segunda-feira, 11 de maio de 2020

Impeachment ou morte

Impeachment ou morte
 
As cenas lamentáveis se repetem enquanto a pandemia devasta o país. No domingo, assistimos mais uma vez a manifestações antidemocráticas patrocinadas pelos Bolsonaro, dessa vez com direito a espancamento de jornalistas. Dois dias antes, em um protesto no Dia do Trabalho, profissionais de saúde haviam sido humilhados por apoiadores do presidente ao denunciar as mortes dos colegas e pedir condições dignas para continuar a cuidar dos pacientes de coronavírus.

Ontem, de acordo com os números sabidamente subnotificados, 8.609 pessoas já haviam perdido a vida. “E daí?”, disse Jair Bolsonaro na semana passada, quando perguntado sobre as mortes dos cidadãos do país que preside. De lá para cá foram mais 3 mil mortos. Não há motivo para acreditar que a indiferença do presidente foi abalada. 
Também se repetem as filas pavorosas de milhões de brasileiros pelo país afora tentando sacar uma ajuda emergencial de 600 reais por mês para não morrer de fome. Na chuva, no sol, aglomerados, arriscando-se ao contágio enquanto os leitos de UTI se esgotam. Também são cada vez mais os trabalhadores convocados a manter o engenho funcionando. Serviços como telemarketing, pasmem, estão entre os essenciais. Anteontem, o prefeito de Belém - onde não há mais leitos de UTI disponíveis - incluiu as empregadas domésticas nessa categoria. 
A Casa Grande nunca ligou para as mortes na senzala. O resultado está aí. Para cada pessoa que morre em Moema, um bairro de classe média alta em São Paulo, 4 morrem nas comunidades da Brasilândia, na zona Norte da capital paulista, e o número de vítimas da pandemia cresce mais entre os negros do que entre os brancos, como revelaram Bruno Fonseca, Rute Pina e Bianca Muniz em reportagem publicada nesta quarta-feira.
Enquanto isso, o presidente manda a imprensa calar a boca e segue disseminando fake news e perdigotos. Uma pesquisa realizada por duas universidades - uma dos Estados Unidos e da Itália -, observando o contágio em 255 municípios brasileiros, concluiu que a taxa de crescimento de casos nas cidades que tiveram manifestações bolsonaristas foi quase o dobro que nas demais. Os municípios com mais eleitores do presidente, mesmo sem atos públicos, também têm cerca de 20% a mais de casos. 
Não há motivo para duvidar: com Jair Bolsonaro e seu séquito macabro tudo se tornará cada vez pior a cada semana. A única saída decente é o impeachment e não temos mais como postergá-lo. Chegou a hora de escolher se queremos vida, democracia e dignidade ou se vamos nos entregar passivamente à morte, ao autoritarismo e ao escárnio de Bolsonaro. 
Marina Amaral, codiretora da Agência Pública
O que você perdeu na semana

A atual situação de Novo Progresso. Investigação conjunta da Repórter Brasil e do The Guardian percorreu duas florestas protegidas na região de Novo Progresso, no Pará, alvo de queimadas no ano passado, e encontrou desmatadores reincidentes que não pagam multas ambientais. Entre eles, um fiscal ambiental do Paraná e uma ex-candidata a vereadora. Com crimes impunes e redução da fiscalização, queimadas de 2019 devem se repetir neste ano em meio à pandemia do coronavírus.

Tendências de engajamento no Twitter. O "Monitor Nuclear" é uma aplicação do Núcleo Jornalismo que mostra tendências de engajamento em perfis dos políticos mais relevantes no Twitter. Os dados podem indicar tanto o humor do momento quanto a mobilização de bases de apoio, por exemplo.   

Agressão a profissionais de saúde. Segundo apuração do UOL, Renan da Silva Sena, funcionário terceirizado do MDH (Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos), agrediu verbalmente e cuspiu em enfermeiras que faziam uma manifestação na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na última sexta-feira (1). A pasta afirmou que pediu à empresa terceirizada a demissão de Sena e que ela teria sido concretizada em 23 de abril, porém a reportagem pediu e não recebeu a documentação que provasse o ato demissionário.  
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Polêmica dos empréstimos consignados. Bancos como Itaú Consignado e BMG estão na mira da Secretaria Nacional do Consumidor por explorar vulnerabilidade financeira de aposentados. Muitos idosos fazem a contratação sem conhecer o produto. Segundo especialistas ouvidos pela Pública, a oferta abusiva de crédito consignado leva ao fenômeno do superendividamento. Ou seja: quando a pessoa “está de boa-fé, mas não consegue pagar suas dívidas”.

Negros na Covid-19. Levantamento da Pública mostra que o índice de mortes por coronavírus no Brasil é muito maior entre pessoas negras. Em São Paulo, cidade com mais mortes pela doença, para cada óbito em Moema, bairro com menos negros da capital, existem quatro em Brasilândia, bairro da periferia com grande população negra.

Ataques ao Cimi. Em entrevista à Pública, presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Dom Roque Paloschi afirma que nota de ataque da Fundação Nacional do Índio (Funai) ao Cimi não vale a pena responder. Para ele, o órgão está sendo usado de “bode expiatório”: “Estamos suplicando desde o primeiro momento que o governo tomasse ações sérias e efetivas para evitar que o vírus se propagasse no meio das comunidades. Mas pelo contrário, estão atuando para que a mortandade cresça”, afirma o bispo.

Interferência do FBI na PF. Meses de investigação da Pública revelam o aumento da influência do FBI na Polícia Federal graças ao ex-ministro Sergio Moro. Interferência do órgão americano inclui instalação de agentes estrangeiros em um centro de inteligência na Tríplice Fronteira, investigações sobre corrupção no país e acesso a dados biométricos de brasileiros. Qualquer uma das polícias pode pedir impressões digitais e outros dados identificadores, como nome, número de seguro social número de CPF.
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Madeira ilegal no Pará. Um estudo recém-publicado pela ONG Imazon mostra que 70% da madeira explorada no Pará de agosto de 2017 a julho de 2018 é ilegal. São os dados mais recentes disponíveis. Os resultados revelaram que 38 mil hectares de florestas foram explorados pela atividade madeireira no período citado. A grande maioria, cerca de 27 mil hectares, não possuía autorização.
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