia precedente para a crise econômica causada pelo coronavírus.
Seguindo o rastro da informação de interesse público, a gente não sabia com exatidão, mas começava ali nossa cobertura da covid-19. Foi no domingo, 15, dia em que Jair Bolsonaro saía do isolamento para uma demonstração de irresponsabilidade com seus apoiadores, que a coordenação da Pública se reuniu online e definiu que toda a equipe ficaria em home office pelas próximas semanas. "Como cobrir a pandemia de casa?", "E os cuidados com os repórteres?", "Qual será o foco da nossa cobertura?", foram dúvidas postas ao organizar o esforço jornalístico que envolve mais de 20 profissionais.
Ao mesmo tempo em que todos procuram ficar em casa para tentar evitar o colapso do sistema de saúde, temos nos dedicado a tratar de assuntos que envolvem a centralidade do nosso trabalho: os direitos humanos em meio a uma pandemia.
Hoje completamos 20 dias de cobertura, a maior parte em isolamento social, e 18 reportagens publicadas — uma por dia, em média. Ao longo desse período que parece infinito, tratamos dos presos em meio ao coronavírus, do impacto na renda dos mais pobres, do trabalho informal sem direito à quarentena, das megaigrejas que seguem abertas, das populações aglomeradas e sem saneamento básico, das falhas e falta de transparência nas notificações do Ministério da Saúde e revelamos, com exclusividade, que sem testes as mortes nos serviços de óbitos de São Paulo são registradas como “causa indeterminada”.
Contamos também a dolorosa história da primeira morte no Rio, abordamos as redes sociais, a epidemia de fake news e os ataques digitais sofridos por pessoas infectadas, trouxemos o lado psicológico dos que são afetados pela pandemia e a palavra de uma especialista indicada por vocês, aliados do nosso jornalismo.
Se você olhar com atenção, vai reparar que muitas dessas reportagens foram assinadas por diversos repórteres, como a que conta as dificuldades dos profissionais de saúde que enfrentam o problema no corpo a corpo e as histórias de trabalhadores suspensos ou demitidos diante da crise. Na Pública, mesmo em meio ao isolamento, a cooperação é regra, não exceção.
E é por isso que queremos agradecer a participação essencial que vocês, nossos Aliados, têm no trabalho que fazemos. Vocês fortalecem a Pública e nos ajudam a fazer jornalismo de qualidade, sério e aprofundado – mais necessário do que nunca no momento repleto de incertezas e desafios que estamos enfrentando.
Sabemos que essa cobertura ainda vai longe e já estamos preparando novidades, como o lançamento de um podcast, com olhar humano e autoral, sobre os personagens das reportagens realizadas durante a pandemia.
Minha mãe, com 70 anos, grupo de risco, sempre me disse: "Antes de você, tem o outro, filho". Essa frase nunca fez tanto sentido. Se 2019 foi o ano que pôs o jornalismo à prova, como trouxemos em nossa retrospectiva de dezembro passado, em poucos meses, 2020 já exige ainda mais luta por democracia e pela vida do outro. Onde estivermos, estaremos fazendo nossa parte e garantindo que a informação de qualidade chegue até você. Fique em casa.
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Rolou na Pública
Vida de Jornalista. O Thiago Domenici, autor do texto da newsletter de hoje, participou do último episódio do podcast Vida de Jornalista, falando sobre a cobertura da Pública sobre o coronavírus e como temos nos organizado neste momento.
Pública indo mais longe. Na semana passada, divulgamos que nossa cobertura está toda disponível para ser publicada em outros veículos. Desde então, mais de 40 comunicadores passaram a receber e publicar nossas reportagens!
Entrevista republicada. A entrevista com a médica da Fiocruz Margareth Dalcolmo – que contou com a participação direta dos Aliados – foi republicada pela Exame.com, Carta Capital e outros 10 sites.
Igrejas X isolamento. A reportagem sobre as igrejas evangélicas que seguem funcionando, contrariando as recomendações do Ministério da Saúde, foi usada em uma recomendação da OAB a todas as organizações sociais – inclusive igrejas e templos religiosos – para que observem as providências que asseguram o distanciamento social como medida de prevenção necessária ao enfrentamento do coronavírus.
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Novas dos Aliados
Novo Podcast. Graças ao apoio dos Aliados, a Pública está produzindo um novo podcast, "A vida nos tempos do Corona", que vai contar a história das pessoas que entrevistamos em nossas reportagens sobre Covid-19. O primeiro episódio será lançado em breve e, como Aliado, você vai recebê-lo em primeira mão, antes de todo mundo! Fique ligado!
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