sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Agência Pública

 15/01/2021

Esse ano será de ataques ao jornalismo


As palavras proferidas por Donald Trump no seu infame discurso na semana passada – “a imprensa é inimiga do povo” – são talvez a principal senha para aqueles que veem o bom jornalismo como um empecilho para seus desígnios: ajam agora. Palavras, como sabemos, têm consequências no mundo real. Assim como as tem o jornalismo investigativo, que expõe ilegalidade e crimes cometidos por pessoas que antes se achavam invencíveis.  

Se lá nos EUA os seguidores de Trump pintaram em uma porta do Capitólio “assassinem a imprensa”, por aqui os agressores dos jornalistas têm se valido de estratagemas cada vez mais extravagantes para tentar nos calar. Ainda estamos na segunda semana do ano e notícias recentes já mostram que esse será um ano de muitas agressões aos jornalistas. 

Esta semana a Repórter Brasil, nossa grande parceira em investigações sobre os malefícios dos agrotóxicos, sofreu uma série de ataques on-line que levaram o site a ficar fora do ar diversas vezes. Os atacantes enviaram uma chantagem anonimamente: ou a equipe apagava todos os arquivos dos anos de 2003 a 2005, ou o site permaneceria sob ataque. 

A Repórter Brasil não cedeu, e em seguida os bandidos tentaram arrombar a sede da entidade. Organizações de defesa do jornalismo, como a Abraji, emitiram comunicados veementes exigindo uma investigação

Aqui na Pública, temos recebido um tipo diferente de achaque de criminosos digitais. Desde o ano passado, e-mails falsos pedem que retiremos do ar a reportagem “O império de Isabel”, que detalha como a filha do antigo ditador de Angola, José Eduardo dos Santos, aproveitou o poder político do pai para, com empresas de fachada e informações privilegiadas, se tornar a mulher mais rica da África. A obsessão com essa reportagem demonstra a preocupação dos autores dos ataques com o fato de que a Pública é bastante lida pelos angolanos desde que investigamos a presença da Odebrecht naquele país.  

O primeiro email vinha assinado como um editor do Le Monde, nosso parceiro na investigação transnacional sobre o vazamento dos e-mails de Isabel dos Santos coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Dizia que estávamos violando o copyright sobre fotos deles e deveríamos tirar a matéria do ar. 

O email era falso, segundo os próprios editores do Le Monde comunicaram ao ICIJ. A pessoa em questão jamais havia trabalhado no jornal francês. 

Há algumas semanas, a turma voltou à carga, e dessa vez foi além: forjaram um email em nome de Tiago Mali, chefe de redação do site Poder 360, pedindo que a mesma reportagem fosse retirada do ar também por quebra de copyright. Comunicamos a equipe do Poder 360 e soubemos que também era falso. Trata-se de falsidade ideológica e fraude para silenciar a imprensa por uma coação. 

As comunicações tentaram assustar nosso provedor de serviços digitais, uma empresa brasileira que se orgulha de seguir a lei, tentando afirmar que eles seriam responsabilizados pela pretensa ilegalidade. Queriam boicotar nossa infraestrutura. 

Ainda bem, todos os parceiros da Pública entendem a importância do nosso trabalho e não vão ser intimidados. E nada disso vai nos calar.

Em frente.

Natalia Viana, cofundadora da Agência Pública



Pauta Pública. No primeiro episódio de 2021, o Pauta Pública conta os bastidores da série de reportagens que investigou como funcionam os congressos e as "terapias" que prometem "restaurar" homossexuais. Ouça agora nas principais plataformas de streaming. 

O que você perdeu na semana


Advogado acusado de homofobia. A juíza Cynthia Torres Cristofaro aceitou a denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) contra o advogado Celso Machado Vendramini, que responderá por homofobia. Bolsonarista, Vendramini dedica sua carreira a defender policiais militares acusados de homicídio, como a Agência Pública já havia mostrado nesta matéria

Ataque à imprensa. A organização de jornalismo Repórter Brasil está sendo alvo de uma série de ataques nos últimos dias que conseguiram retirar seu site do ar. Os invasores ameaçam continuar a ação criminosa caso reportagens não sejam apagadas e chegaram a tentar invadir fisicamente a sede do veículo.  

Encerramento da Ford. Mais de 5.000 funcionários perderam seus empregos com o encerramento das atividades da Ford no país na última semana. Nesta reportagem, relatos de algumas das chefes de família que estão entre os demitidos: "Mãe, e agora, o que vai ser de nós?", ouviu Jeane Santana Martins, que trabalhou na empresa por 19 anos. 

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Opus Dei investigada. Fraude, pressão sobre membros para obter dinheiro, métodos abusivos para ficar com a herança de idosos. Essas são algumas das acusações contra a Opus Dei no Uruguai e na Argentina. A instituição ultraconservadora ligada à Igreja Católica também atua no Brasil. 

Agrotóxicos como armas. Levantamento exclusivo da Agência Pública e Repórter Brasil revela um desvio no uso de agrotóxicos: eles estão sendo utilizados para matar e ameaçar pessoas. Houve 32 homicídios com os produtos na última década. Os venenos foram usados como armas em 305 casos de tentativa de envenenamento com pesticidas no período, de acordo com dados do Sistema de Agravos de Notificação (Sinan). 

Bolsa de reportagem para jornalistas. A Agência Pública em parceria com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) está convocando repórteres de todo o país a propor pautas investigativas sobre acesso à internet no Brasil e as diversas questões relacionadas ao tema, como falta de acesso a dispositivos, franquias de dados limitadas e bloqueio do acesso móvel. São quatro bolsas de R$ 7 mil e as inscrições vão até o dia 5 de fevereiro. 
Pare para ler
 

Colapso em Manaus. Em um momento em que a pandemia do coronavírus explodiu novamente em Manaus, sobrecarregando a rede hospitalar, remédio para piolhos está sendo distribuído de forma indiscriminada nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital amazonense. Em outubro do ano passado, uma série de reportagens da Agência Pública escancarou a utilização de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 por prefeituras de todo o país. Relembre

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