Análise do resultado das eleições
Juca
ferreira
30
de nov 2020
As
desonestidades e as fakenews são partes intrínsecas desse jogo sujo das nossas
elites no embate político para manter seus privilégios intactos.
Não
são acostumados a seguir as regras e cumprir a lei. Compra de votos e outras
malandragens certamente houveram.
Quando
ganhamos, e ganhamos muitas vezes, esses truques e desonestidades existiram.
Ganhamos apesar deles e contra todo o arsenal das sabedorias de raposas
felpudas.
Não
acho que devemos ir por aí. Não há nenhuma prova ou mesmo indício de algo
grave, a não ser aqui e ali mentiras e calúnias, compra de votos etc. Em Recife
foi a mais baixa campanha em todas as capitais.
Mas
o enfrentamento de projetos políticos estratégicos para o país começou a se
desenhar nessa disputa eleitoral pelo mando dos municípios.
Boulos
e Erundina fizeram uma grande campanha. Política com P maiúsculo. Exemplar...
Vai ser preciso analisar cidade por
cidade.
E
a batalha mais importante está prevista para se dar em 2022 ...
Acho
que os dois fatores mais importantes para os resultados em todo o Brasil e que
devemos prestar atenção são de outra natureza.
Um
fator foi objetivo, no sentido de que é parte da realidade. E o outro, foi por
insuficiência e erro de avaliação e de preparo para o embate eleitoral:
Ainda
estamos sob a égide do ambiente e do clima social e político criado para dar o
golpe na presidenta Dilma, principalmente da avassaladora manipulação da
opinião pública, da qual participaram ativamente toda a grande mídia, a gangue
da LavaJato, grande parte do judiciário, o Congresso, a Polícia Federal
etc...
Na
verdade, boa parte do país foi envolvido e aderiu à histeria moralista,
incluindo setores sociais que não tinham nada a ganhar com a ruptura da ordem
democrática e hoje estão descobrindo aos poucos a verdadeira natureza do que
apoiaram.
Os
que tramaram o golpe na jovem e imperfeita democracia brasileira foram bem
sucedidos na manipulação e temos que admitir que conquistaram corações e mentes
de boa parte do país e lograram isolar em grande medida a esquerda e o PT. O
objetivo era extinguir o PT, destruir a liderança do ex-presidente Lula e
“passar o Brasil a limpo”.
Não conseguiram.
A
estratégia utilizada era como se fosse uma espécie de água sanitária que
apagaria todas as conquistas sociais das últimas décadas, indo até as que
vieram da época de Getúlio Vargas; fariam desaparecer e anulariam as demandas
por mudanças de vários segmentos da sociedade como as mulheres, os negros, os
povos indígenas, as demandas dos segmentos LGBT, dos jovens; outro objetivo era
domesticar a arte e a cultura brasileira, o pensamento crítico, os cientistas e
as universidades. Destruir tudo que signifique soberania nacional.
Tudo
isso orientado por forças ocultas internacionais, que estão operando
globalmente, com grandes estratégias, técnicas de comunicação, muito dinheiro,
assessorias etc..
Temos
que considerar a possibilidade de estarmos vivendo uma *guerra híbrida* com
todas as suas características e as diversas frentes, tipo lawfare etc.. Não dá
para continuar fazendo a disputa política no Brasil com uma mentalidade
provinciana, atrasada, com uma compreensão da realidade sem a profundidade
necessária e que não considera o que se passa no mundo. Não dá para ir tocando
o barco como se fosse uma disputa como era décadas atrás, ou como se o Brasil
fosse um lugar perdido no mundo, cuja dinâmica política é fruto dos conflitos
internos apenas. Como se não fôssemos objeto da cobiça do capital globalizado.
O
Brasil é uma das maiores economias do mundo, tem grandes reservas de
minerais estratégicos, uma das maiores reservas de petróleo do planeta, 17% das
reservas de água potável do mundo, uma mega biodiversidade etc..
O
mundo está sendo redesenhado, algo tipo um novo tratado de tordesilhas das
grandes potências sendo desenhado na marra.
Não
podemos pensar que vamos ter uma vida fácil daqui para frente.
A
extrema direita, por exemplo quer desconstruir o país, enfraquecer nosso estado
nacional, destruir nossa coesão social, enfraquecer um dos pilares dessa coesão
nacional que é nossa cultura. O objetivo dessa turma é eliminar as condições
que possibilitam existirmos enquanto nação.
Os
neoliberais, a direita que se crê civilizada e contemporânea está operando
juntos com essa extrema direita reacionária e retrógrada, aceitando essa
destruição da nação de olho nos negócios sem as regulamentações e restrições
impostas por uma sociedade civilizada. Querem fazer daqui o que o Chile de
Pinochet foi na década de 70.
Para
isso foi urdida a grande trama para demonizar as esquerdas, principalmente o
PT, prender Lula e reirá-lo da disputa.
A
sociedade brasileira ainda está marcada pelo que eles conquistaram na
construção deste cenário dantesco para o país e que diariamente tentam de mil maneiras
aprofundar esse caminho.
O segundo fator que pesou demais e contribuiu para o
resultado negativo é que não soubemos nos preparar para essas eleições, não
tivemos uma estratégia nacional que desse conta de compreender as condições
adversas que iriam sobredeterminar o pleito municipal. Essa foi a eleição
municipal mais entrelaçada com as questões políticas nacionais e não tiramos
nenhuma consequência disso na escolha do caminho em cada cidade.
Eu
já escrevi sobre isso antes, não é um humor advindo de resultados eleitorais
adversos. Venho desde antes do primeiro turno dizendo que a estratégia estava
errada, se é que pode se chamar de estratégia a posição de ter candidatos do
partido em todos os lugares. E a escolha do candidato refletir principalmente a
correlação de forças entre as tendências internas do partido.
O
PT, como o maior partido de esquerda teria que defender e tentar abrir um
caminho comum para toda a esquerda e para a oposição e em um espírito
frentista, canalizar os esforços para eleger o candidato em melhores condições
de enfrentar as forças reacionárias e conservadoras. A tarefa principal seria
derrotar a direita e já ir criando a frente que será decisiva em 2022.
Teríamos
que politizar a disputa, como Boulos e Erundina fizeram na capital paulista.
Não
vou aqui agora me estender porque estou querendo encerrar esse comentário.
Vamos
pagar um preço alto apesar de que o resultado final não foi bom, mas não foi
péssimo. Temos vitórias, avanços em meio a várias derrotas e resultados
negativos.
O
resultado das eleições fortaleceu a centro direita, os neoliberais, que
certamente vão se apresentar como alternativa à extrema-direita para
2022.
Vamos
ter que refletir sobre os erros, as insuficiências e buscar construir já uma
estratégia para 2022 que possa nos colocar com possibilidade de vitória.
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