“Bolsonaro vai acabar porque foi um acidente de percurso. Os milionários não suportam mais o Bolsonaro, as suas boçalidades. Bolsonaro vai ser defenestrado. Cai do governo com ou sem impeachment. Ele não é tolerado pela burguesia brasileira. Ele está tentando fazer como um Beppe Grillo [político italiano], se identificar com o lumpesinato. Ele não vai poder sustentar economicamente as esperanças. Ele será uma frustração para a população. A minha preocupação é que nessa frustração surja um projeto para o Brasil ou ficamos na mão de ditadores”.
A avaliação é de Roberto Requião em entrevista ao TUTAMÉIA, na qual trata da necessidade de união em torno de um projeto nacional, das divisões das oposições, de militares, empresários, movimentos sociais e da interferência dos EUA, do mercado financeiro e da mídia no processo político no Brasil (acompanhe a íntegra no vídeo abaixo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Três vezes governador do Paraná, o ex-senador avalia que o crescimento do apoio a Bolsonaro nas pesquisas de opinião está ligado ao auxílio emergencial, que será cortado em breve. “Ele se apropria do eleitorado mais afastado das questões políticas e econômicas, que foi do Lula com as políticas compensatórias. Mas o povo brasileiro, que conheceu o Getúlio Vargas, a CLT, que conheceu a evolução do Ocidente em relação a direitos de trabalhadores, das mulheres e isso tudo se incorporou à nossa legislação, quando a crise apertar, mais não vai se conformar e se submeter a essa canalha que acabou com a CLT. Não acredito que o auxílio emergencial vá manter na coleira esse eleitorado lulista”, declara.
E os empresários, que apoiam as políticas de Guedes e Bolsonaro? “As empresas são aliadas agora do Bolsonaro porque não viram onde vão parar. Com a permissão de venda de terra, os tais produtores do agronegócio vão desaparecer. E vão ser substituídos por fundos de pensão e grandes capitais exploradores. A burguesia que está ganhando dinheiro, amanhã vão perder totalmente o poder. A crise que vai chegando ai vai levar todo mundo para o mesmo barco”, prevê. E acrescenta:
“Estamos sendo destruídos pela submissão do Brasil aos interesses geopolíticos dos EUA e do capital financeiro. Como é possível aceitar que o capital financeiro, essa mais valia apropriada por uma minoria cada vez mais minoria e cada vez mais rica no Brasil e no mundo, dite as regras e escravize as pessoas? Marginalize os trabalhadores e crie uma sociedade para muito poucos? Isso não é sustentável. O Brasil não vai se subordinar a essa loucura de ser transformado numa plantation. Não podemos nos submeter a isso. É preciso devolver ao país a possibilidade de construir o seu processo civilizatório como vinha acontecendo. Estamos regredindo não ao século passado, estamos regredindo para uma economia primária, com semiescravização. É uma loucura”.
Requião diz não suportar mais a definição de Bolsonaro como fascista. “O fascista é autoritário e nacionalista. O Bolsonaro não é porra nenhuma. Bolsonaro é um equívoco, é um efeito colateral desse processo de desmoralização da política. Bolsonaro não tem a menor ideia do que seja pátria, nação, processo civilizatório. Os generais que o estão apoiando com pijama e sem pijama são generais despidos de qualquer amor pelo Brasil e de identidade como nosso povo. Exército, Marinha e Aeronáutica somam 400 mil homens. Eu simplesmente não acredito que tenhamos 400 mil entreguistas. Esses oficiais não têm sentimento de pátria mais. De repente são servos dos EUA. O nosso Exército, as nossas Forças Armadas não vão aceitar isso. Por mais que a sua cúpula de hoje esteja corrompida em favor do seu próprio salário, do seu domínio, da sua aposentadoria especial, da pensão para as suas viúvas, filhos, mulheres, não vai ser mantido isso, o Brasil não vai aceitar isso”.
Na sua análise, a ascensão de Bolsonaro foi resultado de um jogo de mobilização pela decepção, não ideológico. “Ele não tem enraizamento na população. Veio o jogo geopolítico dos EUA, a destruição da imagem dos políticos, a participação brutal da Globo desmoralizando tudo. A Lava Jato foi contra a corrupção, que tem que ser contida sempre, e atuou no sentido da desorganização das empresas brasileiras. Se o Lula lá atrás tivesse entregado o Pré-Sal para os americanos, não teria havido Lava Jato nem nada disso. É uma jogada que se repete no mundo, essa política de trabalhar com a decepção não propondo nada, como com Beppe Grillo, Erdorgan e Trump e Bolsonaro. Essa guerra híbrida, essa manipulação com suporte nos meios de comunicação e com o apoio de um judiciário que tem uma tendência muito clara de ir para a direita, que perdeu a perspectiva de identificação com o nosso povo, e que não tem o sentido de pátria. Esse sentido existia até na direitona fascista do golpe militar. Geisel era um nacionalista. Era autoritário, mas no peito do Geisel batia um coração brasileiro. Isso não existe mais. Eu, como nacionalista desenvolvimentista, quero Forças Armadas fortes e bem equipadas no Brasil”.
Para Requião, a saída está na formulação de um projeto nacional, democrático e popular. “Estamos chegando num limite e, por isso, precisamos ter um projeto eficiente. Um ato meio. Não seja um ato de covardia da frente ampla, que incorpora a canalha toda que jogou o país nessa merda em que nós estamos, e que não se submeta ao capital financeiro. Mas que não seja um projeto ousado demais, que a gente não sustente se chegar ao poder. Não tem firula. É restabelecer a soberania, resgatar as empresas nacionais estratégicas, restabelecer a democracia midiática, respeitar o trabalho e corrigir os absurdos feitos com a CLT e com a aposentadoria”.
E como aglutinar a oposição em torno de um projeto, já que há tanta divisão? “A oposição é uma convivência de capelas. Capela, aqui no Paraná, é o coletivo de bugios. Essa oposição está pensando eleitoralmente. Estão, de repente, acenando para o mercado financeiro, acenando para a imprensa, saúdam com entusiasmo o Rodrigo Maia. Tem que acabar com essa perspectiva eleitoral, essa visão limitada. Tínhamos que ter um candidato único à Presidência da República. Um projeto nacional de restabelecimento da soberania, da democracia, do respeito ao trabalho. Um projeto claro, moderado, sem o extremos da covardia, que é ao frente ampla, nem o extremo da temeridade, que é o avanço que não se pode sustentar depois”.
Requião achou interessante o último discurso de Lula. “Ele não abordou a tese do BC dependente da banca e da minoria rentista, mas falou de novo no trabalho, que é uma das bases do início do PT. Foi uma evolução, eu gostei do discurso, Para mim não é suficiente, mas também não estou querendo a radicalização que não é sustentada e inviabiliza qualquer governo que suceda essa loucura bolsonarista e liberal”. Defendendo Lula nos casos dos processos da Lava Jato, o ex-senador ataca a ideia de necessidade de autocrítica por parte do T:
“Autocrítica porra nenhuma. Quem faz autocritica é o devoto para o padre no confessionário, pedindo perdão a deus O político chama os erros de experiencia e não comete outra vez. O PT é a única base partidária no Brasil capaz de alavancar uma mudança. Acho uma besteira o que o Ciro faz. Estou enxergando a importância da mudança no Brasil e a importância dessa força organizada. Se não tivermos uma proposta de unidade nacional vamos continuar numa briga de bugios candidatos à Presidência. É preciso um projeto sério, factível, sustentável e moderno, que incorpore 70% da população. Que restabeleça a esperança do povo. É preciso deixar as vaidades de lado. O momento é da união nacional”.
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